quarta-feira, 31 de agosto de 2022

PROTEÇÃO

 A casa é simples, telhas que cobrem da noite e do Sol, portas de madeira com fechaduras antigas e janelas fechada com taramela.

A simplicidade do ambiente com poucos móveis, muitas fotos nas paredes e santos na estante trazem uma paz que muita mansão não tem.

A alegria de que mora ali e faz questão de ter uma pequena horta no pequeno quintal é de encantar.

Para um sonhador poderia afirmar isso como um paraiso, mas claro que tudo o que vi é o contraste com a dura realidade da vida de muita gente.

Agora que me chamou a atenção é a espiritualidade do local. Atrás da porta,  estava pendurada por um prego, uma ferradura.

Ferradura atrás da porta de entrada da casa é simbolo de proteção, como os antigos faziam, ali também estava sendo feito.

Quem possui uma espiritualidade forte, ou seja quando somos guiados pela busca de boas energias,cada coisa tem um significado importante.

Que os bons espiritos sempre nos protejam.

Aldeir Ferraz





domingo, 28 de agosto de 2022

ENCONTROS

 

A cerca de madeira, um paiol, arvores e um belo céu azul é sem dúvidas um ótimo cenário para o encontro das irmãs, as filhas da Dona Jovelina.

Admirado ouvindo tudo, o Zé Avelino estava ali atento, testemunhando tudo o que se dizia.

A Dalica e a Palmira se misturam a este cenário no qual viveram grande parte de suas vidas.

Momentos bons e outros de dificuldades, mas que marcam uma história bonita de se escutar e de passar para muitas geraçöes.

E o que é interessante nestes encontros é perceber que até a natureza como um grande espirito faz festa, celebra essas coisas da vida.

Os pássaros cantam com mais força, o vento se torna mais suave, o Sol brilha ainda mais.

 A vida nos dá estes prazeres.

Viva estas belas irmãs, que sejam sempre eternas nos nossos corações.

Aldeir Ferraz 

domingo, 31 de julho de 2022

O Quilo Bem Pesado


Quase todo mundo tem o seu açougueiro de preferência, afinal de contas quem não quer na sua refeição ou no churrasco, aquele apetitoso pedaço de carne.

Sem a ajuda de um bom profissional, certamente você vai passar raiva e estragar o belo momento de se deliciar com um bom tira gosto.

O ritual de ir fazer as compras em algum açougue é sagrado, primeiro olha-se as peças de carne na vitrine ou ainda, caso chegue bem cedo, apreciar a turma da desossa cortando o porco e o boi pendurados por ganchos em uma barra de ferro.

Para disfarçar o desconhecimento de cada corte de carne, geralmente arriscamos alguma pergunta:

“ - Tem patinho, tem chã de dentro, chã de fora, músculo, cupim, pernil, costela, tem contra filé, a picanha tá boa…”

O açougueiro, esperto, já nota o nosso desconhecimento, pois tudo está exposto e de cara já sabe, esse aí vai comprar confiando no que eu disser.

Para amarrar mais o freguês, faz a pergunta fatal

“- Você quer com gordura ou sem.”

Nesta hora vem a empolgação e começamos a viajar na imaginação daquela carne bem assada, nossa!

O açougueiro pega a peça de carne e começa o preparo, cortando os bifes, tirando as pelancas, garantindo a gordurinha, muitas das vezes por desconhecer da coisa você logo pensa:

“ Se é gato ou lebre não importa, mas que tá bonito o corte, isso tá, eita açougueiro bom!”

Por fim agora que vem o “gran finale”, quando seu açougueiro pergunta bem alto na frente de todo mundo

“- Quanto de peso você quer?”

Nesse momento remexemos o bolso para garantir se tem dinheiro que vai dar para pagar a conta e tem hora que o que tem é a conta mesmo.

“- Pode ser um quilo!”

Com rapidez nosso especialista açougueiro leva a carne na balança e canta o peso:

“ - 01 quilo e 200 grs no capricho, pode ser?”

Todos a sua volta já te olham aguardando a sua resposta, e com seu coração gelado com a mistura do susto que levou, pois vai precisar de mais dinheiro e da vontade de levar o produto, elevado ao quadrado da vergonha de falar que é só um quilo mesmo, acaba cedendo  e responde engasgado::

“- Pode ser!”

