quinta-feira, 25 de junho de 2020

LUZ E POEIRA


O silêncio foi rompido com a porta se abrindo. A luz de fora adentrou antes de mim e logo revelou o que ali estava intacto. Uma leve poeira se levantou e seguiu em direção ao facho de luminosidade.

Meu olhar circundava aquele ambiente e meu coração acelerava a cada direção que mirava e nem conseguia piscar, somente admirar.

Estava ali, tudo estava ali, a máquina de costura, as ferramentas, os moldes, sua carteira de trabalho… Ah! Que orgulho que era possuir uma carteira de trabalho, uma profissão.

Quando pequeno gostava de entrar naquela oficina e ver meu avô na sua lida, consumido pelo trabalho e fazendo tudo com prazer.

Dizem que viemos no mundo para transformá-lo. Aquela oficina era assim, transformava o que tava ruim em belo.

A cada passo que dava, algo estranho parecia acontecer, comecei a sentir as coisas se mexerem, a costura de um tecido, o corte de um molde, o arredar de um móvel, que barulho espantoso chegava aos meus ouvidos. Era isso mesmo, sentia a sua presença, sentia a sua agitação, tudo naquela hora se tornou mágico. Enchi-me de orgulho de tudo.

Não! Definitivamente não são velharias, tudo tinha vida, tudo tinha história pra contar.

Interessante que nos dias de hoje perdemos essa essência de preservar, de recordar, tudo se torna lixo que precisa ser afastado de nós, enterrado.

E as horas se passaram rápido com minha viagem no tempo, não queria sair, queria continuar meus pensamentos, minhas lembranças e o calor da presença espiritual dali.

Tive que partir, nada alterei e de pé em pé caminhei para a porta e quando fui fechar vi ainda o facho de luz que continuava a guiar a poeira em direção a pequena fresta de uma janela.

Porta trancada e um barulho surgiu lá de dentro, uma lâmpada piscou, estranhei mas logo tudo cessou.

No caminho pensei, sim ali não jaz um passado, ali uma existência se eternizava


Aldeir Ferraz

Um comentário:

  1. Grande parte de meu caráter se formou neste ambiente, ao lado de meu pai, meu professor, e seus sussurros de reflexão... "a ferramenta não faz o oficial... o oficial faz a ferramenta."

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