domingo, 28 de fevereiro de 2021

BURRO QUEIMADO

 Essa história começa na beira do balcão do armazém Ferraz. Importante destacar que o personagem do episódio era um sujeito de canela fina. Naquela época, éramos muito jovens e academia coisa pra alta sociedade, canela fina era praxe.

Sr Zé Ferreira, um freguês antigo,  lá da comunidade de São Francisco semanalmente aparecia pra fazer suas compras.

Homem de estatura baixa, chapéu paraná e bigode sempre alinhado entregava sua lista de pedido para que separássemos.

O Ferreira gostava muito de prosear com o Marquinho, enquanto sua lista era arrumada. Tinha coisa pra sua casa e também para pequena venda que mantia lá em São Francisco.

Sempre quando aparecia, deixava sua charrete com o animal na cocheira que existia na rua de trás do armazém, onde hoje tem o banco Bradesco.

Quando sua compra terminava, era preciso levá-la de bicicleta de carga para cocheira.

O Zé Ferreira sempre foi brincalhão, mas também sistemático. Tinha hora que falava sério e hora brincando e por isso ficávamos sempre atentos para não pisar na bola com ele.

Um dia,  após a compra concluida pediu que um de nós levássemos as compras na cocheira.

Na cocheira tinha muita charrete de toda banda e sempre perguntávamos como era o animal.

- Desta vez estou com um burro queimado . respondeu o Ferreira naquele dia.

Neste dia, o Wallas que levou sua compra, mas chegando lá não achou a charrete do Zé Ferreira e voltou com a compra.

Passado um tempo o Zé Ferreira encosta com sua charrete na porta do armazém e chama o Marquinho.

- Marquinho o cocheiro disse que foi um rapaz de canela fina pra entregar minha compra e voltou.

Wallas apressou-se em responder:

- Oh Sr Ferreira, eu fui lá, mas não vi o burro queimado. O que tinha no lugar era um monte de cinzas.

E o fim da história foi com muita gargalhada, poi o Sr Ferreira concluiu.

Sujeito com canela fina, mas com a resposta na ponta da lingua, tá explicado.


Aldeir Ferraz


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

O FIM DO MUNDO


Imaginava o fim do mundo assim:


Todos nós na beira de um precipício e lá do céu uma grande bola de fogo vindo em nossa direção.


A bola de fogo se aproximando, o calor dela já se fazendo presente, misturado com o calor dos nossos corpos abraçados.


Alguns com lágrimas nos olhos, outros cantando, uma turma  pedindo perdão, casais se beijando...

Tinha um cara cabeludo solando Dont' Cry em uma guitarra.


Mas o fim do mundo tá bem diferente.


Estamos isolados, alguns.


Estamos de máscaras, quase todos.


Estamos sós e nenhum de nós sabe exatamente onde vai parar.


Aldeir Ferraz



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

A RURAL DO ROQUINHO

 Ele encostava sua Rural na porta do armazém Ferraz e com sua familia descia pra fazer suas compras

Roquinho, com seu chapelão se aproximava do balcão e já entregava sua lista para a separação.

Saia lá do Córrego Preto, comunidade de Guidoval, para fazer sua compra no Ferraz.

Só saia da sua roça pras compras três ou quatro vezes no ano. Quando fazia as compras a Rural saia aborrotada.

O que não produzia, comprava. Era sacos e mais sacos de mercadoria. Gostava de ter fartura em casa.

Era tempo do fio de bigode, pois o que comprava era anotado e o acerto era feito na proxima compra.

Compra carregada na Rural, entrava com sua familia e partia de volta a Guidoval.

Aldeir Ferraz

domingo, 14 de fevereiro de 2021

MINEIRO QUE ACOMPANHA PATO...

 O final de trabalho no Ferraz sempre tem um momento de molhar a palavra, tomar uma gelada.

Quando este momento tem alguém que banca é melhor ainda.