Moral desta história:

O quilo do açougueiro sempre é bem pesado.


Aldeir Ferraz



domingo, 3 de julho de 2022

Caixeiro

 "Um bom caixeiro tem que saber embrulhar e amarrar o freguês!"

Assim começa a minha trajetória no mundo do comércio. 

O primeiro conselho dado pelo patrão no primeiro dia de serviço, parecia soar esquisito, mas me trouxe um grande ensinamento pra vida toda.

Era eu, menino franzino, acostumado a andar apenas de calça curta e camiseta, coloquei uma calça comprida de tergal com uma camisa de botão e fui para o meu primeiro emprego de verdade.

Tremulo me apresentei no armazém e ali recebi dicas e uma vassoura pra logo começar a lida varrendo o chão.

A cada vassourada olhava tudo, era um mundo diferente que até então não  tinha nas brincadeiras na rua e na sala da escola.

O balcão enorme, muito comprido, dividia o espaço para o atendimento da freguesia, de um lado o freguês e do outro lado nós, os caixeiros ou balconistas. 

Sobre o balcão tinha jornal velho, barbante, saquinhos de papel de vários tamanhos e a balança de pratos com os pesos ao lado. Cada peso tinha uma gramatura, 50grs,100grs, 500grs, 1kg, 5kg...

No balcão também colocava-se muita mercadoria a disposição para venda como ovos caipira, queijo mineiro, vidro de balas, rapadura...

 No balcão as vezes ficava até apertado para atender os pedidos, o espaço se tornava pequeno. Cada caixeiro procurava se ajeitar e colocar cada item solicitado.

Debaixo do balcão a bagunça se acumulava, era muita correria e não dava muito tempo para a organização.

Com a caneta atrás da orelha, nossa atenção aos pedidos era total. Quilos e quilos eram pesados na balança e com o tempo a habilidade era tanta que na mão tínhamos a noção de cada peso. Por vezes disputávamos quem acertava mais, era o conhecido "mão boa".

Quase não existia produtos embalados como tem hoje. O arroz, o feijão,  o milho,  a açúcar, praticamente tudo passava pela concha.

Com um saquinho de papel em uma mão e a concha na outra o ritmo era frenético, por isso acertar o peso na hora tinha uma importância, pois caso contrário você teria que andar uma distância entre a balança  e o saco onde estava o produto, haja perna.

A caneta que ficava atrás da orelha, a toda era usada pra fazer os cálculos, não existia calculadora e tudo ao final de uma soma tirava-se a prova dos nove que era a garantia da conta certa.

Uma escada era usada para pegar os produtos nas prateleiras de madeira. Subir e descer as escada era uma constância.

.... siga o próximo capitulo

 



domingo, 19 de junho de 2022

As Aventuras de Let

Vamos usar o apelido "Let" para contar esta história, para preservar sua identidade, mas não poderíamos deixar de contar suas aventuras.

Let é conhecida comoba perigote das mulheres, pois é piscar e ela da crau, não perdoa.

Suas amigas de trabalho não contam, mas já tomaram uns passes delas.

Apesar de sua casa ter banheiro com teto espelhado, coisa que poderia ser no teto do quarto, o abatedouro preferido da Let são os moteis.

Let já frenguentou todos da região, até o antigo Bariloche.

Quem vai ao motel sempre tem os seus fetiches, como diz o Wallas e o André, é lugar de passar o rodo, os caras tem experiência nisso.

Falando em passar o rodo, o grande fetiche da Let é esse, passar o rodo.

Todo motel que Let vai, depois do rala e rola, ela liga pra recepção pedindo um pano e um rodo pra limpar o banheiro e o quarto.

Isso que é mania de limpeza, não basta uma parceira limpinha e cheirosa, o quarto também tem que estar nos trinks😍.

quinta-feira, 9 de junho de 2022

HUMANO


Noite fria, o vendo gélido balançava as folhas das árvores no Jardim e da janela podia-se ver que tudo estava em silêncio, quase ninguém se aventurando pelas ruas.

Naquela noite um barulho de uma lixeira sendo revirada por um cachorro chamou a atenção, não pelo que o bagunceiro estava fazendo, mas por uma cena que surgiu logo adiante,um rapaz envolto em um pedaço de papelão e uma garrafa de cachaça ao lado.

