domingo, 31 de janeiro de 2021

JÁ DIZIA O VELHO DITADO

Trabalhar em comércio não é fácil, muito trabalho e atenção constante. É preciso ter uma relação de convivência muito boa para aliviar o estress.

Ter bom humor e companherismo é bom.

E tem muita história no Ferraz de casos engraçados.

Tem uma história acontecida lá no tempo do filme TOP GUN. Naquele tempo vendia muito Gel Bozzano, Creme Rince Colorama, Henê Rená, oleo de babosa, oleo de ovo....

Por quê estou falando do filme e dos produtos? É que a história é com o Netinho, o rei do cabelo com gel e o Mateus do Marquinho.

Os dois, segundo o André, sempre que tinha entregas na Sementeira, passavam na escola de lá para beber agua e paquerar as alunas.

O cabelo top gun do Netinho encantava as meninas e o Mateus como estava junto também era cortejado.

Só que a diretora da escola, não agradou daquilo e veio ao supermercado para alertar sobre as visitas de ambos funcionários.

No Supermercado ela relatou ao Marquinho o fato de que havia dois funcionários paqueradores na escola constantemente.

Marquinho perguntou quem era e ela disse ser um rapaz de cabelo com gel e o outro de nome Mateus.

O Marquinho chamou o Dão e pediu para tomar providências em relação ao filho dele, que também chama Mateus, que também era funcionário.

Marquinho achando ser o filho do Dão quis ensiná-lo como corrigir o menino. Arrancou o cinto da calça e entregou para o Dão e disse que era só mostrar que o respeito vem e não vai ter mais problema. O Dão já achava que tinha que dar uma lambada.

Nesse momento chega o Netinho, passando um pente do flamengo no cabelo e junto o Mateus do Marquinho. A diretora logo apontou para os dois, indicando serem os frenquentadores da escola.

O final desta história é a cena do Dão tirando o cinto da sua calça e entregando para o Marquinho. 
Cinto pra lá, cinto pra cá.

E como diz o velho ditado:
Quem pariu Mateus que o embale.

Aldeir Ferraz




sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

A MATEMÁTICA DO BALCÃO

 É difícil imaginar um mundo sem a tecnologia  que hoje temos em nossas mãos, mas este mundo existiu e não tem muito tempo.

Lá no inicio do armazém Ferraz, ter uma calculadora era uma raridade, aliás esse negócio de calculadora é para os fracos. 

No balcão a matemática era garantida na prova dos nove. Essa conta garantia o acerto das contas de adição.

Se um freguês comprava 3 itens, em um papel era feita a conta, exemplo:

10,00 + 15,00 +  30,00  = 55,00

Para saber se o valor estava certo somava-se as unidades numéricas  e subtraia menos nove e o que sobrar deveria ser igual ao da soma do resultado menos nove.

Neste caso, nove fora= 01, então a conta tava certa.

O interessante que isso não aprendemos na escola e sim no balcão do armazém.

Os fregueses  pediam a soma da conta e logo já cobravam, tira a prova do nove.

Essa era uma situação corriqueira e claro, para ser um bom balconista tinha que ser bom nas contas de adição, subtração, multiplicação e divisão.

Aldeir Ferraz

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

KOMBI 78

 No dito popular fala-se que um carro é mais  uma familia pra sustentar.

Talvez sim, pois sempre tem os gastos de combustível e manutenção, mas é inegável que um carro faz a diferença.

No armazém Ferraz isso de ter um carro passava da hora. Não dava mais pra continuar as entregas na bicicleta ou com ajuda de alguns amigos, como o Cheker do João Filipinho que fazia algumas entregas com sua camionete a gás.

O Ailton chegou a ter um fusca azul que também serviu de carro de entrega, mas a chegada da Kombi 78 azul, o patamar passou a ser outro.

A Kombi azul rodou muito, era entrega para todo lugar, enfretava barro e peso, mas também passou apertos com motoristas meia roda, aliás eu era um dos meia roda.

