sábado, 26 de setembro de 2020

O VELHO E A SANFONA

 

Enquanto o som daquela sanfona preenchia o silêncio da varanda, o velho brilhava seus olhos e a primeira lágrima  já escorria  no rosto marcado pela lida.

A sonoridade das músicas antigas que saiam da decisão do sanfoneiro em acertar com perfeição os acordes de tão belo instrumento provocava uma inevitável viagem no tempo.

Mesmo se valendo de uma bengala, naquele instante já se sentia aquela criança que  foi em um longínquo tempo e com um suspiro apenas pode sentir a brisa que lhe batia nos galopes em um cavalo de pau pelas trilhas deixando muita  poeira para trás,

A música penetrante nos ouvidos levava a uma eternidade de pensamentos sobre a longa estrada até o momento percorrida.

Amores, amigos, flores e dores tudo se foi deixando de ser visto com olhos e agora apenas sentido  com o coração;

E quando as melodias cessaram o velho  então foi se  recobrando daquele extase ,  ajeitou seu chapéu e como quem apeia em uma estação de trem , olhou  para tudo e para todos sem dizer nenhuma palavra, apenas sorriu.

Aldeir Ferraz



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