"Um bom caixeiro tem que saber embrulhar e amarrar o freguês!"
Assim começa a minha trajetória no mundo do comércio.
O primeiro conselho dado pelo patrão no primeiro dia de serviço, parecia soar esquisito, mas me trouxe um grande ensinamento pra vida toda.
Era eu, menino franzino, acostumado a andar apenas de calça curta e camiseta, coloquei uma calça comprida de tergal com uma camisa de botão e fui para o meu primeiro emprego de verdade.
Tremulo me apresentei no armazém e ali recebi dicas e uma vassoura pra logo começar a lida varrendo o chão.
A cada vassourada olhava tudo, era um mundo diferente que até então não tinha nas brincadeiras na rua e na sala da escola.
O balcão enorme, muito comprido, dividia o espaço para o atendimento da freguesia, de um lado o freguês e do outro lado nós, os caixeiros ou balconistas.
Sobre o balcão tinha jornal velho, barbante, saquinhos de papel de vários tamanhos e a balança de pratos com os pesos ao lado. Cada peso tinha uma gramatura, 50grs,100grs, 500grs, 1kg, 5kg...
No balcão também colocava-se muita mercadoria a disposição para venda como ovos caipira, queijo mineiro, vidro de balas, rapadura...
No balcão as vezes ficava até apertado para atender os pedidos, o espaço se tornava pequeno. Cada caixeiro procurava se ajeitar e colocar cada item solicitado.
Debaixo do balcão a bagunça se acumulava, era muita correria e não dava muito tempo para a organização.
Com a caneta atrás da orelha, nossa atenção aos pedidos era total. Quilos e quilos eram pesados na balança e com o tempo a habilidade era tanta que na mão tínhamos a noção de cada peso. Por vezes disputávamos quem acertava mais, era o conhecido "mão boa".
Quase não existia produtos embalados como tem hoje. O arroz, o feijão, o milho, a açúcar, praticamente tudo passava pela concha.
Com um saquinho de papel em uma mão e a concha na outra o ritmo era frenético, por isso acertar o peso na hora tinha uma importância, pois caso contrário você teria que andar uma distância entre a balança e o saco onde estava o produto, haja perna.
A caneta que ficava atrás da orelha, a toda era usada pra fazer os cálculos, não existia calculadora e tudo ao final de uma soma tirava-se a prova dos nove que era a garantia da conta certa.
Uma escada era usada para pegar os produtos nas prateleiras de madeira. Subir e descer as escada era uma constância.
.... siga o próximo capitulo
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