Ao avistar de sua janela tal cena, Zé Luiz não pensou duas vezes, desceu e uma blusa de frio, mais um cobertor levou para aquela pessoa.

Estas pessoas que na rua dormem, conhecidos como moradores de rua, já se tornaram parte de um cenário triste que já acostumamos.

Como assim já acostumamos? Ver pessoas ao relento e o pior que cada dia aumenta mais.

Estes vagantes por nossas ruas, são pessoas que perderam a identidade de uma sociedade que deveria prover a todos de casa, comida e trabalho,mas que ao contrário tem aprofundado um sistema em que cria um mundo dos excluídos.

Olhar cenas de homens e mulheres dormindo na rua e não se indignar significa que estamos perdendo a humanidade.

A propósito do nosso Zé Luiz, seu gesto demonstra esperança, pois o que fez, fez sem querer aparecer, faz isso como compromisso cristão.

Comprometer se com o menor dos menores deveria ser a prática de todos, isso se chama santidade, isso é ser humano.


Aldeir Ferraz

domingo, 5 de junho de 2022

O Normal e o Anormal

  Tem coisas que acontecem no dia a dia que classificamos como normal e outras como anormal.

  Existem situações que nos surpreendem como uma pessoa feliz, bem humorada, um bom dia de alguém, uma atitude honesta.

  Atitude honestas então é que nos deixam maravilhados e foi que acontecem próximo ao Supermercado Ferraz.

  Um veiculo esbarrou em um carro parado e acabou que com  o impacto gerou um pequeno amassado na lataria. O motorista que provocou a situação parou e viu o estrago, apesar de simples, procurou o dono do carro, mas não encontrou.

   Como não apareceu ninguém, poderia ter indo embora, mas não foi o que fez. Foi no Supermercado e pediu um papel onde nele escreveu o número do seu telefone com seu nome.

    Pouco tempo depois o dono do carro danificado, que não percebeu o dano, viu o papel no para brisa e se surpreendeu com a atitude.

     O gesto do motorista que deixou o recado fez com que o dono do veiculo danificado ficasse  surpreso e todos que presenciaram aquilo, avaliaram como algo anormal.

      O normal não deveria ser anormal, mas o que acaba acontecendo que o anormal é algo que não é normal, mas que deveria ser normal , ao invés de ser anormal.


Aldeir Ferraz

      

      


segunda-feira, 30 de maio de 2022

VISITAS NA HISTÓRIA


Quando tiramos um tempo pra relembrar o tempo que passou, muita coisa se resgata e os mistérios também se aprofundam.



São poucos que possuem a curiosidade de saber as origens, procurar entender como chegamos até aqui.



Gosto de descobrir sobre o passado, também tenho ansiedade sobre o futuro, mas as histórias contadas pelos mais antigos me trazem uma paixão maior.



Neste final de semana tive a felicidade de acompanhar minha mãe em uma visita na casa da minha madrinha de batismo, Tia Hilda, na comunidade de são Francisco em VRB.



A comunidade de São Francisco tem uma coisa boa ainda, podemos encontrar com muita gente que possuem laços familiares e que guardam muitos casos de um tempo diferente dos que vivemos nos dias de hoje.



Na conversa das duas comadres, tratamento usual de tempos outroras , falou-se de tudo, de saúde, dos remédios caseiros, das épocas de alegrias e de dificuldades.



Em determinado momento, minha madrinha puxou o assunto sobre o pai de minha mãe, o Joaquim Inácio. Muito pouco se sabe dele, tem muito mistério sobre a sua vida. Existem pedaços de história contada por uns e outros, mas coisas bastante vagas.



Minha mãe tinha 03 anos quando ele faleceu e não tem memória do seu semblante, apenas que uma vez, lembra que estava em seu colo, mas não tem memória do seu rosto.



Alguns fatos contados na prosa reafirmam um pouco da personalidade dele, como que era analfabeto e que para saber das horas pedia aos filhos que olhassem o relógio de parede e informasse a ele (este relógio ainda existe). A situação de saber as horas já mostrava como era, pessoa muito severa, pois não falava duas vezes e aí de um dos filhos não desse resposta de pronto.



