Muitos fregueses passaram na História do Supermercado Ferraz, na maioria tornaram-se mais do que fregueses, deixaram a amizade e muitos casos pra contar, como o Nicanor.
O Sr Nicanor era um homem alto e forte que possuia uma voz firme, sempre se vestia com um paletó meio amarrotado,chapelão estilo coronel, calças de tecido tergal e botinas surradas,tudo cheirando naftalina.
Na entrada da sua casa tinha uma varanda com uma velha cadeira no qual ficava horas e horas a cumprimentar as pessoas que passavam na rua e ali também recebia os amigos para longos causos.
Viúvo a décadas e com a familia toda criada, cada um com rumo diferente, morava sozinho e sempre com um ton de bricandeira clamava que na sua vida já não lhe faltava mais nada, apenas uma morena para viver com ele em seu lar.
E por falar em lar, dentro de sua casa era uma tranqueira só. Muita roupa espalhada pelo sofá e dentro de um armário que já não fechava as portas, máquina de costura da falecida, pratos e panelas pendurados nas paredes ao lado de teias de aranha, havia também o fogão de lenha com as trempas todas enferrujadas.
O rádio antigão ficava próximo da porta da varanda com volume alto que dava para se ouvir lá na esquina, sempre atento aos programas da emissora, as noticias de falecimento e no horário
Falando em horário, de manhã fazia ele mesmo o café e quanda dava a hora do almoço, verificava no seu relógio de bolso a hora certa , montava em sua bicicleta monark vermelha e partia para a pensão da Mariazinha no centro da cidade, perto da igreja, lá almoçava todos os dias.
Quem conhecia o Nicanor brincava muito com ele sobre a bagunça na sua casa:
- O Sr Nicanor tem que fazer uma faxina na sua casa, deve ter muita pulga lá!
E o velho Nicanor respondia:
- Que nada meu filho, tem pulga não, os percevejos comeram tudo.
E dando suas garagalhadas a toda brincadeira feita e todo causo contado, vivia sua vida , como mesmo dizia , do jeito que Deus vai mandando.
Aldeir Ferraz
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