sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

REDE NA VARANDA



Dia calmo sem muito o que fazer, na varanda da casa uma rede me convida a deitar, um convite sem recusa e ali deitei para relaxar
A brisa mansa balançava a rede bem devagar e ali deitado no meu silêncio ouço o canto dos pássaros e lá distante no céu vejo as nuvens se movimentarem em formações que provocam a imaginação.
Tento até pensar em alguma coisa, planejar o dia, a semana, lembrar do dia anterior , mas nada vem a cabeça,pois aquela rede é como se fosse um anestesiante, como diz a juventude: " Só curtição".
Desligar um pouco da vida é oportunidade de fazer uma faxina cerebral, uma limpa de tudo que tem de pertubador e ruím por dentro. 
O que é mais legal desta limpeza é que na rede isso acontece natural, suave e repentinamente se fica mais leve.
Precisamos da calma de um rede para enfrentarmos a turbulência deste mundo que gira em 24 horas numa transformação  do dia para a noite e tudo acontece de bom e de ruím e nós no meio deste turbilhão.
Toda casa casa deveria ter uma varana e uma rede.

Aldeir Ferraz

LiSTA DE VERIFICAÇÃO DA VIDA

Chega um momento da vida que temos sensações ruíns, como se tudo não tivesse bem.
Um problema domina todo seu estado de espírito e aí vem o baixo astral.
Talvez pela nossa incapacidade de separar as coisas.
Posso ter problema financeiro e ao mesmo tempo estar de bem com o próximo?
Posso ficar doente e ao mesmo tempo  ter tranquilidade e bom humor?
Parece que somos conectados a tudo e se algo não vai bem o resto é afetado.
Não é fácil, mas e se fizermos o exercicio contrário do normal ? Ou seja a maior parte boa dentro de nós contaminasse o que não estivesse legal.
Claro que não resolve, mas talvez seja uma forma de fortalecimento, aliviando os pesos sobre nós.
Não existe vida sem altos e baixos, sempre é bom buscarmos o equilibrio.

Aldeir Ferraz

domingo, 26 de janeiro de 2020

CIDADES RESILIENTES

Após uma tempestade, o rastro de destruição deixado na cidade nos choca.
Grandes eventos naturais por mais que nos traga as surpresas e temores é algo comum de que aconteçam.
A afirmação de que nunca aconteceu ou não acontecerá é uma falsa certeza.
Me arrisco a dizer também que mesmo fazendo tudo direito e com harmonia junto ao meio ambiente, haverá sim momentos de fúria da natureza.
A mãe terra sempre nos fará lembrar quem é ela, nunca devemos esquecer.
Mais de oitenta por cento das pessoas vivem nas cidades e sofrem sempre em tempos de chuvas.
É preciso se adaptar para que haja superação da adversidade.
Não se pode desviar um rio, mas podemos respeitar suas margens, não se faz contruções em encostas sem que um dia uma tragédia venha, mas podemos trabalhar boas práticas de construções de moradias.
A cidade resiliente vai se recuperando a cada destruição,mas sempre buscando se adaptar com sabedoria e força para o próximo evento adverso.
 O que nós habitantes das cidades precisamos, é ouvir a voz deste grande espírito da terra em uma busca harmônica que nos faça viver em paz.
Que estejamos mais bem preparados.

Aldeir Ferraz

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

☔ CHUVA

Amanhece e um barulho na janela me desperta,veio como festa, o momento é dela, viva a chuva.
A chuva é um verdadeiro tempo de celebração da natureza.
Desde as gotas que caem na minha janela, empurradas pelo vento, o barulho suave que me desperta e o baile das gotas que de forma sincronizada molham a varanda, me levam a admirar este espetáculo.
Os pássaros que se abrigam debaixo das folhas das árvores, cantando  e os que se arriscam no ar, fazendo vôos rasantes, festejam este amanhecer chuvoso.
O Sol, ciumento com tanta alegria, nem deu as caras e o tempo com coloração cinza não é de tristeza, mas de grande sintonia com uma paz natural.
As árvores dançam em meio a chuvarada e a terra exala um perfume que nos chega com um frescor inconfundível.
Na rua, já podemos ver sombrinhas coloridas e os passos apressados da nossa gente, enfim.
 Momentos assim, também devemos aproveitar e nada como ficar na varanda de casa curtindo tudo com um delicioso café e um saboroso bolinho de chuva.
Bom dia alegre de chuva!

