domingo, 7 de fevereiro de 2021

MARCAS DO QUE SE FOI (PARTE 03)

 A alimentação é essencial para nossa vida. Isso é fato, ocorre que alimentar se tornou também a necessidade de satisfazer nossos desejos e virou um status.

Quem trabalha no comércio alimentício percebe como é essa busca por produtos que garantem a vida, supre os desejos e aponta nossa posição social.

Desde o inicio do armazém Ferraz passei a notar esta situação nas compras de muitas pessoas.

A qualidade versus preço, a propaganda versus o costume é o conflito na hora da escolha.

Dentro do comércio é preciso atender todo o tipo de perfil.

Marcas antigas mostram o costume que vem de geração, como o macarrão Guiricema. Por décadas vêm passando de pai pra filho. O Galo com macarrão tem que ser do Guiricema.

A diferença social durante um tempo era mostrado por aquilo que se adquiria, exemplo:

Extrato tomate Cajamar coisa do povão, extrato tomate elefante era para os mais abonados;

Oléo de milho Mazolla só rico comprava, óleo de soja mais para o povão. O consumo de óleo para a maioria do povo da roça se dividia com a gordura de porco, muitos tinham hábito de criar porcos em chqueiros;

Bacalhau era coisa de rico, o peixe majubinha  para o povo mais pobre;

Arroz japonês, agulhinha para quem tinha mais dinheiro, arroz quebradinho e santa catarina para os mais pobres.

Alcaparras, cogumelos, atum, ervilha.... Itens raros na lista de compras do povão.

Hoje este cenário mudou e o desejo domina a compra de todos e é claro com a  melhora do poder aquisitivo.

O pé de galinha que era um alimento só de pobre, depois que os mais ricos descobriram que ele tem colágeno, disparou no preço.

O pé deu um salto e ficou caro.



sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

MARCAS DO QUE SE FOI (PARTE 02)

 A história nos conta que foram os índios que ensinaram aos colonizadores a tomar um banho, ser mais cuidadoso com a higiene pessoal.

Nos dias atuais contamos com uma infinidade de produtos que nos garantem nossa higiene, mas não era assim em décadas passadas.

Lá no inicio do armazém Ferraz existia produtos de higiene pessoal que eram adquiridos pela freguesia.

O interessante que o produto adquirido mostrava qual sua posição social econômica.

O sabão por exemplo, a marca coringa, um sabão preto era comprado pelos mais pobres. O sabão verde da marca radical era comprado pelos mais remediados e o sabão brilhante (azul e cheiroso) era para os ricos.

O sabonete gessy era do povão, o lux dos remediados. O sabonete Phebo, Francis e lux luxo era dos mais ricos.

Tinha uma situação diferente com o sabonete francis de caixinha. Ele servia como presente, quem nunca ganhou ou deu um de presente?

Os perfumes eram uma beleza, pois naquele tempo era moda andar muito cheiroso, atraía namoro e espantava mosca.

Desodorante Phebo, Rexona, Musk, almíscar, Leite de Rosas, Leite de aveia Davene....

O almiscar era muito usado por padres, lembro do Padre Raimundo que nos abraçava com sua batina e aquele perfume ficava empregnado na gente por muito tempo.

O perfume musk era do tempo que nós homens andavamos com a camisa meio aberta pra mostrar o cabelo do peito perfumado. Na verdade morríamos de inveja do Tony Ramos.

O cabelo era lavado com sabão de côco e os mais abonados usavam creme rince, neutrox, shampoo colorama e para os cabeludos tinha o gel, oleo de ovo e babosa.

Na pele pra tirar alguma frieira tinha pomada minancora, o polvilho antisepico para o chulé, dava pra colocar maizena também.

Por fim não podia faltar neocid que matava bastante piolho.

Aldeur Ferraz


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

MARCAS DO QUE SE FOI (PARTE 1)

 Se eu tiver enganado me corrijam, mas as décadas de 70 e 80 aceleraram o processo de influência das propagandas em nossas vidas.

A personalidade muitas vezes se formatava por publicidades.

O cigarro era clássico nesta formação, cada marca ditava uma regra.

Lá no armazém Ferraz quem comprava o cigarro Mustang era meio peão, meio cawboy. Os cigarros Continental, Vila Rica era do povo ligado ao futebol, aos bares, bate papos, a turma que sempre levava vantagem.

O Carlton, Minister, Malboro era de uma elite de empresários, gente importante, autoridades de alto escalão. Os cigarros Hollywood, Free, Plaza, tinham adeptos com a galera das viagens, da vida mais liberal.

Cigarros filtro longo como o Luxor e o Shelton era do pessoal mais filosófico. Lembro do Prof Milinho, que sempre fumava destes com uma cigarrilha.

Os cigarro, Arizona,derby, imperador sem filtro, fumo de rolo, fumo capitão, dois irmãos, Arapiraca era do povão.

O Charuto cubano era para os comunistas.

Consumir estas marcas promovia a sensação de pertença.

Quem fumava tinha status, era chique e até arrumava namoro.

Eu mesmo comecei a fumar o cigarro Tempo, um cigarro diferente de cor marron, lembrava charuto, pra arrumar uma namorada.

Dei sorte e fui convencido a parar de fumar por causa do meu primeiro namoro.

Aldeir Ferraz



PIMENTA NO OLHO

Uma comida bem temperada é outra coisa. 

Aqui no interior mineiro, o sabor da comida é incomparável. Quem nunca saboriou um franguinho com quiabo?

O sabor tem haver com o tempero no ponto certo.

