Quando tiramos um tempo pra relembrar o tempo que passou, muita coisa se resgata e os mistérios também se aprofundam.
São poucos que possuem a curiosidade de saber as origens, procurar entender como chegamos até aqui.
Gosto de descobrir sobre o passado, também tenho ansiedade sobre o futuro, mas as histórias contadas pelos mais antigos me trazem uma paixão maior.
Neste final de semana tive a felicidade de acompanhar minha mãe em uma visita na casa da minha madrinha de batismo, Tia Hilda, na comunidade de são Francisco em VRB.
A comunidade de São Francisco tem uma coisa boa ainda, podemos encontrar com muita gente que possuem laços familiares e que guardam muitos casos de um tempo diferente dos que vivemos nos dias de hoje.
Na conversa das duas comadres, tratamento usual de tempos outroras , falou-se de tudo, de saúde, dos remédios caseiros, das épocas de alegrias e de dificuldades.
Em determinado momento, minha madrinha puxou o assunto sobre o pai de minha mãe, o Joaquim Inácio. Muito pouco se sabe dele, tem muito mistério sobre a sua vida. Existem pedaços de história contada por uns e outros, mas coisas bastante vagas.
Minha mãe tinha 03 anos quando ele faleceu e não tem memória do seu semblante, apenas que uma vez, lembra que estava em seu colo, mas não tem memória do seu rosto.
Alguns fatos contados na prosa reafirmam um pouco da personalidade dele, como que era analfabeto e que para saber das horas pedia aos filhos que olhassem o relógio de parede e informasse a ele (este relógio ainda existe). A situação de saber as horas já mostrava como era, pessoa muito severa, pois não falava duas vezes e aí de um dos filhos não desse resposta de pronto.
Minha vó Jovelina temia as reações dele, pois tinha hábitos agressivos quando ingeria bebida alcoólica. Alguns diziam que ele se tornou assim , agressivo, por uso de bebidas batizadas com alguma coisa que alguém colocava e o deixava assim. Já existe outra versão de que um espírito ruim tinha apossado dele. Não existia naquele tempo um tratamento da saúde mental como há hoje, talvez explicaria a sua forma de ser, claro que devemos entender também como era a criação da época, os homens eram rudes.
Morreu novo, deixou uma família grande e apesar de analfabeto não era bobo, adquiriu muitas terras e também tinha capacidade para os negócios.
Minha mãe e minha Tia Palmira, as caçulas da família tiveram passagens de muito aperto com ele, minha Vó Jovelina por vezes tinha que se esconder com as meninas no meio do mato e n o brejo, todas as vezes que ele se tornava agressivo. Tinha ele uma espingarda que dava tiros toda vez que estava transformado.
Num episódio final de sua vida, chegou a dar minha mãe e minha Tia Palmira para adoção de outras famílias. Minha Vó Jovelina sofreu com isso e somente com a morte dele, ela reuniu a sua família de forma completa e foi cuidar das plantações nas propriedades que possuíam.
O retorno das filhas da Dona Jovelina não foi fácil, pois o filho mais velho, Avelino Inácio, que recebeu a missão de sua mãe, de buscá-las, quase não teve êxito, Não queriam devolver, foi preciso engrossar o caldo.
Conta-se também que o Joaquim Inácio comprou uma casa na Chácara onde levou parte dos filhos e sua esposa e que em vida dividiu as terras que adquiriu em vida para os filhos.
Muito mistério ainda existe deste tempo, poucos sabem falar, mas o fato que hoje a família dos Inácios é muito grande e está espalhada por aí.
Todos até hoje têm um profundo respeito pela memória da Dona Jovelina, nossa vó e também carinhosamente tratada como madrinha, que enfrentou muita coisa e criou sua família com dignidade.
Aldeir Ferraz
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