quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

PIMENTA NO OLHO

Uma comida bem temperada é outra coisa. 

Aqui no interior mineiro, o sabor da comida é incomparável. Quem nunca saboriou um franguinho com quiabo?

O sabor tem haver com o tempero no ponto certo.

A pimenta é uma especiária muito usada.

Lá no armazém Ferraz tinhamos uma máquina de moer pimenta do reino, tradição que veio lá do tempo do Jesus Cardoso.

Moíamos kilos e mais kilos de pimenta. Como era vendido naquela época! Sacos e mais sacos de 25 kg eram encomendados, tudo em grão pra ser moido e colocado em uma lata fechada. Era abrir e o cheiro era forte.

Os açougues compravam a pimenta para temperar as linguiças.

Já trabalhei moendo muita pimenta e aquilo fazia espirrar com o cheiro forte e aí se passassemos a mão nos olhos, ardia que era uma beleza.

A maior propaganda da pimenta era o espirro.

Espirrou, o freguês mandava aumentar mais no peso.


Aldeir Ferraz

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

CANA DE AÇUCAR

 A cidade de Visconde do Rio Branco era cercada por plantações de cana de açucar. A maior parte das terras eram da Cia Açucareira Riobranquense, mas existia também os pequenos e médios canavieiros que cultivavam cana em suas terras para fornecer para usina. Alguns deles mesclavam seus negócios com produção de rapadura e cachaça.

Tínhamos uma economia dependente da sazonalidade da cana. A safra começava mais ou menos junho e julho. A festa de São João Batista, padroeiro da cidade, dava o tom de uma cidade movimentada, aliás todo mês de junho era uma festança só.

O armazém Ferraz ficava sempre cheio com o povo trabalhador tanto da usina, como na lavoura.

Os dias de pagamento, caminhões e mais caminhões paravam no centro e deles desciam as turmas com dinheiro no bolso para realizar suas compras.

Era uma alegria só estes dias de pagamento, pena que o dinheiro que recebiam acabava muito rápido.

Com sacos cheios de suas compras subiam novamente nos caminhões e partiam para suas casas. 

O trabalho neste periodo de corte da cana não faltava, quem estava parado era só comprar um facão e um par de kichute e entrar nas turmas.

Facão, enxada, kichute, chapéu eram produtos que mais vendiam.

Tempos duros, tempos diferentes, mas tempos em que a convivência era mais sincera e doce.

AldeirFerraz

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

ARROZ COM FEIJÃO

 O nosso prato segue a tradição até hoje. O arroz com feijão é de fato sagrado nas nossas mesas.

Apesar de serem os primeiros produtos na hora da compra, o arroz e feijão perderam o espaço na produção na nossa região.

No inicio do armazém Ferraz, a maior parte ou totalidade da compra de arroz e do feijão era feita aqui na região.

Visconde do Rio Branco possuia várias Máquinas de Arroz. Tinha o João Filipinho, Francisco Ferraz, Adão Ferraz...

Para enchermos os caixotes do armazém compravamos o arroz em casca e levavamos para as máquinas beneficiarem.

Tinha arroz caturra, Santa Catarina, agulhinha, goianês..... Isso não era marca não, era a qualidade do arroz, coisa que poucos conhecem hoje.

O feijão era produção de grande fartura na região, sempre chegava alguém com sacos e mais sacos de 60kg em suas charretes para negociar.

Tinha feijão vermelho, preto, carioquinha e que eram conhecida suas produções como feijão das aguas, feijão 60dias....

O feijão para não dar bicho que estragava os grãos, usava-se terra de formiga, outros usavam um comprimido que colocava se no meio da sacaria e ficava conservado.

Hoje a produção regional é baixa, vem a maior parte de fora.

Aldeir Ferraz



domingo, 31 de janeiro de 2021

JÁ DIZIA O VELHO DITADO

Trabalhar em comércio não é fácil, muito trabalho e atenção constante. É preciso ter uma relação de convivência muito boa para aliviar o estress.

Ter bom humor e companherismo é bom.

E tem muita história no Ferraz de casos engraçados.

Tem uma história acontecida lá no tempo do filme TOP GUN. Naquele tempo vendia muito Gel Bozzano, Creme Rince Colorama, Henê Rená, oleo de babosa, oleo de ovo....

Por quê estou falando do filme e dos produtos? É que a história é com o Netinho, o rei do cabelo com gel e o Mateus do Marquinho.

Os dois, segundo o André, sempre que tinha entregas na Sementeira, passavam na escola de lá para beber agua e paquerar as alunas.

O cabelo top gun do Netinho encantava as meninas e o Mateus como estava junto também era cortejado.

Só que a diretora da escola, não agradou daquilo e veio ao supermercado para alertar sobre as visitas de ambos funcionários.

No Supermercado ela relatou ao Marquinho o fato de que havia dois funcionários paqueradores na escola constantemente.

Marquinho perguntou quem era e ela disse ser um rapaz de cabelo com gel e o outro de nome Mateus.

O Marquinho chamou o Dão e pediu para tomar providências em relação ao filho dele, que também chama Mateus, que também era funcionário.

Marquinho achando ser o filho do Dão quis ensiná-lo como corrigir o menino. Arrancou o cinto da calça e entregou para o Dão e disse que era só mostrar que o respeito vem e não vai ter mais problema. O Dão já achava que tinha que dar uma lambada.

Nesse momento chega o Netinho, passando um pente do flamengo no cabelo e junto o Mateus do Marquinho. A diretora logo apontou para os dois, indicando serem os frenquentadores da escola.

