domingo, 8 de março de 2020

PALHA BENTA

As chuvas que surgem como temporal, tempestade, trombas e cabeças d'água sempre existiram, sendo contado pelos mais antigos, que relatavam as aflições.
Temos uma diferença agora que é a aglomeração humana em cidades, somos hoje 90% urbano e 10% rural e  problemas se potencialisam com as ocupações não planejadas.
Hoje temos estruturas que buscam atuar nos eventos da natureza através da informação, da prevenção e respostas.
Bombeiros, defesa civil, meteorologista, fazem parte da realidade atual, antigamente não existia.
Para saber de chuva apelava-se para a própria natureza. Céu covado,formigas apressadas, galinha da angola no alto do telhado, cigarra cantando eram os alertas.
O socorro era sempre divino,durante as tempestades, a conectividade com o Deus era essencial.
Uma das formas era queimar a palha seca de galhos de plantas que eram abençoadas nas procissões de ramos da semana santa.
Durante os dilúvios, as familias se juntavam diante de um oratório com velas acesas e a palha benta sendo queimada.
Com aquele momento de fé, a chuva se acalmava e por fim um lindo arco-íris surgia.
Nossa relação com a natureza exige conhecimento,atitude e também muita crença que podemos nos relacionar bem com o universo.

Aldeir Ferraz


sábado, 7 de março de 2020

MEDUSA E A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES



Na mitologia grega, a história de Medusa destaca uma mulher com cabelos de serpentes transformava os homens que a olhavam em pedras.
Algumas versões existem sobre Medusa, uma delas é de acordo com a versão de Ovídio, Medusa era uma das irmãs sacerdotisas do templo de Atenas – a única mortal entre as três. Dona de uma beleza impressionante, especialmente por seu cabelo, por ser sacerdotisa Medusa tinha de se manter casta. A tragédia entrou em seu destino quando Poseidon, deus dos oceanos, passou a desejar Medusa – e, diante da recusa, a estuprou dentro do templo.
Atena, furiosa pelo fim da castidade de sua sacerdotisa, transformou o cabelo de Medusa em cobras, e lhe rogou a maldição de transformar pessoas em pedra. Ela depois ainda seria assassinada por Perseu (fonte hypenes.com.br).
Uma mulher violentada e ainda responsabilizada por isso, infelizmente não é apenas uma lenda, uma história inventada.
Recentemente no litoral brasileiro uma mulher foi estuprada e a policia na época justificou que por ser mulher estava em lugar errado e procurou tal situação.
Culpar a mulher, dizer que ela se veste de forma provocativa, que a tentação é maior, a carne é fraca, são basicamente os argumentos dos  que cometem a violência.
Todos os dias assistimos o acontecimento de feminicidios, cada vez mais barbaros.
É como se o belo transforma-se em monstro que precisa ser eliminado, ter a sua cabeça cortada, pois o coração de pedra do agressor, na visão machista, é culpa da vitima.
As nossas Medusas de hoje estão por aí, graças a maneira de como construímos nossa sociedade.

Aldeir Ferraz

sexta-feira, 6 de março de 2020

E AS CIDADES

A Mudança Climática, o Crescimento Populacional e o Planejamento das Cidades

Administrar uma cidade é desafio enorme e que cada vez mais envolve novos componentes.
Os efeitos terríveis da mudança climática já não estão mais distantes de nós, tudo tem acontecido com intensidade, o exemplo são os execessos das chuvas, os execessos das estiagens, o surgimento de novas doenças.
O meio ambiente tenta se adaptar ao meio ambiente que estamos constantemente adaptando, modificando.
Tragédias se sucedem e batem em nossas portas.
O crescimento populacional nas cidades exige que a infra estrutura se renove, se transforme para acolher a todos, mas muitas vezes essa transformação é mais excludente, sendo que deveria ser totalmente includente.
As aves tem ninho, habitam os céus, mas veja onde moram os filhos de Deus, que são as vítimas primeiras deste mundo que está sendo sacudido por nossas incompreensões.
As cidades precisam levar em conta, nos planejamentos, os tempos que agora vivemos, tempos de fúrias e também da doçura da nossa mãe terra, é preciso encontrar os caminhos de repactuarmos com a inclusão de todos com a qualidade de vida.
Desafios que apenas os que sabem entender os tempos que vivemos.

Aldeir Ferraz

quinta-feira, 5 de março de 2020

RASTRO DE DESTRUIÇÃO



Por quase 08 anos tive o desafio de atuar na defesa civil.
Enfrentei muita situação extrema e posso testemunhar que em termos de inundação, essa que aconteceu neste dia 04 de março em Ubá, foi a mais impactante, pela rapidez em que as águas do rio subiram, levando ao transbordamento.
Destruição em todo trecho da beira rio, calçadão com lama, portas de lojas arrebentadas, carros destruídos, gente desolada com tanto estrago.
Os mais antigos sempre alertam sobre a enchente das goiabas, que geralmente acontece próximo a 19 de março, dia de São José, mas ela veio feroz e antecipada.
Provavelmente uma cabeça d'água antigiu a cabeceira do rio Ubá, pois em outras áreas não tiveram chuvas com tanta intensidade.
Neste momento fica aqui a minha solidariedade aos que agora estão sofrendo e também desejo muita força a todas as equipes da Prefeitura e voluntários que irão reconstruir o cenário de Destruição.
Ainda não conseguimos compreender a natureza e talvez a natureza não nos compreenda, pois como diz Bertol Brecht:
Um rio que tudo destrói, chamam de desumano, mas ninguém chama de desumana as margens que o aprisionam.