Aldeir Ferraz

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

ELIAS E A VOLTA AO MUNDO

Elias era um jovem como todos os outros da sua época, sempre naquela fase de encontrar um rumo ou de se encontrar.
Resolveu o que queria, animado anunciou que iria dar a volta ao mundo.
Com uma mochila no ombro partiu a caminho.
Com o gás jovial, andou e andou por dias, sem parar, sem olhar pra nada, apenas com sua vontade de alcançar o que escolheu.
O caminho tornou-se penoso, seus pés com bolhas e a canseira já lhe cobria o corpo.
Então o desânimo lhe bateu no espírito e um tombo na estrada lhe fez torcer o pé.
Sentado à beira da estrada, debaixo de uma árvore, começou a chorar.
Elias se deprimiu pela jornada difícil e com a queda, tudo ficou impossível.
Já não conseguia ter a disposição de antes, nada mais importava, ficou ali com suas coisas e sua dor.
Sujo, de barba e cabelo por fazer, definitivamente não era o que sempre foi.
Numa manhã, passou por ele um velho com uma bengala caminhando lentamente e Elias lhe chamou.
O velho de nome Felicio parou e de forma feliz perguntou o que queria.
Elias indagou para onde iria e Felicio respondeu que estava na missão de sua vida, dar a volta ao mundo.
Elias lhe disse que era impossível fazer aquilo, pois ele mesmo desanimou.
Felicio disse que não importava em chegar, mas de seguir a caminho e aproveitar o que o caminho tem a oferecer.
Dores e alegrias é o que mais se encontra nas voltas deste mundo e Elias compreendeu aquilo.
Ergueu se da sombra em que estava, pegou um pedaço de pau para se escorar e seguiu com Felicio para dar a sua volta ao mundo.
E o caminho do mundo é assim, o que faz a diferença é como caminhamos e com quem caminhamos nele.


Aldeir Ferraz

Cidade dos Meninos e das Meninas

Lá longe, bem distante daqui, em um planeta sem nome, existia uma pequena cidade que era governada por meninos e meninas.
Nesta cidade, tudo era alegria em todo lugar que havia.
Não tinha carros, apenas bicicletas, carrinhos de bebês, velocipides e muita criança correndo daqui para ali.
Parquinhos tinham aos montes, com escorregador, balanço, pula pula e montes de areia.
Nos montes de areia a criatividade corria a solta, pois os pequenos e suas grandes imaginações erguiam castelos e montanhas.
Em cada esquina, pra quem quisesse, pipoca e algodão doce não faltava.
Todos os postes eram coloridos e com marca das mãozinhas dos pequenos cidadãos.
A cada banco das praças, pessoas de cabelos brancos, cercados de pequenos olhares atentos, contavam lindas histórias.
Nas ruas de chão batido, a poeira se levantava com o bando de cavaleirinhos em cavalos de pau.
Nas padarias, doces e chocolates deliciosos enchiam de vontade a todos que namoravam as vitrines.
O moço do picolé, sempre ali na sombra da amendoeira, servia a garotada com sabores mil. Tinha picolé de morango, uva, goiaba, napolitano, leite...
A noite toda a cidade adormecia, protegida por muitos anjos e por uma bela Lua que velava as casinhas, onde cada criança, com belos sonhos dormia.

Aldeir Ferraz

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Consumidos

Como se diz por aí, somos feitos de carne e osso.
E essa carne e osso vez ou outra precisa de estímulos para sobreviver.
Além da alimentação necessária, ainda fazemos uso de remédios que aparentemente nos garantem em pé.
Podemos dizer também que somos feitos de desejos e vontades.
Quando o desejo e a vontade são acionados em nossa mente, buscamos saciá-la de alguma forma.
De carne, osso, desejo e vontades, acaba que somos usados como um laboratório consumista.
Tudo é testado para que consumamos e alguém possa ter lucro com isto.
Produtos são lançados para suprir as necessidades da carne e do osso, mas é o desejo e a vontade que são trabalhados.
Muitas vezes um produto com a mesma serventia de outro é deixado  de lado pelo fato de que faltou uma propaganda.
De fato a propaganda é a alma do negócio, ou seja é a condutora do desejo e da vontade.
Hoje podemos dizer no mundo que construímos, que já não somos mais consumidores, mas sim consumidos pelo que outros nos impõem.

