terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

JESUS DA GENTE

E o carnaval contribuiu mais uma vez para refletirmos sobre a vida que temos.
A Escola de Samba da Mangueira produziu um espetáculo que mexeu com todos.
Protestos e saudações sobre o desfile se revezaram nas redes sociais e rodas de conversas.
Tenho a opinião de que nunca tivemos tão próximos de juntar a divindade com a humanidade.
Ver um Cristo na imagem de um moleque do morro, no rosto de uma mulher negra, representado em um indígena e sofrendo toda sorte de preconceito e opressão, acendeu a luz da mesma humanidade que somos, desde os longínquos tempos do Império romano.
A diferença dos tempos de hoje é que temos uma crença cristã que nos impõem condições de vivência.
Só que estas condições são estabelecidas de cima pra baixo, do altar para os bancos onde estamos ajoelhados.
Aceitamos um Jesus deles e o Jesus da gente continua no nosso dia a dia.
O dia a dia do desemprego, da miséria, da fome, do extermínio...
A religião deveria ter essa missão, revelar o Cristo de verdade e tirar a trave que fecha nossos olhares as mazelas sociais.
Destruir os altares, ir para realidade da vida do povo é reconhecer o divino no humano.
Apesar dos protestos conservadores, valeu a mensagem e que me fez lembrar o Cristo de Joãozinho Trinta, mesmo proibido olhaí por nós.

Aldeir Ferraz 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

APERTOS DA MADRUGADA

Um dia se encerra, já quase noite estou em casa com a família, depois de muito trabalho.
Dentro de casa é aquela peleja, cozinha e sala tudo banguçado, também, não é por menos, quem tem um vulcazinho sabe como as coisas funcionam.
A esposa prepara o jantar e tento ajeitar as coisas, quase em vão.
Banho tomado, jantar saboreado, um tempo na TV e internet e cama, todos, aliás quase todos, êta canseira.
O silêncio dentro de casa,enfim começa, mas do lado de fora ainda persiste a turma boêmia.
O sono já começa a relaxar o corpo que se agitou, mas de súbito o sossego é interrompido.
Algumas dores e mal estar me levam a pertubação e sem lugar para ficar.
Vou ao banheiro, vou a cozinha, vou pra sala e a dor aumentando e junto calafrios.
Minha esposa pergunta se estou bem e como homem desleixado com a saúde respondo de forma dolorida que sim.
Vou a geladeira e pego um remédio que longo tomo e nada de fazer efeito.
Nessa hora dá pra pensar em tudo, vou pra janela, olho para o céu e penso será que São Pedro tá me chamando?
Vou no google para descobrir o que acontece ( não façam isso), corro para banheiro e ligo o chuveiro e tudo de ruím que estava dentro de mim sai para fora.
Chego a uma conclusão, vou parar de jantar, acho que na minha idade não faz bem.
Por fim, já ouvindo o galo cantar, resolvi escrever.
Que susto, fiquei pensando que nesta noite não escreveria mais, apenas quem sabe algumas psicografias.

Aldeir Ferraz

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Agouros

Final de tarde, e o Sol já toma seu caminho, da roça a turma se recolhe de mais um dia de lida.
Na estrada em rumo pra casa, numa árvore, em galho seco, um piado de gavião arrepiou a todos.
Naquele momento uma certeza bateu no cumpadre Zé, um homem antigo da região:
Gavião que pia é velório na certa que teria.
Cumpadre Zé contava que os agouros da natureza feito por gaviões, garrinchas, corvos era o aviso da partida de alguém.
E essa profecia do pássaro de fato realizou, Tia Fia, deixava o mundo, depois de quase cem anos de vida.
Apesar da idade da falecida, os agouros alertavam também para a morte de muita gente nova.
Assustados com isso chamaram a benzedeira da região, Dona Maria, que era muito querida, pois até parto fazia.
Dona Maria organzou uma novena e de casa em casa com suas orações e simpátias da morte protegia os que com fé a seguia.
A cada terreiro que chegava, Dona Maria riscava uma cruz no chão e bem no meio enterrava uma faca.
Os pios mudaram de tom, gavião já não acertava uma, as mortes cessaram.
Aquele povo que tinha velório toda semana já estavam protegidos.
Fé e crença nos cercam ao longo do tempo, um mistério que não se explica,mas os testemunhos destas histórias estão por aí sendo contados.

Aldeir Ferraz

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

DEDO MINDINHO DO MEU PÉ

Resolvi escrever sobre o meu dedo mindinho do pé.
Nos últimos dias como ele tem sofrido e em consequência até minha alma também.
Não sei se acontece com você, mas comigo é direto, vivo acertando ele na quina da parede ou de móveis que encontro na minha frente.
A dor é impressionante, chega num ponto de que vejo a minha Vó pela greta, estrelas de dia e passarinho cantando.
Dá muita dó dele, tá muito castigado.
Tento até proteger, mas parece perseguição, tem gente que sem querer querendo acaba dando uma pisada e aí dana tudo.
Todo cuidado é pouco, a coisa é muita sofrida, por isso se alguém tiver um santo protetor de dedo mindinho, me avisa, preciso de fazer umas orações.

