terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

ALEGRIA

 Duas considerações para escrever este texto:

A primeira é que resolvi reforçar minha memória com omega 3, pois muita coisa boa se perde ao longo do tempo.

A segunda, resolvi colocar o titulo do texto de "Alegria" porque este cara que vou falar era isso mesmo.

José Alves Pereira, um negão que transmitia boas energias, assim como toda sua familia que sempre estavam fazendo suas compras no Ferraz.

Dono de uma simplicidade e de uma vida dura de trabalhador, deixava a todos nós com a alegria de viver.

Alguns histórias recordo dele, como aos sábados durante suas compras pedia sempre o sabonete mais cheiroso, na época o Vinólia. Fazia questão de andar perfumado.

O perfume segundo ele, era para ir sabado a noite buscar pão na padaria. Pão fresquinho Domingo de manhã era outra coisa. Só que ele virava a noite no forró e era de manhã que chegava em casa.

Quando perguntávamos a ele se a esposa não ficava brava, respondia que a culpa era do padeiro que esquecia sempre de fazer a massa do pão crescer.

O Zezé, como seus irmãos lhe chamavam, gostava da vida, falava que não queria morrer. Seria preciso juntar uns quatro homens fortes para subir o morro e levá-lo para o cemitério, pois não iria de forma alguma com suas próprias pernas.

Salve José Alves Pereira, Salve toda sua Familia, Salve sua Alegria.

Que lá do Céu mande sempre boas energias para todos nós.

Aldeir Ferraz


domingo, 7 de fevereiro de 2021

GATO POR LEBRE

 Como diz o Netinho: 

" A história não foi assim, foi mais ao menos assm! " Então se assim dá pra contar.

Nossa testemunha ocular da história dos 35 anos do FERRAZ, Wallas,revelou a história da Dona Nenê.

Ela morava ali no terreno do Zé Leopoldo ao lado da garagem da Oran uma casa simples e bem pequena.

Gostava de comprar no armazém Ferraz pela forma carinhosa como era recebida, principalmente pelo atendimento do Nezinho.

Este atendimento fazia com que ela retribuisse sempre de alguma forma.

 Segundo o Wallas, toda vez que a D.Nene passava no mercado trazia carne para o Nesinho, depois ficamos sabendo que era carne de gato.

Será verdade ou apenas intriga de quem tinha ciumes do carinho.

Aldeir Ferraz


Paraguaio e Tibúrcio

 


Fim de tarde , sexta feira e lá no armazém já começava a movimentação do povo para fazer as compras, garantir as latas cheias com o dinheiro recebido da dura lida da semana.

Com facões e enxadas ainda sujos de terra de tanta campina muitos chegavam em suas bicicletas surradas ou nos caminhões que tinham suas carrocerias loadas com aquela gente.

A roupa da turma do corte de cana cobria todo o corpo para evitar os arranhões das palhas, era a moda da hora, não se ia em casa para colocar uma vestimenta melhor pois a pressa de abastecer de comida a casa era prioridade.

O centro da cidade de Visconde Do Rio Branco se alegrava, tinha muito sorriso em meio a  vida dura exposta no rosto aranhado e sujo de carvão de cada homem e mulher.

No meio daquele movimento todo a beira do balcão do armazém cada um pedia seus mantimentos:

- Dez kilos de arroz, 3 kg fubá, , macarrão, massa de tomate, 1 kg de sal, 100grs pimenta, 5 sabão coringa, 01 garrafa de querosene...

O dinheiro era pouco não tinha muito o que comprar, mas o fumo de rolo não faltava e também a linguiça mista que ficava pendurada em um varal improvisado por cima do balcão.

Entre os fregueses que atendia, tinha uma alegria de dar assistência a dois em especial, Paraguaio e Tibúrcio.

Não era nenhuma dupla caipira, nem tampouco artistas de humor, mas quando chegavam a festa estava feita.

Impressionante como sabiam lidar com as dificuldades da vida, brincavam com tudo e com todos.