Aldeir Ferraz



segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Rosto

Com a câmera na mão saiu em busca da foto perfeita.
Andou por vários lugares, percorreu ruas, olhou para o céu, fitou as árvores, vislumbrou se com as cores de um pássaro.
Tudo foi registrado, mas faltava algo, uma centelha divina era seu desejo de captar.
Passando em uma praça viu sentada na escada de uma igreja uma velha senhora e logo se aproximou.
Aquela mulher tinha um rosto cheio de rugas, cada ruga parecia contar os anos que foram se passando.
 Entre as rugas haviam traços como se fossem vales, onde certamente seguiam lágrimas que por vezes desciam de seus olhos.
Os cabelos, na maior parte, brancos e castigados , mas ainda possuia alguns fios que insistiam na jovialidade lá da infância.
Não havia como deixar de notar que em sua orelha esquerda tinha um pequeno brinco, talvez tenha sido o único que ganhou em sua vida. Este brinco era muito pequeno, como aqueles que toda menina que nasce recebe de seus pais.
Os lábios dela mostravam a força que certamente tinha ao falar, gritar, rezar e até mesmo beijar o amor que um dia viveu intensamente.
Os seus olhos eram surpreendentes, pois pareciam viajar para uma longa distância, como se tentassem afastar de alguma dor ou mesmo em busca da esperança perdida.
O fotógrafo então pediu lhe a permissão de registrar sua imagem.
Ela lentamente balançou a cabeça de forma positiva.
Assim que a imagem foi resgistrada, aquela mulher especial levantou se e saiu sem nada dizer.
Por alguns segundos ainda conseguiu ver naquele olhar feminino algumas lágrimas escorrendo.
 Nosso fotógrafo ficou admirando a fotografia que fez daquele semblante que dizia mais do que mil palavras.
Virando uma esquina aquele ser divino desapareceu e não foi mais vista pela região.
A procura de sua centelha divina o artista das fotografias encontrou naquele rosto uma vida inteira e um universo em que certamente ela seguiu.

Aldeir Ferraz










sábado, 11 de janeiro de 2020

Pescaria

Final do dia de trabalho lá na comunidade de São Francisco. Zé Grilo corre pra retirar a junta de boi carreiro que puxava na carroça as espigas de milho que colheu por horas.
 Em casa tomou um banho apressado no seu chuveiro adaptado ao um balde. Trocou de roupa e pegou seu camelo, uma velha bicicleta, e partiu pra Venda do Ferreira.
A Venda do Ferreira ficava próximo a igrejinha São Francisco onde o povo mais velho estava em uma reza.
As coisas eram assim,  os jovens arredios apreciavam de longe as rezas.
Terminada a reza, dali a turma de amigos do Zé Grilo seguiram com varas de anzol para uma pescaria no córrego que passava ali próximo.
No local tinha uma ponte de madeira em cima do remanso do córrego e ali enconstaram suas bicicletas, alguns vieram na garupa de carona.
Já no escuro da noite eram iluminados com a lua cheia e uma lanterna Everedy da famosa pilha do gato.
Com um enxadão retiraram da terra, próximo a uma plantação de inhames minhocas puladeiras para servirem de iscas.
Na beira da água já iniciando a pescaria o Zé Grilo pitava um fumo de rolo soltando muita fumaça pra espantar as muriçocas.
Não tardou e já começavam a encher os embornais com fieiras de peixe.
Eram peixes de várias espécies que hoje não se vê mais.
Lambaris, os mais espertos para serem pegos,  também tinha Carás, bocarras, bagres, traíras, maria moles...
Conseguiram fisgar algumas rãs que eram hipnotizadas com a luz da lanterna.
Voltando pra casa e no fogão a lenha após limparem os bichos todos foram  fritos em uma panela de barro.
E ao som de uma viola e uma garrafa de cachaça saborearam a conquista da pescaria.
Ao fim daquela noite cada um partiu para suas casas, pois a lida de roça é todo dia e o negócio começa bem cedo.

Aldeir Ferraz



quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Uma Boa Noite

Anoitecer na roça tem seu ritual que começa com os pássaros fazendo uma barulhada nas árvores.
Em um bambuzal o bando de maritacas se ajeitam com uma confusão danada até se acalmarem e o sono chegar.
No céu o Sol toma seu rumo e um amarelão surge nas nuvens como se fosse um tapete aguardando a chegada da Lua.
A Lua surge bem brilhante com direito a São Jorge encima de um cavalo enfrentando o dragão.
O crepúsculo se completa e a noite vai chegando com as primeiras estrelas, algumas maiores do que as outras.
As estrelas no avançar da noite logo fazem sua formação, tem o cruzeiro do Sul, tem as Três Marias, tem também as solitárias com quem podemos conversar por horas.
A coruja  arregala os seus olhos em um cupinzeiro e com seu pio arrepiante cria ambiente medonho.
No brejo os sapos fazem o som de uma orquestra, enquanto os morcegos realizam vôos razantes as cegas.
As coisas não se aquientam a noite, mesmo com o lampião que se apagou com o fim do querosene, pois no rádio a pilha ainda se ouve os clássicos de Tonico e Tinoco na velha casa.
Do lado de fora um alvoroço no galinheiro, era uma gambá passando rapidamente com seus filhotes nas costas. 
Os cachorros vigilantes no comando da noite latem sem parar e são  correspondidos por outros na distante vizinhaça.
De repente um silêncio total, o sono vai chegando e com ele o cheiro do perfume das flores que rodeiam as janelas.
Da magia do real agora para magia de um belo sono com muitos sonhos, uma boa noite.