A pimenta é uma especiária muito usada.

Lá no armazém Ferraz tinhamos uma máquina de moer pimenta do reino, tradição que veio lá do tempo do Jesus Cardoso.

Moíamos kilos e mais kilos de pimenta. Como era vendido naquela época! Sacos e mais sacos de 25 kg eram encomendados, tudo em grão pra ser moido e colocado em uma lata fechada. Era abrir e o cheiro era forte.

Os açougues compravam a pimenta para temperar as linguiças.

Já trabalhei moendo muita pimenta e aquilo fazia espirrar com o cheiro forte e aí se passassemos a mão nos olhos, ardia que era uma beleza.

A maior propaganda da pimenta era o espirro.

Espirrou, o freguês mandava aumentar mais no peso.


Aldeir Ferraz

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

CANA DE AÇUCAR

 A cidade de Visconde do Rio Branco era cercada por plantações de cana de açucar. A maior parte das terras eram da Cia Açucareira Riobranquense, mas existia também os pequenos e médios canavieiros que cultivavam cana em suas terras para fornecer para usina. Alguns deles mesclavam seus negócios com produção de rapadura e cachaça.

Tínhamos uma economia dependente da sazonalidade da cana. A safra começava mais ou menos junho e julho. A festa de São João Batista, padroeiro da cidade, dava o tom de uma cidade movimentada, aliás todo mês de junho era uma festança só.

O armazém Ferraz ficava sempre cheio com o povo trabalhador tanto da usina, como na lavoura.

Os dias de pagamento, caminhões e mais caminhões paravam no centro e deles desciam as turmas com dinheiro no bolso para realizar suas compras.

Era uma alegria só estes dias de pagamento, pena que o dinheiro que recebiam acabava muito rápido.

Com sacos cheios de suas compras subiam novamente nos caminhões e partiam para suas casas. 

O trabalho neste periodo de corte da cana não faltava, quem estava parado era só comprar um facão e um par de kichute e entrar nas turmas.

Facão, enxada, kichute, chapéu eram produtos que mais vendiam.

Tempos duros, tempos diferentes, mas tempos em que a convivência era mais sincera e doce.

AldeirFerraz

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

ARROZ COM FEIJÃO

 O nosso prato segue a tradição até hoje. O arroz com feijão é de fato sagrado nas nossas mesas.

Apesar de serem os primeiros produtos na hora da compra, o arroz e feijão perderam o espaço na produção na nossa região.

No inicio do armazém Ferraz, a maior parte ou totalidade da compra de arroz e do feijão era feita aqui na região.

Visconde do Rio Branco possuia várias Máquinas de Arroz. Tinha o João Filipinho, Francisco Ferraz, Adão Ferraz...

Para enchermos os caixotes do armazém compravamos o arroz em casca e levavamos para as máquinas beneficiarem.

Tinha arroz caturra, Santa Catarina, agulhinha, goianês..... Isso não era marca não, era a qualidade do arroz, coisa que poucos conhecem hoje.

O feijão era produção de grande fartura na região, sempre chegava alguém com sacos e mais sacos de 60kg em suas charretes para negociar.

Tinha feijão vermelho, preto, carioquinha e que eram conhecida suas produções como feijão das aguas, feijão 60dias....

O feijão para não dar bicho que estragava os grãos, usava-se terra de formiga, outros usavam um comprimido que colocava se no meio da sacaria e ficava conservado.

Hoje a produção regional é baixa, vem a maior parte de fora.

Aldeir Ferraz



domingo, 31 de janeiro de 2021

JÁ DIZIA O VELHO DITADO

Trabalhar em comércio não é fácil, muito trabalho e atenção constante. É preciso ter uma relação de convivência muito boa para aliviar o estress.

Ter bom humor e companherismo é bom.

E tem muita história no Ferraz de casos engraçados.

Tem uma história acontecida lá no tempo do filme TOP GUN. Naquele tempo vendia muito Gel Bozzano, Creme Rince Colorama, Henê Rená, oleo de babosa, oleo de ovo....

Por quê estou falando do filme e dos produtos? É que a história é com o Netinho, o rei do cabelo com gel e o Mateus do Marquinho.

Os dois, segundo o André, sempre que tinha entregas na Sementeira, passavam na escola de lá para beber agua e paquerar as alunas.

O cabelo top gun do Netinho encantava as meninas e o Mateus como estava junto também era cortejado.

Só que a diretora da escola, não agradou daquilo e veio ao supermercado para alertar sobre as visitas de ambos funcionários.

No Supermercado ela relatou ao Marquinho o fato de que havia dois funcionários paqueradores na escola constantemente.

Marquinho perguntou quem era e ela disse ser um rapaz de cabelo com gel e o outro de nome Mateus.

O Marquinho chamou o Dão e pediu para tomar providências em relação ao filho dele, que também chama Mateus, que também era funcionário.

Marquinho achando ser o filho do Dão quis ensiná-lo como corrigir o menino. Arrancou o cinto da calça e entregou para o Dão e disse que era só mostrar que o respeito vem e não vai ter mais problema. O Dão já achava que tinha que dar uma lambada.

Nesse momento chega o Netinho, passando um pente do flamengo no cabelo e junto o Mateus do Marquinho. A diretora logo apontou para os dois, indicando serem os frenquentadores da escola.

O final desta história é a cena do Dão tirando o cinto da sua calça e entregando para o Marquinho. 
Cinto pra lá, cinto pra cá.

E como diz o velho ditado:
Quem pariu Mateus que o embale.

Aldeir Ferraz




Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...