Aldeir Ferraz

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

CAFÉ

Dia de chuva fina, a cama não nos encoraja a levantar, o despertador trémula no chão e os olhos em um esforço descomunal se abrem, mas logo se fecham.
Tá difícil enfrentar o dia, procuro pelo chinelo e o danado está bem debaixo da cama.  Como que foi parar ali? Agacho-me para buscá-lo e vem a fisgada na coluna.
Me arrastando vou ao banheiro, a água tava gelada, molhei o rosto e o cabelo, escovei os dentes e nada de me animar.
Roupa trocada e da janela vejo a rua onde terei que caminhar para o trabalho, êta sofrimento.
Quando tudo confluia para um péssimo dia, eis que um cheiro me agita.
O café que estava no coador pendurado em um mancebo e logo abaixo um caneco, recebia uma água fervida.
A vida naquele momento mudou, peguei logo uma xícara e fui curtir o sabor daquela bela bebida.
Saí de casa animado e disposto a enfrentar o dia,consegui.
Nada como um café para te dar energia de manhã, claro que também durante o trabalho ajuda bem.
E viva o café.

Aldeir Ferraz

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

CONFISSÃO DO TEMPO

CONFESSO QUE NÃO ENVELHECI
Confesso que após 48 anos passados desde o dia que nasci, ainda não envelheci.
Alguns cabelos brancos surgiram, a pele já não é  mais lisa, as vistas necessitam de óculos e tenho me cansado com mais frequência que antes, mas tudo isso que acontece com meu corpo não tem o mesmo segmento com meu espírito.
Dentro de mim ainda tem a criança que faz graça para que outros sintam graça, aquele adolescente que tenta encontrar o seu caminho, o jovem que sonha um mundo melhor correndo atrás das utopias e imagina viver feliz para sempre com seu amor.
A desconexão do meu corpo com meu espírito me torna distante do real e isso hora me traz lágrimas, hora me leva aos sorrisos espontâneos.
Um dia talvez o meu espírito encontrará com o corpo que envelhece, mas vai ter muito conflito.
Que vença minha alma , meu espírito resistente que não aceita se envelhecer no tempo.
Aldeir Ferraz

domingo, 9 de fevereiro de 2020

MEIO DA VIDA

Meu signo é Aquário, no dia 10 de fevereiro nasci para este mundo e o tempo avança.
Já estou distante do início e mais próximo do fim.
Considero que estou no meio da vida, em pleno turbulhão que é o tempo adulto.
Tudo nesta fase tem seus pesos, seja na saúde, na relação humana e também no espiritual.
Os rótulos começam a deixar de ter a sua importância e a busca da essência torna-se primordial.
Os sonhos ainda perduram, teimosos que são, ainda imagino alcançá-los.
Dizem que a experiência do tempo nos traz as certezas, mas me vejo como adolescente em uma eterna busca do caminho a seguir.
No meio da vida dedico ao passado um espaço especial.
Os fins de noite, no silêncio, diante das estrelas, busco me reviver na memória, tento me eternizar.
E a vida é isso, celebrar as estações que vão passando, uma por uma, até onde a nossa missão se encerrar.

Aldeir Ferraz

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

OLHAR QUE NOS ENSINA

Aprendi muito da vida, aprendi muito com meus mestres, aprendi muito com o tempo.
Todos os dias aprendemos alguma coisa e isso nos faz diferentes a cada momento.
Uma coisa que aprendi e tem me tornado cada vez mais diferente é que palavras ditas são menos poderosas que um olhar que se lança ao longe.
Podemos falar que estamos do lado de alguém que sofre, mas se não olharmos o sofrimento do outro, jamais se moveremos em solidariedade.
O olhar faz balançar a alma, faz com que se movimente em direção ou podemos dizer que nos faz ter atitude.
Palavras apenas se dispersam no vento, some na insignificância para quem precisa de nós.
Usar as palavras com um olhar da alma sempre nos fará diferentes em um mundo que cada vez mais caminha para indiferença.

Aldeir Ferraz

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

QUEM CANTA SEUS MALES ESPANTA

Não sou "doutor de curar doença alguma", tampouco ousaria dar qualquer tipo de receita, mas gosto muito de falar da forma como muita gente se vira.
Lá perto de casa, por exemplo, ouço de manhã, bem cedo, uma mulher que passa cantando e gritando, acordando a todos, a Lú é pura alegria.
Poderia a Lú ser pura alegria no perrengue que ela vive?
Talvez chegaria a conclusão, se entendido fosse, que a maioria dos miseráveis que sobrevivem na pobreza, usam tarja preta.
O acesso a tratamentos de alguma doença, seja que surge no corpo e vai para o espírito ou vice versa, não é para qualquer um.
Por isso admiro quem constrói a alternativa de espantar os seus males da vida.
Cantar, gritar, vibrar, tira certamente tudo o que é coisa ruim que tá pesando.
Canta Lú, Viva Lú!

Aldeir Ferraz

domingo, 2 de fevereiro de 2020

MÁGICO

No princípio tudo é especial, os olhares, os toques, os abraços...
O eterno torna-se real, pois ali estão duas pessoas que se desafiaram diante da vida para que juntos caminhassem.
O calor dos corpos era produzido intensamente somente no aproximar,  quando precisavam ficar distantes uma ânsia tomava conta e só se dissapava com reencontro.
Ah! Como era bom os reencontros depois de um dia longe, tudo se tornava vulcanico.
Os abraços, os beijos, nada, nada dava conta para que se contivessem.
Mágico, de fato é mágico a paixão de dois amantes deste mundo.
Dizem que ela acaba, digo que adormece.
E ela sempre acorda quando sentimos um cheiro bom, um abraço, um beijo e uma recordação.
Que possamos sempre ressucitar nossa querência pelo outro que um dia passou a fazer parte da sua história de vida.
Que velho se torne o calor dos primeiros momentos, isso é eternidade.

Aldeir Ferraz

Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...