quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

2019?

2019?
Aqui estou em uma cela de um presidio, não sei o dia que é, mas o ano sim 2019.
Sou professor de história , casado e tenho 2 filhos e junto comigo neste pequeno espaço tem várias pessoas, alguns estudantes, gente de movimento social, um padre, um pastor, outros colegas de profissão.
Cada um com uma história, mas todos nós enquadrados na lei de segurança nacional.
A minha história e porque parei aqui deu se pelo fato de em uma aula sobre o Brasil mostrei para os meus alunos o que aconteceu em 1964 baseado em fatos dos livros. Alguém na sala me denunciou por uma tal tentativa de ideologia comunista. Não tive defesa até hoje pois nem advogado veio aqui.
Tem um rapaz estudante de medicina que questionou uma matéria imposta pelo MEC , a cura gay. Está aqui todo machucado.
Um professor de geografia me relatou que fez uma defesa da Amazônia hoje entregue aos americanos e foi torturado, ele tá pirado, só fala em fazer uma longa viagem , o suicídio.
Um pedagogo tinha em sua casa livros de Paulo Freire e trouxeram pra cá.
Tem relatos do padre e do pastor de gente desaparecida e que alguns deputados tem denunciado no exterior o que acontece aqui, pois a imprensa não se manifesta e os bons jornalistas foram demitidos e alguns sumiram.
Aqui a noite ouvimos vozes de terror e horas de silêncio funebre, não sei qual meu destino, mas de dia e de noite fico pensando em meus filhos, por eles ainda tenho esperança.
Sei aqui pelos carcereiros que o número do desemprego aumentou, a miséria cresceu e há também muitos negros, mulheres e gays sendo mortos por milícias.
Fico imaginando se lá em 2018 tivessemos vencido o ódio não estariamos nesta situação.
Tivesse aqui uma máquina do tempo voltaria atrás e pediria por clemência e por amor a Deus que não cometam o erro de serem cúmplices da tragédia que o país e que muitos de nós estamos vivendo.
Uma decisão de amor muda esta história.
Aldeir Ferraz

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