Uma canção inventada já era o anúncio da chegada deles na porta do armazém:

" Ah se Deus me ouvisse e mandasse pra mim 02 kg de carne e 01 kg de tocin  deixaria minha tristeza e faria feliz os meus fios barrigudin.... "

O Paraguaio  era cantador e tinha um violão em casa e junto com Tibúrcio vez ou outra davam uma palinha lá na comunidade onde moravam.

Tinham muitas histórias pra contar e ali atendendo ao seus pedidos viajávamos nos causos contados.

Uma riqueza que não se mede é a oportunidade de conhecer pessoas com simplicidade, alegria e energia para viver em meio as dificuldades.


Aldeir Ferraz

O VELHO NICANOR


Muitos fregueses passaram na História do Supermercado Ferraz, na maioria tornaram-se  mais do que fregueses, deixaram a amizade e muitos casos pra contar, como o Nicanor.

O Sr Nicanor era um homem alto e forte que possuia uma voz firme, sempre se vestia com um paletó meio amarrotado,chapelão estilo coronel, calças de tecido tergal e botinas surradas,tudo cheirando naftalina.

Na entrada da sua casa tinha uma varanda com uma velha cadeira no qual ficava  horas e horas a cumprimentar as pessoas que passavam na rua e ali também recebia os amigos para longos causos.

Viúvo a décadas e com a familia toda criada, cada um com rumo diferente, morava sozinho e sempre com um ton de bricandeira clamava que na sua vida já não lhe faltava mais nada, apenas uma morena para viver com ele em seu lar. 

E por falar em lar, dentro de sua casa era uma tranqueira só. Muita roupa espalhada pelo sofá e dentro de um  armário que já não fechava as portas, máquina de costura da falecida, pratos e panelas pendurados nas paredes ao lado de teias de aranha, havia também o fogão de lenha com as trempas todas enferrujadas.

O rádio antigão ficava próximo da porta da varanda com volume alto que dava para se ouvir lá na esquina, sempre atento aos programas da emissora, as noticias de falecimento e no horário

Falando em horário, de manhã fazia ele mesmo o  café e quanda dava a hora do almoço, verificava no seu relógio de bolso a hora certa , montava em sua bicicleta monark vermelha e partia para a pensão da Mariazinha no centro da cidade, perto da igreja, lá almoçava todos os dias.

Quem conhecia o Nicanor brincava muito com ele sobre  a bagunça na sua casa:

- O Sr Nicanor tem que fazer uma faxina na sua casa, deve ter muita pulga lá!

E o velho Nicanor respondia:

- Que nada meu filho, tem pulga não, os percevejos comeram tudo.

E dando suas garagalhadas a toda brincadeira feita e todo causo contado, vivia sua vida , como mesmo dizia , do jeito que Deus vai mandando.

Aldeir Ferraz

MARCAS DO QUE SE FOI (PARTE 03)

 A alimentação é essencial para nossa vida. Isso é fato, ocorre que alimentar se tornou também a necessidade de satisfazer nossos desejos e virou um status.

Quem trabalha no comércio alimentício percebe como é essa busca por produtos que garantem a vida, supre os desejos e aponta nossa posição social.

Desde o inicio do armazém Ferraz passei a notar esta situação nas compras de muitas pessoas.

A qualidade versus preço, a propaganda versus o costume é o conflito na hora da escolha.

Dentro do comércio é preciso atender todo o tipo de perfil.

Marcas antigas mostram o costume que vem de geração, como o macarrão Guiricema. Por décadas vêm passando de pai pra filho. O Galo com macarrão tem que ser do Guiricema.

A diferença social durante um tempo era mostrado por aquilo que se adquiria, exemplo:

Extrato tomate Cajamar coisa do povão, extrato tomate elefante era para os mais abonados;

Oléo de milho Mazolla só rico comprava, óleo de soja mais para o povão. O consumo de óleo para a maioria do povo da roça se dividia com a gordura de porco, muitos tinham hábito de criar porcos em chqueiros;

Bacalhau era coisa de rico, o peixe majubinha  para o povo mais pobre;

Arroz japonês, agulhinha para quem tinha mais dinheiro, arroz quebradinho e santa catarina para os mais pobres.