O final desta história é a cena do Dão tirando o cinto da sua calça e entregando para o Marquinho. 
Cinto pra lá, cinto pra cá.

E como diz o velho ditado:
Quem pariu Mateus que o embale.

Aldeir Ferraz




sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

A MATEMÁTICA DO BALCÃO

 É difícil imaginar um mundo sem a tecnologia  que hoje temos em nossas mãos, mas este mundo existiu e não tem muito tempo.

Lá no inicio do armazém Ferraz, ter uma calculadora era uma raridade, aliás esse negócio de calculadora é para os fracos. 

No balcão a matemática era garantida na prova dos nove. Essa conta garantia o acerto das contas de adição.

Se um freguês comprava 3 itens, em um papel era feita a conta, exemplo:

10,00 + 15,00 +  30,00  = 55,00

Para saber se o valor estava certo somava-se as unidades numéricas  e subtraia menos nove e o que sobrar deveria ser igual ao da soma do resultado menos nove.

Neste caso, nove fora= 01, então a conta tava certa.

O interessante que isso não aprendemos na escola e sim no balcão do armazém.

Os fregueses  pediam a soma da conta e logo já cobravam, tira a prova do nove.

Essa era uma situação corriqueira e claro, para ser um bom balconista tinha que ser bom nas contas de adição, subtração, multiplicação e divisão.

Aldeir Ferraz

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

KOMBI 78

 No dito popular fala-se que um carro é mais  uma familia pra sustentar.

Talvez sim, pois sempre tem os gastos de combustível e manutenção, mas é inegável que um carro faz a diferença.

No armazém Ferraz isso de ter um carro passava da hora. Não dava mais pra continuar as entregas na bicicleta ou com ajuda de alguns amigos, como o Cheker do João Filipinho que fazia algumas entregas com sua camionete a gás.

O Ailton chegou a ter um fusca azul que também serviu de carro de entrega, mas a chegada da Kombi 78 azul, o patamar passou a ser outro.

A Kombi azul rodou muito, era entrega para todo lugar, enfretava barro e peso, mas também passou apertos com motoristas meia roda, aliás eu era um dos meia roda.

Essa kombi durou bastante tempo e tem muita história, pois além do trabalho,  era também para o lazer.

Minha habilitação foi conquistada nela. Até o Serginho teve algumas aulas de direção com ela.

Lembro que saia para as roças com o Lorival Ferraz em busca de rapaduras nos engenhos. Voltavamos cheio de cargas de rapadura e com muita abelha dentro.

Tinhamos também a venda de ovos de granja que o Zezinho de Viçosa nos repassava para vender na região. Quem fazia as vendas dos ovos no comércio era o Muambinha, Jose Carlos Correa Lino, grande amigo.

Aos domingos depois do trabalho, ou mesmo a noite tinha os bailes e forrós na roça.

Tinha um toca fita daqueles grandões a pilha que colava dentro dela pra ouvir música, mas o barulho da lataria era maior.

Gostava muito de nadar na represa da ponte coberta e também tomar umas cachaças na casa da familia do Sr Joaquim Augusto, fregueses até hoje do Supermercado Ferraz.

Tinha os fretes que eram feitos também, lembro do Guacho que tinha um terreiro de Umbada que vez ou outra solicitava o serviço.

Não posso esquecer dos fretes com os  times de futebol que era direto também.

Nos deu muito lucro,  alegria, casamentos e conta-se a lenda que o Alan surgiu nela. 

Era uma kombi pau pra toda obra.

Aldeir Ferraz



quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

TÁ RUIM MAS TÁ BÃO

“Era uma sexta-feira, dia útil. O Brasil parou. Quem não estava em casa, estava na vitrine da esquina, nos escritórios.” Joelmir Beting sobre o dia do anúncio do Plano Collor.

O Brasil tinha um presidente eleito pelo voto popular,  depois de décadas de ditadura. Em meio a uma crise sem fim, o novo presidente apresenta um plano economico.

O período era conturbado, as pessoas compravam o essencial. Lá no armazém Ferraz a freguesia continuava firme e aumentando cada vez mais.

O momento era de situação dificil de crescimento, pois pegar dinheiro emprestado com juros altos era muito arriscado.

Naquele tempo, os juros eram diários, tinha gente que possuia uma caderneta de poupança por dia.

O pessoal ficava na praça 28 de Setembro só esperando o banco abrir para verificar o ganho com juros, havia muita agiotagem também.

Como dizia um agiota da época:
"Tá ruim , mas tá bão."

Mas o que tava ruim piorou naquela sexta feira. O Governo confiscou a Poupança do povo.

Com o dinheiro preso, veio o pânico. Nesta situação surgiu uma oportunidade para o armazém Ferraz.

No confisco, os bancos liberavam dinheiro para pagamentos de dividas e uma pequena parte poderia ser sacada. 

O Plano Collor I limitou os saldos e saques a NCZ$ 50 mil (cruzados novos) com a retenção do saldo restante por 18 meses, sob correção e juros de 6% ao ano.

Como naquele final de semana tinhamos muitas  contas á pagar, alguns poupadores com dinheiro confiscado resolveram os seus problemas, resolvendo os nossos.

A desconfiança no sistema bancário passou a ser grande e muita gente passou a deixar suas economias no armazém Ferraz, com juros minimos e até sem juros.

Considero aquele momento uma guinada nos negócios.

O que tava ruim ficou bão.

Aldeir Ferraz




Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...