Aldeir Ferraz

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

QUINTAL

Quase não se vê mais uma casa com quintal, tudo agora se tornou cimento ou construção que ocupa todo o espaço.
Nossas casas perderam o contato com a terra, apenas existem pequenas porções nos vasos de flores ou em forma de poeira que vem pelo ar se amontoar nos móveis.
O contato com a terra no quintal trazia-nos energia e também muita imaginação, era como se fosse ali um reino encantado entre árvores frutiferas, o mato molhado, o canto e a algazarra dos pássaros.
Nossa meninice crescia aquecida pelo contato direto com a natureza que estava na porta da cozinha, também o ar era muito diferente, tinha um frescor suavizante que nos enchia de animação,principalmente quando se abria a janela do quarto.
O quintal sempre foi um ambiente democrático, tinha a horta que garantia verduras livres de agrotóxico, galinhas ciscando em busca de alimento, insetos que quase se não vê mais, como os vagalumes que iluminavam as noites em parceria com a Lua quando cheia.
As borboletas de mil cores com seus namoros barulhentos disputavam com o Beija Flor as belas flores que surgiam na primavera, claro que tinha também as cigarras anunciando a chegada da chuva e as formigas que ordeiramente seguiam para suas ocas carregando as folhas que caiam das árvores.
Laranja, manga,banana, carambola,acerola, pitanga, jamelão, tinha fruta o ano todo, em todas as estações, era muita fartura, muito mais que na quitanda da esquina.
Uma mina d´água jorrava cristalina e seguia para o pequeno córrego lá nos fundos, onde peixinhos coloridos nadavam pra lá e pra cá.
Isto que contei existia e era na cidade, não dá pra acreditar mas era sim verdade, pergunte aos que tem seus cabelos já embraquecidos, com eles irão saber muito mais e uma coisa por fim te digo, certamente não achará na internet.

Aldeir Ferraz

A VELHA AGENDA


E aconteceu comigo, isso que dá confiar inteiramente na tecnologia, entregar para um pequeno aparelho uma infinidade de informações construídas através de relacionamentos de contatos,  negociações, enfim todo um trabalho .
De repente tudo se apagou e se me perguntar como aconteceu vou dizer apenas aconteceu.
Nesta hora bate o desespero e agora o que faço e aí olho para o meu velho celular surrado de pouco valor e penso:
Agora danou, já não tinha nada nele e acabei perdendo tudo.
Fica uma lição, hora de resgatar a velha agenda que andava para baixo e pra cima, com nomes, endereços, telefones, coisa melhor não há.
As agendas eram cadernos simples que serviam para anotações e com o passar do tempo se aperfeiçoaram com capas bonitas, algumas aramadas outras não.
Muitas agendas possuíam temas como da natureza, de carros, de relacionamentos..
Sabia-se até sobre a lua, melhor tempo pra pescaria, o santo do dia, também colocávamos em dia os aniversários e até frases legais escritas nos para choques de caminhão.
E quando tinha que tirar alguém da agenda era só rabiscar 
 Um  olhar no progresso mas sem perder o tradicional, coisa de mineiro.
Vamos lá, de volta velha agenda rabiscada.

Aldeir Ferraz

A TUA FÉ TE SALVOU


Fé é uma palavra que significa confiança, crença, credibilidade, enfim um sentimento de acreditar em algo ou alguém.
O conhecimento sempre vem antes da fé,pois é através dele que passamos a enxergar o horizonte no qual queremos chegar.
Em tempos de muita informação através de várias formas ficamos sempre na dúvida em que acreditar, no que deveremos ter fé.
Podemos ter varias formas de fé e as que mais se prevalecem nos dias atuais é a egocentrista, ou seja o querer algo para si.
Não há nada demais querer algo de bom para si e acreditar que possa alcançar o que desejas,mas é preciso que a fé tenha a plenitude do todo que seja bom de fato.
Não posso querer me curar, querer ter uma boa vida se o meu próximo talvez não tenha o mesmo destino.
Um fé que temos de forma fraterna e coletiva é que trará a nossa salvação como humanos.
Se alcançou aquilo que tinha crença, não volte apenas para agradecer, mas que ajude outros  também para que possam chegar a tocar o que até então era apenas um sentimento chamado Fé.