Aldeir Ferraz

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

JESUS DA GENTE

E o carnaval contribuiu mais uma vez para refletirmos sobre a vida que temos.
A Escola de Samba da Mangueira produziu um espetáculo que mexeu com todos.
Protestos e saudações sobre o desfile se revezaram nas redes sociais e rodas de conversas.
Tenho a opinião de que nunca tivemos tão próximos de juntar a divindade com a humanidade.
Ver um Cristo na imagem de um moleque do morro, no rosto de uma mulher negra, representado em um indígena e sofrendo toda sorte de preconceito e opressão, acendeu a luz da mesma humanidade que somos, desde os longínquos tempos do Império romano.
A diferença dos tempos de hoje é que temos uma crença cristã que nos impõem condições de vivência.
Só que estas condições são estabelecidas de cima pra baixo, do altar para os bancos onde estamos ajoelhados.
Aceitamos um Jesus deles e o Jesus da gente continua no nosso dia a dia.
O dia a dia do desemprego, da miséria, da fome, do extermínio...
A religião deveria ter essa missão, revelar o Cristo de verdade e tirar a trave que fecha nossos olhares as mazelas sociais.
Destruir os altares, ir para realidade da vida do povo é reconhecer o divino no humano.
Apesar dos protestos conservadores, valeu a mensagem e que me fez lembrar o Cristo de Joãozinho Trinta, mesmo proibido olhaí por nós.

Aldeir Ferraz 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

APERTOS DA MADRUGADA

Um dia se encerra, já quase noite estou em casa com a família, depois de muito trabalho.
Dentro de casa é aquela peleja, cozinha e sala tudo banguçado, também, não é por menos, quem tem um vulcazinho sabe como as coisas funcionam.
A esposa prepara o jantar e tento ajeitar as coisas, quase em vão.
Banho tomado, jantar saboreado, um tempo na TV e internet e cama, todos, aliás quase todos, êta canseira.
O silêncio dentro de casa,enfim começa, mas do lado de fora ainda persiste a turma boêmia.
O sono já começa a relaxar o corpo que se agitou, mas de súbito o sossego é interrompido.
Algumas dores e mal estar me levam a pertubação e sem lugar para ficar.
Vou ao banheiro, vou a cozinha, vou pra sala e a dor aumentando e junto calafrios.
Minha esposa pergunta se estou bem e como homem desleixado com a saúde respondo de forma dolorida que sim.
Vou a geladeira e pego um remédio que longo tomo e nada de fazer efeito.
Nessa hora dá pra pensar em tudo, vou pra janela, olho para o céu e penso será que São Pedro tá me chamando?
Vou no google para descobrir o que acontece ( não façam isso), corro para banheiro e ligo o chuveiro e tudo de ruím que estava dentro de mim sai para fora.
Chego a uma conclusão, vou parar de jantar, acho que na minha idade não faz bem.
Por fim, já ouvindo o galo cantar, resolvi escrever.
Que susto, fiquei pensando que nesta noite não escreveria mais, apenas quem sabe algumas psicografias.

Aldeir Ferraz

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Agouros

Final de tarde, e o Sol já toma seu caminho, da roça a turma se recolhe de mais um dia de lida.
Na estrada em rumo pra casa, numa árvore, em galho seco, um piado de gavião arrepiou a todos.
Naquele momento uma certeza bateu no cumpadre Zé, um homem antigo da região:
Gavião que pia é velório na certa que teria.
Cumpadre Zé contava que os agouros da natureza feito por gaviões, garrinchas, corvos era o aviso da partida de alguém.
E essa profecia do pássaro de fato realizou, Tia Fia, deixava o mundo, depois de quase cem anos de vida.
Apesar da idade da falecida, os agouros alertavam também para a morte de muita gente nova.
Assustados com isso chamaram a benzedeira da região, Dona Maria, que era muito querida, pois até parto fazia.
Dona Maria organzou uma novena e de casa em casa com suas orações e simpátias da morte protegia os que com fé a seguia.
A cada terreiro que chegava, Dona Maria riscava uma cruz no chão e bem no meio enterrava uma faca.
Os pios mudaram de tom, gavião já não acertava uma, as mortes cessaram.
Aquele povo que tinha velório toda semana já estavam protegidos.
Fé e crença nos cercam ao longo do tempo, um mistério que não se explica,mas os testemunhos destas histórias estão por aí sendo contados.

Aldeir Ferraz

Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...