terça-feira, 7 de julho de 2020

ASSOMBRAÇÃO



A reza já havia se encerrado na capela e na venda a beira do balcão a moçada  terminava a última prosa com os mais velhos do arraial.
O balconista enchia o meu copo com o litro de cachaça que se esgotava daquela noite.
Deixei a Venda com o dono fechando as portas, já não tinha mais ninguém na rua.
Montei no meu cavalo e segui a estrada rumo a minha casa e no caminho fui deixando as úlimas luminárias dos postes para trás, somente a poeira e o trote do meu cavalo me seguiam.
O vento frio que entrava por dentro de minha roupa fazia com que apertasse o passo pensando na coberta quente que me aguardava.
O silêncio da estrada se contrastava com as matas e canaviais se movimentando com a ventania.
Uma pomba trucal rompe de um tronco caído e seu vôo rasante provoca uma aceleração nas batidas do meu coração.
As palhas do canavial não cessavam seu barulho de movimentação.
Aquela estrada, aquela noite, tudo parecia ter olhos e respiração.
A cada metro seguindo era arrepiante.
Em uma curva passa de galope um pequeno animal que não consegui identificar, mas certamente ele estava assustado como eu, a demora de chegar já me incomodava.
Os pensamentos me incomodavam.
Eis que em uma reta lá de longe uma  árvore seca iluminada pela Lua fez com que meu cavalo parasse,  ele se assustou, algo de estranho tinha a nossa frente.
Insisti para que continuasse e devagar fomos aproximando, aproximando e notei   que algumas folhas de embauba que balançavam é que incomodaram o meu animal, ufa.
Passamos da árvore seca e uma coruja arregalou os olhos para nosso lado e lá no céu um pequeno meteoro rasgava a escuridão da noite.
Uma casinha velha na beira da estrada era minha nova aflição e ali conta os antigos uma velha senhora tinha morrido de fome ela sempre ficava parada ali pedindo comida.
Se o espírito dela me abordasse, não teria nada para oferecer.
Cutuquei o  cavalo e passamos disparado no local e o pavor era tanto que rezava sem parar e olhando de lado acho que cheguei a vê la.
Finalmente  em casa, aliviado após horas que pra mim foram seculos e aos poucos comecei a  refazer dos medos.
Ainda bem que assombração não existe, não é mesmo?
Aldeir Ferraz

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