Aldeir Ferraz

A LIBERDADE


A cada dia que se passa o tempo avança e me encontro com meu destino.
Destino é algo que todos nós temos, um dia ele nos encontra ou nós nos encontramos com ele.
Não importa que você seja, ou qual seu caminho escolhido, lá estará ele, esperando para te dar uma abraço.
O meu destino queria eu que fosse do jeito que sonho, mas não sou dono dele, aliás ninguém o domina.
Mas uma coisa tenho certeza, quando encontrar com meu destino quero ser o que desejo dele.
Quero ser liberto de tudo que me prende a tristeza e  a desesperança.
Estarei abraçado a todos os meus sonhos e voarei com a  liberdade que sempre busquei.

Aldeir Ferraz

A IRA DE DEUS

Lá do alto um reflexo nas nuvens de um Deus estarrecido e que dos seus olhos surge uma lágrima de luz diante da cruz erguida pela insanidade humana.
A cruz que impõem aos que ousam desafiar um sistema injusto que aumenta a miséria, a fome e a morte de muitos pequeninos.
Um Deus que como uma mãe vê seus filhos sem acreditar em seus descaminhos.
Apesar de seu semblante apontar o descontentamento , o seu coração reflete a confiança nos que lutam para retirar o lenho que martiriza a tantos.
E Ele vê as mãos e a consciência solidaria retirando tantos da cruz, é a gente aguerrida e de fé na crença do mundo casa de todos.
Tempos de um Deus inquieto e indignado com sua criação, quiçá possamos ver sua ira a toda essa casta careta e covarde, um dia haverão de sofrer por seus atos.
Eis a cruz dos mártires e dos torturados.
Aldeir Ferraz

Uma Coça Ninguém Esquece



A vida de açougueiro não é fácil, acorda cedo e recebe o boi e o porco abatido e logo tem que desossá-los e separar todas as peças de carne que devem ficar prontas para freguesia. 
Com as portas abertas do açougue já tem que estar a postos com a roupa limpa  para atender a todos e olha que tudo tem de ficar limpinho antes,durante e depois.
Esta é a rotina do Tiãozinho açougueiro, sujeito simples, boa pinta e trabalhador.
Neste ritimo de vida, claro que o nosso Tiãozinho acaba tomando  umas depois do expediente e é desde cerveja, passando por uma cachaça, indo nos goles de uma catuaba, até leite de onça o caboclo encara, sem contar os torresminhos engordurados.
O boteco do Pão com Salame é o  que ele frequenta, onde encontra  muitos amigos e colegas de trabalho e lá além dos goles, rola os bate papos e brincadeiras.
E brincadeira a turma gosta e nosso açougueiro é meio que o chefe da farra.
Mas um dia uma brincadeira quase que deu B.O. , pois escutem essa:
Já era noite  e Tiãozinho tinha ido em casa tomar um banho depois do termino do trabalho com a promessa de voltar pra molhar a palavra com os amigos. Ele se aprontou rápido e retornou de moto e quase chegando para o encontro avistou enfrente ao boteco do Pão Com Salame, o fusca que estava com portas abertas  do seu compadre Geraldinho que também o aguardava na cachaçada.
Resolveu então aprontar uma, estacionou sua moto bem afastada do boteco e  como estava frio, ele vestia uma blusa com capuz e logo cobriu a cabeça seguindo em direção ao carro e  como um ladrão entrou rapidamente para dentro do fusca, mas aí que danou, alguém lá do boteco viu e  deu o grito:
- Pega ladrão, tão roubando o fusca do Geraldinho!
E aí foi a correria pra cima daquele homem com capuz que não teve tempo de falar um "a", pois o Geraldinho juntou de gravata o falso miliante que estava com o rosto coberto e coitado nem bufar conseguia.
E toma chute, toma pisão e soco de todos ´até que já caído no chão o seu capuz se desprendeu da cabeça revelando o Tiaõzinho açougueiro.
As primeiras palavras depois da coça e folego liberado foi:
- Oh gente era brincadeira, pqp!
Os amigos então viram o mal entendido e lhe pediram desculpas pelo mal jeito e tranco que ele levou e um deles disse:
- Tiãozinho toma uma cachaça pra sarar!
E o nosso surrado apenas falou:
- Me dá é uma água, estou tremendo até agora, nunca mais brinco na minha vida.
E assim foi aquela noite, um coro pra ninguém botar defeito e muita cachaça pra rir daquela trapalhada.
Aldeir Ferraz