Uma dessas noites, logo após o trabalho, o Zé Pequeno bancou uma caixa de cerveja no bar do Carlinho. Bancou por que naquele dia faturou no jogo do bicho.

Participaram desta rodada, o Tio Deguinho e o Zé Geraldo, pois os dois que eram  responsáveis pelas entregas, sempre  os últimos a sair do mercado.A dupla foi batizada pelo Sebastião Toledo como Carga Pesada, o Pedro e o Bino das entregas.

A noite com o Zé Pequeno pagador foi boa, o copo não parava vazio, mas o Zé Geraldo resolveu ir embora cambaleando, o Zé Pequeno já confundindo Jesus com Genésio partiu também.

Quem tava firme ainda era o Tio Deguinho que só arredou o pé pra mudar de buteco. Pegou sua bicicleta atravessou a Praça 28 de Setembro e foi para o Bar do Manoel perto do Rio Xopotó.

Já tarde da noite, o Tio Deguinho deu conta que roubaram sua bicicleta e pra completar a aventura, caiu um toró de chuva.

Não teve jeito, precisou esperar o tempo melhorar, pois sem bicicleta teria que ir embora a pé.

Tio Deguinho pediu mais umas pingas ao som da chuva na beira do rio e ouvindo o toca fita do bar a música do Gino e Geno :

"As águas do São Francisco estavam próximas da ponte... Deixei as águas baixar... ao lado da moreninha...."

Só que o rio era o Xopotó e a moreninha era uma pinga branquinha.

A Tia Irene em casa estava preocupada e ligou para o Nelsinho em busca de informação do seu Mineiro, ninguém sabia do seu paradeiro, tempo que não existia celular.

A chuva passou e já de madrugada o Tio Deguinho chegou em casa, alivio pra toda família.

No outro dia o comentário foi geral, pois Mineiro que acompanha pato...

Nota :

Wallas não estava nessa. Motivo, casado fresco.

Aldeir Ferraz 

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

ZÉ PEQUENO ENGRAXATE

O telefone tocou, antes de atender verifiquei se não era o terrivel 011, não era, então atendi:

- Alô!

- Fala Aldeir! Aqui é o Zé Pequeno, engraxate da esquina do Pecado, para seu texto que vou contar pra você sobre o comércio da Rua Nova. Engraxei o sapato daquele povo todo dali.

 Naquele região tinha o armazém do seu Tio Jesus e do Luís Monteiro, também os secos e molhados do Aristeu Pires. O Zé Salim tinha material de construção.

O. Armarinho do Foca, onde tinha de tudo em se tratando de confecção. Roupa pra homem, roupa pra mulher, pra criança, pano para costureiras...

O Armazém do Zé Abílio , o Atacado do Zé Rodrigues a distribuidora de bebidas da Antartica que era junto com o Armazém do Bert.

Tinha o Soares que fabricava gaiola, as quitandas do Elcio, Omar, Expedito Ignacthi. A casa do Sr Milton Assis. A esquina do Pecado tinha o bar do Zico Moisés,depois era a loja do Zé Oreia.

Mais pra frente tinha o forró do Arlindo Gastão, Padaria do Zú, pai do Tuca. A casa da Mamãe, era uma lojinha de roupas e presentes.

Tinha a Casa Sarmento, o Banco Nacional, a Ótica Esmeralda, Farmácia do Zé Nilton.

Lembro do Bar do João Ferraz, que depois foi do João Dutra. Seu tio Natalino trabalhou muito tempo ali.

Tinha a Escola Laudelina Baradier e antes do Cabe Um do Didi, uma quitanda que vendia umas maçãs gostosas, trocava jornal velho por revista em quadrinhos.

O Bar do Zé Iasbik, a padaria do Durval Andrade. Foto São João, Foto Carlão.

A Escola de Datilografia Remilton, a Farmacia do Assis.

A maioria das casas eram de pau as pique.

O Supermercado Dular do Zé Machado, a Venda do Osvaldo Capobiango, a quitanda do Amantino, o Açougue do Paulo Rosa.