Alcaparras, cogumelos, atum, ervilha.... Itens raros na lista de compras do povão.

Hoje este cenário mudou e o desejo domina a compra de todos e é claro com a  melhora do poder aquisitivo.

O pé de galinha que era um alimento só de pobre, depois que os mais ricos descobriram que ele tem colágeno, disparou no preço.

O pé deu um salto e ficou caro.



sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

MARCAS DO QUE SE FOI (PARTE 02)

 A história nos conta que foram os índios que ensinaram aos colonizadores a tomar um banho, ser mais cuidadoso com a higiene pessoal.

Nos dias atuais contamos com uma infinidade de produtos que nos garantem nossa higiene, mas não era assim em décadas passadas.

Lá no inicio do armazém Ferraz existia produtos de higiene pessoal que eram adquiridos pela freguesia.

O interessante que o produto adquirido mostrava qual sua posição social econômica.

O sabão por exemplo, a marca coringa, um sabão preto era comprado pelos mais pobres. O sabão verde da marca radical era comprado pelos mais remediados e o sabão brilhante (azul e cheiroso) era para os ricos.

O sabonete gessy era do povão, o lux dos remediados. O sabonete Phebo, Francis e lux luxo era dos mais ricos.

Tinha uma situação diferente com o sabonete francis de caixinha. Ele servia como presente, quem nunca ganhou ou deu um de presente?

Os perfumes eram uma beleza, pois naquele tempo era moda andar muito cheiroso, atraía namoro e espantava mosca.

Desodorante Phebo, Rexona, Musk, almíscar, Leite de Rosas, Leite de aveia Davene....

O almiscar era muito usado por padres, lembro do Padre Raimundo que nos abraçava com sua batina e aquele perfume ficava empregnado na gente por muito tempo.

O perfume musk era do tempo que nós homens andavamos com a camisa meio aberta pra mostrar o cabelo do peito perfumado. Na verdade morríamos de inveja do Tony Ramos.

O cabelo era lavado com sabão de côco e os mais abonados usavam creme rince, neutrox, shampoo colorama e para os cabeludos tinha o gel, oleo de ovo e babosa.

Na pele pra tirar alguma frieira tinha pomada minancora, o polvilho antisepico para o chulé, dava pra colocar maizena também.

Por fim não podia faltar neocid que matava bastante piolho.

Aldeur Ferraz


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

MARCAS DO QUE SE FOI (PARTE 1)

 Se eu tiver enganado me corrijam, mas as décadas de 70 e 80 aceleraram o processo de influência das propagandas em nossas vidas.

A personalidade muitas vezes se formatava por publicidades.

O cigarro era clássico nesta formação, cada marca ditava uma regra.

Lá no armazém Ferraz quem comprava o cigarro Mustang era meio peão, meio cawboy. Os cigarros Continental, Vila Rica era do povo ligado ao futebol, aos bares, bate papos, a turma que sempre levava vantagem.

O Carlton, Minister, Malboro era de uma elite de empresários, gente importante, autoridades de alto escalão. Os cigarros Hollywood, Free, Plaza, tinham adeptos com a galera das viagens, da vida mais liberal.

Cigarros filtro longo como o Luxor e o Shelton era do pessoal mais filosófico. Lembro do Prof Milinho, que sempre fumava destes com uma cigarrilha.

Os cigarro, Arizona,derby, imperador sem filtro, fumo de rolo, fumo capitão, dois irmãos, Arapiraca era do povão.

O Charuto cubano era para os comunistas.

Consumir estas marcas promovia a sensação de pertença.

Quem fumava tinha status, era chique e até arrumava namoro.

Eu mesmo comecei a fumar o cigarro Tempo, um cigarro diferente de cor marron, lembrava charuto, pra arrumar uma namorada.

Dei sorte e fui convencido a parar de fumar por causa do meu primeiro namoro.

Aldeir Ferraz



Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...