A CHEGADA DOS ETs


Sejam bem vindos, eu acho.
A chegada de vocês de fato é muito esperada a décadas, houve muita especulação ao longo dos anos sobre como e onde estariam pousando.
Mas queria alertar que o momento não é muito adequado pois a intolerância tá muito grande, o ódio, o racismo e o preconceito são ondas da vez, inclusive tem muita gente com estes pensamentos comandando o poder.
Queriamos mostrar um mundo diferente, onde o amor é a lei maior, mas tá complicado,apesar de que existem muitos que estão lutando para que tenhamos um espírito fraterno.
Essa gente que tem lutado para que haja mais amor, acreditem caros Ets, estão sendo perseguidas, presas e assassinadas.
Sinceramente se querem um conselho adiem esta visita, não tem como garantir a hospitalidade, nem tampouco criarmos laços de parceria.
A vida aqui beira a irracionalidade, mas estamos lutando para melhorar, espero que isso mude.
Adiem para daqui um tempo o contato, tenho certeza que haverá tempos melhores.
Saudações de um terráqueo.
Aldeir Ferraz

A CASA



O mato cobre o telhado e o entorno, as portas e janelas de madeira fechadas não impedem que pequenos largatos façam dali de abrigo. As paredes brancas de cal se preservam dos anos, décadas daquela pequena casa.
O terreiro coberto por uma suave grama esconde o passado de vida daquele lugar.
Ali sem duvidas era o antônimo do silêncio que hoje reina.
Mas, ainda dá para sentir os cheiros, ouvir o som e ver os movimentos dos dias cheios de intensidade.
As crianças que brincavam no terreiro junto as galinhas, cabritos, porquinhos e também do cachorro de pele esbranquiçada que latia sem parar mostrando sua autoridade de quem zelava aquele lar.
Pássaros se revezavam ao chão sempre cantarolando e disputando os farelos arremessados da janela.
Lá na cozinha a fumaça que saia da chaminé do fogão a lenha também exalava os cheiros das deliciosas comidas feitas pela mãe da meninada lá do terreiro.
Ao final do dia chegava o pai que se ajuntava com a mãe e filhos na porta com um violão e faziam serenata para lua que se avistava.
Esta rotina gostosa com o passar do tempo foi desaparecendo, o pai foi pra junto de Deus. 
A mãe e os filhos já crescidos partiram pra cidade deixando para trás o o cachorro zelador que de tristeza seguiu por uma estrada e desapareceu.
Os pássaros já não desciam mais das árvores e o silêncio tomou conta daquele lugar.
A velha casa em meio ao nevoeiro das manhãs tornou se apenas um retrato de saudades de um tempo que se perdeu e que não volta mais.

Aldeir Ferraz

A CARTA


Caneta na mão e uma folha branca na mesa, estava tudo pronto para escrever aquela carta, mas como começar e o que expressar naquele espaço vazio.
Não que estivesse vazio os pensamentos, mas faltava um incentivo para aflorar a inspiração, fazer com que, como nas andanças  as palavras surgissem pelo caminho.
Uma música clássica , uma de rock, uma da MPB coloquei para ouvir e as coisas começaram a se ordenar na cabeça, agora sai.
Mas ainda faltava algo, a garganta pedia uma bebida e lá fui na geladeira, encontrei um vinho e logo levei para a mesa onde a folha em branco ainda esperava por mm.
No quarto a luz um pouco fraca e uma borboleta ou inseto parecido se debatia na lâmpada e uma pequena aranha já se aproximava dela para devorá-la.
Resolvi abrir a janela para  deixar a brisa da noite ajudar na minha tarefa e eis que vejo  a lua toda cheia e estrelas brilhando em um céu limpo de nuvens.
Fiquei ali diante daquela imagem e com um copo de vinho na mão entrei em uma viagem galáctica, pensando nas vidas que possam existir em outros planetas.
De repente o relógio cuco anuncia mais uma hora que vai passando, então olhei para a minha cama e como ela me chamasse fui ao seu encontro.
Ali deitado, com a janela aberta, a lua e as estrelas na minha frente , o copo já com apenas algumas gotas de vinho , a aranha perto da lâmpada já abocanhando a borboleta e  a caneta com o papel em branco na mesa, dormi.
Boa Noite
Aldeir Ferraz