Minha vó Jovelina temia as reações dele, pois tinha hábitos agressivos quando ingeria bebida alcoólica. Alguns diziam que ele se tornou assim , agressivo, por uso de bebidas batizadas com alguma coisa que alguém colocava e o deixava assim. Já existe outra versão de que um espírito ruim tinha apossado dele. Não existia naquele tempo um tratamento da saúde mental como há hoje, talvez explicaria a sua forma de ser, claro que devemos entender também como era a criação da época, os homens eram rudes.



Morreu novo, deixou uma família grande e apesar de analfabeto não era bobo, adquiriu muitas terras e também tinha capacidade para os negócios.



Minha mãe e minha Tia Palmira, as caçulas da família tiveram passagens de muito aperto com ele, minha Vó Jovelina por vezes tinha que se esconder com as meninas no meio do mato e n o brejo, todas as vezes que ele se tornava agressivo. Tinha ele uma espingarda que dava tiros toda vez que estava transformado.



Num episódio final de sua vida, chegou a dar minha mãe e minha Tia Palmira para adoção de outras famílias. Minha Vó Jovelina sofreu com isso e somente com a morte dele, ela reuniu a sua família de forma completa e foi cuidar das plantações nas propriedades que possuíam.


O retorno das filhas da Dona Jovelina não foi fácil, pois o filho mais velho, Avelino Inácio, que recebeu a missão de sua mãe, de buscá-las, quase não teve êxito, Não queriam devolver, foi preciso engrossar o caldo.



Conta-se também que o Joaquim Inácio comprou uma casa na Chácara onde levou parte dos filhos e sua esposa e que em vida dividiu as terras que adquiriu em vida para os filhos.



Muito mistério ainda existe deste tempo, poucos sabem falar, mas o fato que hoje a família dos Inácios é muito grande e está espalhada por aí.



Todos até hoje têm um profundo respeito pela memória da Dona Jovelina, nossa vó e também carinhosamente tratada como madrinha, que enfrentou muita coisa e criou sua família com dignidade.




Aldeir Ferraz

domingo, 29 de maio de 2022

CREPÚSCULO

Zizizizi! Um grilo, incansável, não permite o silêncio daquela hora.

Um pássaro noturno rompe a noite fria com sonoros gritos de que procura um pouso.

A janela semi aberta e a varanda coberta por telhas de barro destacam se no cenário deste Crepúsculo.

Lá do fundo desta velha casa, da cozinha, proximo ao fogão de lenha, o velho rádio transmite o locutor a falar.

São dezoito horas, hora da Ave Maria e em preces e com voz da aflição clama a Nossa Senhora, rogai por todos nós, os pecadores desta Terra.

Ave Maria 
gratia plena Dominus tecum
Et Benedicta tu in mulieribus
Et Benedictus frutus ventris
Ventris tuis Jesus...


Aldeir Ferraz




sábado, 14 de maio de 2022

E O BOLO?

 Mexer com gente trapalhado é um caso sério.

Que diga a Luciana que aniversariou no sábado do dia 14 maio de 2022.

Como tem que trabalhar e não tem outro jeito, celebrou seu aniversário no serviço,no Supermercado Ferraz.

De cara, uma colega já te pergunta a idade.

Gente, será que ninguém aprendeu ainda, depois do 18 anos não se fala mais a idade.

Mas tudo bem. O problema foi quando rolou um refrigerante abacatinho e aquele parabéns.

Toda emocionada com as palmas dos colegas, Luciana ainda ficou mais encantada quando o André chegou com um bolo doce na mão.

Todos ali vibraram e ela mais ainda. Acontece que terminou o parabéns, o André pegou o bolo de volta e entregou a um rapaz que estava do lado de fora do supermercado aguardando uma carona.

O bolo não era para a Luciana, apenas foi emprestado pra cantar os parabéns.

Foi uma gargalhada só, deram o bolo na Luciana, não lhe deram um bolo.

O problema nesta história é que o bolo foi pra outra festa, agora pode ser considerado um bolo de segunda mão.

E o bolo, meu Deus! Isso que dá ter amigo trapalhado.

Aldeir Ferraz

domingo, 1 de maio de 2022

TIO DEGUINHO E A CANOA FURADA

Muita gente não conhece,mas o Zé Pequeno conhece o Tanque Grande, lá no alto da Serra de Santa Maria em Visconde do Rio Branco, um lago enorme e cheio de histórias pra contar.

