domingo, 31 de julho de 2022

O Quilo Bem Pesado


Quase todo mundo tem o seu açougueiro de preferência, afinal de contas quem não quer na sua refeição ou no churrasco, aquele apetitoso pedaço de carne.

Sem a ajuda de um bom profissional, certamente você vai passar raiva e estragar o belo momento de se deliciar com um bom tira gosto.

O ritual de ir fazer as compras em algum açougue é sagrado, primeiro olha-se as peças de carne na vitrine ou ainda, caso chegue bem cedo, apreciar a turma da desossa cortando o porco e o boi pendurados por ganchos em uma barra de ferro.

Para disfarçar o desconhecimento de cada corte de carne, geralmente arriscamos alguma pergunta:

“ - Tem patinho, tem chã de dentro, chã de fora, músculo, cupim, pernil, costela, tem contra filé, a picanha tá boa…”

O açougueiro, esperto, já nota o nosso desconhecimento, pois tudo está exposto e de cara já sabe, esse aí vai comprar confiando no que eu disser.

Para amarrar mais o freguês, faz a pergunta fatal

“- Você quer com gordura ou sem.”

Nesta hora vem a empolgação e começamos a viajar na imaginação daquela carne bem assada, nossa!

O açougueiro pega a peça de carne e começa o preparo, cortando os bifes, tirando as pelancas, garantindo a gordurinha, muitas das vezes por desconhecer da coisa você logo pensa:

“ Se é gato ou lebre não importa, mas que tá bonito o corte, isso tá, eita açougueiro bom!”

Por fim agora que vem o “gran finale”, quando seu açougueiro pergunta bem alto na frente de todo mundo

“- Quanto de peso você quer?”

Nesse momento remexemos o bolso para garantir se tem dinheiro que vai dar para pagar a conta e tem hora que o que tem é a conta mesmo.

“- Pode ser um quilo!”

Com rapidez nosso especialista açougueiro leva a carne na balança e canta o peso:

“ - 01 quilo e 200 grs no capricho, pode ser?”

Todos a sua volta já te olham aguardando a sua resposta, e com seu coração gelado com a mistura do susto que levou, pois vai precisar de mais dinheiro e da vontade de levar o produto, elevado ao quadrado da vergonha de falar que é só um quilo mesmo, acaba cedendo  e responde engasgado::

“- Pode ser!”

Moral desta história:

O quilo do açougueiro sempre é bem pesado.


Aldeir Ferraz



domingo, 3 de julho de 2022

Caixeiro

 "Um bom caixeiro tem que saber embrulhar e amarrar o freguês!"

Assim começa a minha trajetória no mundo do comércio. 

O primeiro conselho dado pelo patrão no primeiro dia de serviço, parecia soar esquisito, mas me trouxe um grande ensinamento pra vida toda.

Era eu, menino franzino, acostumado a andar apenas de calça curta e camiseta, coloquei uma calça comprida de tergal com uma camisa de botão e fui para o meu primeiro emprego de verdade.

Tremulo me apresentei no armazém e ali recebi dicas e uma vassoura pra logo começar a lida varrendo o chão.

A cada vassourada olhava tudo, era um mundo diferente que até então não  tinha nas brincadeiras na rua e na sala da escola.

O balcão enorme, muito comprido, dividia o espaço para o atendimento da freguesia, de um lado o freguês e do outro lado nós, os caixeiros ou balconistas. 

Sobre o balcão tinha jornal velho, barbante, saquinhos de papel de vários tamanhos e a balança de pratos com os pesos ao lado. Cada peso tinha uma gramatura, 50grs,100grs, 500grs, 1kg, 5kg...

No balcão também colocava-se muita mercadoria a disposição para venda como ovos caipira, queijo mineiro, vidro de balas, rapadura...

 No balcão as vezes ficava até apertado para atender os pedidos, o espaço se tornava pequeno. Cada caixeiro procurava se ajeitar e colocar cada item solicitado.

Debaixo do balcão a bagunça se acumulava, era muita correria e não dava muito tempo para a organização.

Com a caneta atrás da orelha, nossa atenção aos pedidos era total. Quilos e quilos eram pesados na balança e com o tempo a habilidade era tanta que na mão tínhamos a noção de cada peso. Por vezes disputávamos quem acertava mais, era o conhecido "mão boa".

Quase não existia produtos embalados como tem hoje. O arroz, o feijão,  o milho,  a açúcar, praticamente tudo passava pela concha.

Com um saquinho de papel em uma mão e a concha na outra o ritmo era frenético, por isso acertar o peso na hora tinha uma importância, pois caso contrário você teria que andar uma distância entre a balança  e o saco onde estava o produto, haja perna.

A caneta que ficava atrás da orelha, a toda era usada pra fazer os cálculos, não existia calculadora e tudo ao final de uma soma tirava-se a prova dos nove que era a garantia da conta certa.

Uma escada era usada para pegar os produtos nas prateleiras de madeira. Subir e descer as escada era uma constância.

.... siga o próximo capitulo

 



Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...