Essa kombi durou bastante tempo e tem muita história, pois além do trabalho,  era também para o lazer.

Minha habilitação foi conquistada nela. Até o Serginho teve algumas aulas de direção com ela.

Lembro que saia para as roças com o Lorival Ferraz em busca de rapaduras nos engenhos. Voltavamos cheio de cargas de rapadura e com muita abelha dentro.

Tinhamos também a venda de ovos de granja que o Zezinho de Viçosa nos repassava para vender na região. Quem fazia as vendas dos ovos no comércio era o Muambinha, Jose Carlos Correa Lino, grande amigo.

Aos domingos depois do trabalho, ou mesmo a noite tinha os bailes e forrós na roça.

Tinha um toca fita daqueles grandões a pilha que colava dentro dela pra ouvir música, mas o barulho da lataria era maior.

Gostava muito de nadar na represa da ponte coberta e também tomar umas cachaças na casa da familia do Sr Joaquim Augusto, fregueses até hoje do Supermercado Ferraz.

Tinha os fretes que eram feitos também, lembro do Guacho que tinha um terreiro de Umbada que vez ou outra solicitava o serviço.

Não posso esquecer dos fretes com os  times de futebol que era direto também.

Nos deu muito lucro,  alegria, casamentos e conta-se a lenda que o Alan surgiu nela. 

Era uma kombi pau pra toda obra.

Aldeir Ferraz



quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

TÁ RUIM MAS TÁ BÃO

“Era uma sexta-feira, dia útil. O Brasil parou. Quem não estava em casa, estava na vitrine da esquina, nos escritórios.” Joelmir Beting sobre o dia do anúncio do Plano Collor.

O Brasil tinha um presidente eleito pelo voto popular,  depois de décadas de ditadura. Em meio a uma crise sem fim, o novo presidente apresenta um plano economico.

O período era conturbado, as pessoas compravam o essencial. Lá no armazém Ferraz a freguesia continuava firme e aumentando cada vez mais.

O momento era de situação dificil de crescimento, pois pegar dinheiro emprestado com juros altos era muito arriscado.

Naquele tempo, os juros eram diários, tinha gente que possuia uma caderneta de poupança por dia.

O pessoal ficava na praça 28 de Setembro só esperando o banco abrir para verificar o ganho com juros, havia muita agiotagem também.

Como dizia um agiota da época:
"Tá ruim , mas tá bão."

Mas o que tava ruim piorou naquela sexta feira. O Governo confiscou a Poupança do povo.

Com o dinheiro preso, veio o pânico. Nesta situação surgiu uma oportunidade para o armazém Ferraz.

No confisco, os bancos liberavam dinheiro para pagamentos de dividas e uma pequena parte poderia ser sacada. 

O Plano Collor I limitou os saldos e saques a NCZ$ 50 mil (cruzados novos) com a retenção do saldo restante por 18 meses, sob correção e juros de 6% ao ano.

Como naquele final de semana tinhamos muitas  contas á pagar, alguns poupadores com dinheiro confiscado resolveram os seus problemas, resolvendo os nossos.

A desconfiança no sistema bancário passou a ser grande e muita gente passou a deixar suas economias no armazém Ferraz, com juros minimos e até sem juros.

Considero aquele momento uma guinada nos negócios.

O que tava ruim ficou bão.

Aldeir Ferraz




terça-feira, 26 de janeiro de 2021

A COISA FICOU FEIA

O final da década de 80 e inicio da de 90 foram tempos terríveis, talvez aqueles momentos poderiam encerrar o projeto do Armazém Ferraz,  podemos dizer que a sobrevivência naquele periodo foi heroica.

A música que mais se ouvia era do Tião Carreiro e Pardinho, A Coisa tá Feia.

 "...Quem tinha mãozinha fina foi parar na picareta
Já tem doutor na pedreira dando duro na marreta
A coisa tá feia, a coisa tá preta...
Quem não for filho de Deus, tá na unha do capeta."