Falei do Zé pequeno, pois trabalhou lá encima para o Aécio, que não é o Neves, que tinha uma fábrica de iogurte, foi um dos primeiros a produzir o produto na nossa região, aliás eram deliciosos, mais do que os de hoje.

Mas a nossa história é com o Tio Deguinho, que morava lá para os lados da Cachoerinha e Roça Alegre, divisa de VRB com Ubá, região hoje de muita gente da familia Freitas.

Sujeito novo, barba preta, nas horas de folga que seu pai Onésimo lhe dava, caçava um jeito de se divertir.

Naquele tempo ou você procurava um forró  para curtir Tonico e Tinoco, Cascatinha e Yana, um Luiz Gonzaga ou partia para uma pescaria, como dizem "tá nervoso vai pescar", mas o Tio Deguinho sempre foi calmo, pescava não pra se acalmar, mas pra dar uma pitada num cigarrinho de palha, aliás lá na roça plantavam fumo.

Voltando ao Tanque Grande, conta ele que certa vez foi pescar com alguns amigos e partiram de cavalo lá pro alto de Santa Maria.

Como toda aventura tem um grau de emoção, depararam com uma canoa abandonada na beira da lagoa e não satisfeitos de pescarem na beira daquele aguaceiro, resolveram remar com a  embarcação para outras bandas onde os peixes maiores ficavam.

E lá se foram os amigos, era madrugada e tudo escuro, mas estavam tendo sucesso de pegar os peixes, alguns enormes, não vou falar o tamanho, se não irão dizer que é conversa de pescador.

Com o barco cheio, os aventureiros começaram a ter problemas, não é que o trem começou a afundar?

No escuro, cheio de peixes pescados e um garrafão de cahaça, viram que estavam em apuros.

Pular e nadar até a beira do lago seria a solução, mas e os jacarés? lá tinha muito jacaré, dizia minha Vó. Não ira rolar essa opção.

A saída foi uma lata vazia de massa de tomate que o Tio Deguinho trouxe para beber cachaça.

Com a latinha e muita rapidez o Tio Deguinho foi retirando a água da canoa, enquanto os outros amigos remavam, tiveram que jogar os peixes de volta pra lagoa e também o garrafão de pinga pra aliviar o peso.

Após muito aperto, conseguiram chegar na beira do lago e aliviados com o susto pegaram os cavalos e partiram pra casa com as mãos vazias.

Ufa! que Canoa furada foi essa.

Aldeir Ferraz


quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

UAI

Uai!

Levantei bem cedo e quando coloquei o pé no chão, não encontrei meus chinelos.

Uai! Tava aqui e não está mais?

Abro a janela para que a luz do Sol entre em casa, quando olho lá no céu, as nuvens carregadas.

Ua!? Vai chover?

A campainha de casa, vou atender e a visita que chega me deixou surpreso.

Uai! Você aqui?

O almoço estava caprichado e tive que elogiar.

Uai sô, que trem bão! 

Enfim, esse uai é mais do que uma palavra, é filosofia de vida.

Num é que mesmo, uai!?

Aldeir Ferraz




terça-feira, 25 de janeiro de 2022

PÃO VELHO

 "Dona tem pão velho?"

"Moço tem sobra de comida?"

Eram falas que ouvia bastante quando era mais novo. Sempre tinha alguém batento na porta em busca de pão velho e sobra de comida.

Achava que existia muita miséria, por isso que haviam muitos miseráveis, no sentido de serem frutos da miséria.

Hoje entendo que os miseráveis são frutos da fartura que o mundo tem, mas que é controlada por gananciosos.


Aldeir Ferraz

domingo, 23 de janeiro de 2022

A VENDA DO SR ZÉ FERREIRA

Era ali, logo depois da igrejinha, perto de um top de morro na comunidade de São Francisco em Visconde do Rio Branco, a Venda do Sr Zé Ferreira.

Tinha de tudo para um venda de roça, secos e mollhados variados, desde o salame no balcão, a linguiça mista pendurada, o refrigerante, o fumo de rolo de corda e desfiado até claro a cachaça.

O Sr Zé Ferreira, pequeno de estatura com a pele surrada pela lida de roça, bigode aparado, ficava na beira do seu balcão sempre pacientemente atendendo a sua freguesia.Ouvia ali muitos "causos" e contava os seus.