A ÁRVORE LIBERDADE


Antes de morrer , Sr Nico chama seu neto Lucas na varanda da casa para lhe dar alguns conselhos.
Debilitado, sentado em um cadeira de rodas ainda possuia força em sua voz e com o neto ao colo apontou em direção a árvore que sombreava o quintal:
- Meu neto veja esta bela árvore, foi plantada quando seu pai nasceu e eu juntamente com sua falecida vó e vários amigos cuidamos dela, cuide você também.
Após esta fala, dias depois o velho faleceu e curioso Lucas quis saber mais sobre o que avô havia lhe recomendado.
Aquela grande árvore havia sido batizada com o nome de "LiBERDADE" contava sua Tia Maria, demorou muito tempo pra crescer, foi preciso combater as pragas, regar sempre, de vez em quando era podada, mas se tornou o que é hoje.
Debaixo dela reuníamos com amigos, celebrávamos festas, saboreávamos suas frutas e até registrávamos acontecimentos importantes,em seu tronco uma marca de coração está Val e José naquela época namorados hoje seus pais.
Havia muita harmonia sob sua copa, até missas e curso de alfabetização fizemos para adultos que sonhavam ler e escrever.
Lucas entendeu então que a Liberdade era importante não só pra família, mas para muita gente que precisa de um espaço acolhedor .
Feliz com a história e com a missão dada por seu avô de defender a liberdade, Lucas crescia.
Mas um dia ao retornar da escola encontrou a Liberdade toda cortada com seus troncos já em um caminhão.
Em prantos foi em direção ao seu pai que já se despedia do caminhoneiro e logo perguntou:
-Pai porque destruiu nossa liberdade.
-Filho ela estava sujando muito a nossa calçada com folhas secas e me dava muita amolação.
Triste o filho lhe disse:
- Pai, você nunca ouviu os conselhos do Vô de que a Liberdade sempre foi importante pra nossas vidas e para tê-la sempre, era preciso cuidar, ter paciência e defendê-la, agora com um machado um algoz a derrubou, destruiu nossa história e fez do nosso futuro mais infeliz.
Como a árvore liberdade, devemos sempre preservar nossas conquistas não vamos deixar que um algoz com um machado corte aquilo que plantamos á anos e lutamos tanto que é a sombra da democracia.
Liberdade sempre ao Brasil 
Aldeir Ferraz

2019?

2019?
Aqui estou em uma cela de um presidio, não sei o dia que é, mas o ano sim 2019.
Sou professor de história , casado e tenho 2 filhos e junto comigo neste pequeno espaço tem várias pessoas, alguns estudantes, gente de movimento social, um padre, um pastor, outros colegas de profissão.
Cada um com uma história, mas todos nós enquadrados na lei de segurança nacional.
A minha história e porque parei aqui deu se pelo fato de em uma aula sobre o Brasil mostrei para os meus alunos o que aconteceu em 1964 baseado em fatos dos livros. Alguém na sala me denunciou por uma tal tentativa de ideologia comunista. Não tive defesa até hoje pois nem advogado veio aqui.
Tem um rapaz estudante de medicina que questionou uma matéria imposta pelo MEC , a cura gay. Está aqui todo machucado.
Um professor de geografia me relatou que fez uma defesa da Amazônia hoje entregue aos americanos e foi torturado, ele tá pirado, só fala em fazer uma longa viagem , o suicídio.
Um pedagogo tinha em sua casa livros de Paulo Freire e trouxeram pra cá.
Tem relatos do padre e do pastor de gente desaparecida e que alguns deputados tem denunciado no exterior o que acontece aqui, pois a imprensa não se manifesta e os bons jornalistas foram demitidos e alguns sumiram.
Aqui a noite ouvimos vozes de terror e horas de silêncio funebre, não sei qual meu destino, mas de dia e de noite fico pensando em meus filhos, por eles ainda tenho esperança.
Sei aqui pelos carcereiros que o número do desemprego aumentou, a miséria cresceu e há também muitos negros, mulheres e gays sendo mortos por milícias.
Fico imaginando se lá em 2018 tivessemos vencido o ódio não estariamos nesta situação.
Tivesse aqui uma máquina do tempo voltaria atrás e pediria por clemência e por amor a Deus que não cometam o erro de serem cúmplices da tragédia que o país e que muitos de nós estamos vivendo.
Uma decisão de amor muda esta história.
Aldeir Ferraz

CARCARÁ

Um velho amigo me disse:
"Eita que esse Brasil virou roça queimada!"
Fiquei pensando sobre o que disse e de fato ele tem razão quando me explicou que na roça queimada todos os bichos que vivem no meio das cinzas e da terra ficam fragilizados e expostos ao Carcará.
Existe uma música que diz,Carcará é um bicho que avoa que nem avião,é um pássaro malvado tem o bico volteado que nem gavião.
E lá do alto o carcará escolhe suas presas fragilizadas no meio da destruição e com sua garra as pegam e as matam e comem.
Somos os bichos no meio da terra arrasada e estamos sendo devorados a cada dia.
Devorados pelo desemprego, pela miséria, pela falta de assistência a saúde e educação de qualidade.
Carcará é malvado, é valentão faz parte do alto e só desce no chão pra saciar sua fome.
#Lularesiste
Aldeir Ferraz