Era literalmente isso, pois o descontrole da economia no Brasil era enorme.

Após a eleição, o primeiro plano cruzado foi abaixo, liberou se os preços e foi uma tragédia, surgiu novos ministros após o Funaro. Passou o Bresser, o Mailson da Nóbrega, Zelia Cardoso, vieram os planos Bresser, Verão, Collor... 

Saiu o Sarney, odiado pelo povo, entrar o Color, o tal caçador de Marajás...

Aqui, longe de Brasilia, a coisa continuava feia. A Usina Rio Branco na falência e com os salários atrasados.

Nos canaviais tinhamos os boia frias que na marmita o que tinha era macarrão branco apenas.

Quem ainda tinha o que comer, 
 dividia com os que não tinham nada.

Lá no armazém o fiado acumulava e a desesperança era grande.

Tivemos naquele periodo o ápice do salário minimo em Cr$ 4639800,00.

Aldeir Ferraz









segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

TEMPOS DE MUDANÇA

 1986 foi um tempo de mudança ou uma mudança de tempo, como queiram avaliar.

O presidente era o Sarney que assumiu com o falecimento de Tancredo Neves que seria o primeiro presidente pós ditadura.

Sarneiy lançou o Plano Cruzado que substituiu a moeda Cruzeiro pelo Cruzado.

Foi um cruzado na inflação da época que estava altissima e foi derrubada.

Dilson Funaro foi o ministro responsável pela economia que comandou o plano que tinha como básico o congelamento dos preços.

No principio foi bom e como estávamos começando o armazém Ferraz, isso ajudou muito, mas não durou 06 meses para surgirem os problemas.

Começaram a faltar produtos, até o sal desapareceu. 

Os fornecedores alegaram custos de produção para a falta, pois o preço tabelado dava prejuizo.

Surgiu então o ágio. Se quiséssemos ter a mercadoria, seria necessário pagar por fora um valor a mais.

Surgiram os fiscais do Sarney, incentivado pelo presidente para coibir os ágios.

Os comerciantes eram tratados como vilões, a coisa dava até caso de polícia.

Existia produtos como o óleo de soja, que era preciso pagar adiantado para ter, uma marca famosa naquele tempo era o óleo soja Heloisa.

Passamos por esta fase, mas outras vieram.

Aldeir Ferraz 

domingo, 24 de janeiro de 2021

OS PRIMEIROS FREGUESES

 O imóvel onde funcionava o armazém do Jesus Cardoso e do Luis Monteiro foi divido em dois.

O lado maior ficou com o Luis Monteiro e o menor coube ao Armazém Ferraz.

No ínicio da preparação do espaço para a inauguração, os primeiros fregueses já surgiam.

Dona Ivone de Mello, uma professora aposentada,  moradora do Bairro São Jorge já logo entrou no armazém, ainda mal tinha mercadoria nas partilheira, entregou uma lista e disse:

"Quando tiver os produtos, separa e entrega lá em casa".

A generosidade dela teve um misto de incentivo e confiança, com isso fez com que a vontade de trabalhar tomasse conta do nosso corpo e alma.

Era toda a semana que Dona Ivone encaminhava sua lista em uma  folha de caderno.  A escrita era perfeita, letra bonita.

Outro freguês que foi pioneiro e nos incentivou muito era o Fidélis, um senhor negro, baixinho, sempre com um chapéu na cabeça, cigarro de palha ora atrás da orelha e outros momentos na boca esborrifando fumaça, sempre carregava  um isqueiro antigo que funcionava com pavio e querosene.

Quando chegava,  já alegrava o ambiente. Lembro até hoje da primeira venda que fiz pra ele.

Cinco pacotes de fumo 02 irmâos e 02 barras de sabão coringa.

E assim foi surgindo a clientela, muita gente da roça, muita gente da cidade, muita gente que ajudou no crescimento desta história.

Aldeir Ferraz

Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...