Quase todas as noites na igrejinha existia as rezas e logo após, a turma tinha que passar na sua venda, também a escola próxima, tinha a criançada que achegava durante o dia pra comprar balas e pipoca.

O Sr Zé Ferreira gostava de abastecer seu comércio realizando compras no nosso armazém Ferraz.

Gostava de ser atendido pelo Marquinho, mas também eu fazia questão de atendê-lo. A prosa com ele era boa.

Chegava com sua charrete puxado por um belo burro, estacionava na cocheira da rua de trás e seguia para o armazém com chapéu na cabeça e sacos panos para carregar as compras.

Assim que terminava as compras e elas eram embaladas na sacaria de pano, ele logo solicitava:

"Entrega na cocheira, pode deixar na charrete que tem um burro queimado".

Na brincadeira sempre um perguntava se caso chegasse lá só encontrasse cinzas. A risada era geral, mas isso que fazia o prazer da convivência e da amizade.

Recebi ontem a notícia do falecimento do Sr Zé Ferreira, infelizmente tem tempos que não o via, mas nos fragmentos da memória tenho boas lembranças suas.

Siga em paz  Sr Zé Ferreira e se achegue aos muitos amigos e parentes que já estão lá em outra dimensão.

Quem sabe lá exista uma venda de  roça como a de São Francisco para ter muitos "causos" pra contar.

Aldeir Ferraz




sábado, 22 de janeiro de 2022

A VIDA É ABSTRATA

 A vida é interessante. Veja, para que tenhamos ela, precisamos de realizar atividades para produzir alimentos que garantam sua sustentabilidade. Sem as proteínas necessárias a vida acaba.

Nos movemos todos os dias para isso, trabalhar para viver, certo?

Mas a vida humana não é só o real, o concreto da sobrevivência, a vida também é abstrata. Talvez seja mais abstrata do que real.

Passamos todo momento da vida com algo abstrato que nos provoca.

Amor, ódio, raiva, carinho, felicidade, tristeza.... Tudo isso está presente em todo momento que vivemos.

A busca humana é em parte a busca da sobrevivência material, lutamos contra a fome e as doenças, mas somente isso não nos satisfaz.

Nossa realização plena é a realização do abstrato.

Quem tem ódio, quer que esse ódio se espalhe até alcançar e destruir o que lhe provoca.

Quem tem amor, quer que esse amor se transforme em felicidade partilhada.

O ter não é apenas real, o ter te leva as sensações invisíveis.

O ser independe do ter, o ser é inimaginável.

O abstrato nos inquieta e toma conta da maior parte de nossas vidas.

Aldeir Ferraz



sábado, 8 de janeiro de 2022

ESPÍRITOS

 


Manhã chuvosa, na varanda da casa contemplo a paisagem viva da natureza. Pássaros vibrantes com asas abertas no céu efetuando razantes em meio as gotas de chuva vindas das nuvens cinzas e luminosas, árvores, algumas com flores outras sem, balançam seus galhos com as folhas verdes molhadas,ventos suaves vaporizam todo o frescor deste tempinho bom.

Todo este ambiente deixa-nos leve, produz uma paz espiritual que transporta a uma  dimensão de luz.

Dimensão de luz, paz espiritual, este êxtase raramente vivido revela o que de fato somos, espíritos presos em um corpo, encarnados.

A cultura comum não trata este ser espiritual que somos, ao contrário, evitamos a interiorização e vivemos a exteriorização, tudo é imagem, é a aparência, é o status, o resto é miragem, ilusão.

Até Deus é tratado como imagem e semelhança a nossa forma de ser.

Deus como um Grande Espírito se revela não aos olhares exteriores, mas ao nosso interior.

Sentir a chuva, o vento, o som da natureza, perceber o tempo passar bem devagar, os nossos desejos, nossos sentimentos, alegrias, dores...eis o nosso Deus aí, o nosso Grande Espírito acolhedor.

Somos os pequenos espíritos que vivem nessa dimensão interna e externa em busca de uma eternidade.

Nem todos terão a eternidade, pois o que nos mantém vivos espiritualmente é a energia do amor.

Quando essa energia não é alimentada, ela se apaga e o espírito desaparece.

Que o eterno seja o nosso destino, que o amor não se apague nunca.

Aldeir Ferraz


Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...