Lágrima


Dizem que uma lágrima sintetiza muito daquilo que somos;
Seja a  que escorre em um rosto de pele liza como uma pétala, seja no  rosto já cheio de rugas que não esconde a idade.
Na verdade nos revelamos humanos, aliás mais do que humanos, nos revelamos como alma, como centelha de algo divino.
Quando dos olhos que se apertam surgem  uma onda que encharca o rosto, tudo se expõe, mesmo os que tem dureza de coração.
A lágrima se revela na descrença em meio a um caminho árduo, quando a esperança se faz distanciar, ela te alivia, te  limpa da quase cegueira e segues  adiante;
A lágrima desperta  nos amores que se foram, dos amores que  findaram, dos amores que apenas saudades deixaram;
A lágrima emerge da dor de quem luta em um leito contra a morte, de quem já não encontra na terra o consolo e que espera a luz que trará a eternidade, a paz;
A lágrima também surge  na alegria de uma conquista, de uma vitória, da inocência de  vislumbrar  uma flor.
Elas caem sim, as lágrimas correm e chegam a desaparecer em um lenço ou na mão tremula  e aflita.
Mas quando tocados somos com uma mão amiga que seca o rosto, nossa alma se aquieta, se consola e uma paz surge.
 E toda lágrima paralisada por uma mão amiga é como um arco íris espiritual, de um lado o espirito acolhido e do outro lado no final o espirito  acolhedor.

Aldeir Ferraz

Lápide

Aqui Jaz 
Alguém que já foi e aqui só habita agora como luz

Fui plantado nesta terra , mas não erguerei  como uma árvore, não farei  sombras e nem produzirei  frutos.
Meus passos não serão mais vistos e meu corpo desaparecerá com o tempo
Fica porém a memória entre os vivos daquilo  de bom e belo que fui
O que  não pude ser melhor ou  algo de mal que fiz, outras vidas tivesse quem sabe os erros seriam menores
A Alma agora voa , voa para um infinito que não sei onde chegar
Vejo a luz , vejo os que não via mais , vejo vocês
Até a eternidade é tão curto o  caminho e o caminho da eternidade é tão extenso , é tão infinito é tão bom

Aldeir Ferraz

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Enterro de Palhaço

Já pequeno se descobriu como palhaço, fazia o encanto dos amigos e parentes, sempre era convidado para as festas e animava onde chegava.
Resolveu ganhar a vida em um circo, viajou muito, mas a saudade o fez voltar e na sua terrinha ficou com seu trabalho de levar alegria principalmente para a meninada.
Ficava nas portas de lojas, nos aniversários e também apresentava peças teatrais nas escolas, sempre levando a graça que sabia fazer naturalmente.
Apesar de muito trabalho não tinha uma boa renda e sua vida era muito simples, andava em um carrinho velho e sua casa era de telhado  e portas fechadas com  taramela.
Durante décadas se vestiu de palhaço a ponto de quase ninguém reconhecê lo sem as pinturas do rosto.
Um dia na rua se sentiu  mal  e o coração parou, estava sem pintura e documento. Quem o socorreu levou para o hospital como indigente, custaram a descobrir quem era.
No seu velório pintaram seu rosto e lhe colocaram sua roupa de palhaço, foi a sua última apresentação em público.
Pela primeira vez sua platéia não dava gargalhadas, as lágrimas era regra entre os presentes.
Foi sepultado e na lápide escreveram:
" Aqui Jaz Alguém Que Está na Graça de Deus, Pelas Graças que nos Concedeu."
Quando morre um palhaço, morre um pouco da escassa alegria que ainda tem entre nós.

Aldeir Ferraz

Caminhos e Sonhos

                                 


              Venho lá de trás, pequeno, tão pequeno que do colo de mãe precisei e no tempo que avançou deixei os abraços e o calor do lar e pus-me a caminhar.
               Descalço percorri por muitos lugares e encontrei sombras,mas também aridez,talvez isso me fez o que sou hoje, um caminhante de sonhos.
                Um caminhante já mais se cansa, apenas suspira com as dores, se alegra com os horizontes e sonha, sonha, sonha com a paz que deseja alcançar.
                 Uma paz inquietante que não deseja apenas para si,mas para todos que sua vista possa alcançar e também além do que não possa alcançar.
                E na vida sigo e vivo a cada dia, cada momento sempre com uma espera confiante até chegar ao fim da jornada onde ao olhar o que passou poderei abrir meu coração e lá encontrar todas as pegadas dos que caminharam comigo.

Aldeir Ferraz

                  

Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...