Os Butecos do Zé Basilio, onde tinha o melhor figuinho, figoticos da região. Os salgados do Sr Zé Dutra, o buteco do Butão já existia.

A casa de ferragens do Mussolini, a loja de material de construção do Luiz Zonta, a sapataria do Naim...

Tinha duas oficinas de bicicleta uma do Zé, vivia fechando cedo pra pescar e a outra...

A livraria Alcântara do Didi, tinha também o Supermercado Bem Bom que ia de uma rua a outra, do Vani.

O Supermercado do Zezinho em uma rua e a quitanda do Zezinho na outra.

A Discolândia onde tinha todos os lançamentos de discos e fita k7 de sucesso.

O meu barbeiro era o JReis, mas tinha o Claudinho Cabelereiro que era para os vips.

Ah!  também tinha a leiteria do Toninho que fazia vitamina, onde dava para saborear um batida de abacate com leite.

A Casa 3 Irmãos, salão do Toninho Barbeiro, Elite Bar, Minas Caixa...

Alguém lembra de mais ?

Êta Zé Engraxate!!!!

Aviso:

Este texto não se prendeu a temporariedade e espaço dos estabelecimentos comerciais, ou seja, não necessariamente existiu ao mesmo tempo.

Isso é apenas a memória de um engraxate que já não tem mais suas unhas pretas.

Aldeir Ferraz





UMA ENTREGA TORTA


Final de sábado e o supermercado Ferraz  ainda movimentado com muitas entregas a serem feitas, dias em que as pessoas com seus salários recebidos correm as compras para não deixar a dispensa vazia.

Na padaria do estabelecimento várias entregas de bolos e tortas encomendas por fazer, sábado também é dia de festas. 

Mateus responsável pela entrega pega as encomendas e como seria a última entrega me chama para ajudar, séria a última viagem.

E lá fui eu segurando um a torta retangular grande  e de olho nas outras dentro do carro até o seu destino que era uma casa em uma rua íngreme, assim fizemos a última entrega para um aniversário.

Voltamos com o sentimento do dever cumprido, mas eis que ao chegar na loja a turma do caixa dá o alerta, a entrega foi trocada, cupons trocados e uma torta redonda que deveria ser entregue na casa que entregamos a retangular ficou para trás e a retangular estava sendo aguardada em outra casa para uma festa de casamento.

Danou-se tudo e logo pensei no casamento, já vi noivo, noiva e até padre atrasar na cerimônia, bolo é primeira vez.

De galope pegamos a torta certa e junto com a Luciana do caixa voltamos a casa da torta errada.

Todo sem graça Mateus chamou  na  casa e nada do povo atender, tava um silêncio, mas a porta estava aberta.

Na aflição adentramos pela  casa afora, o dono estava dormindo no quarto e  nada de acordar, e olha que estava com a TV ligada no jogo do flamengo, devia ser torcedor do fluminense aborrecido; a Luciana da cozinha gritou que a torta estava lá inteira ainda e mais do que depressa fizemos a troca sem o dorminhoco perceber.

Saímos correndo com a torta retangular para o lugar certo que era o casamento, conseguimos chegar a tempo para noiva  cortar o primeiro pedaço que foi oferecido para nós, os entregadores.

Ufa que sufoco, tudo que é situação torta pode indireitar, basta corrigir o erro ,kkk.


Aldeir Ferraz

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

VIZINHO

Um bom ponto, conta com um bom vizinho e isso o Supermercado Ferraz foi abençoado.

E nos 35 anos do Ferraz não poderia deixar de destacar.

Tem coisas na vida que são importantes de mais da conta, vizinho é uma delas. Todos irão concordar que eles são os parentes mais próximos e que até valorizam o local onde se vive.

Faltou o açúcar, faltou o café, pode pedir que sem dúvida te emprestam, se bobear te chamam até para tomar o café quentinho junto.

Graças a Deus sempre tive a felicidade de ter boa vizinhança e lá na casa dos meus pais sempre foi assim. 

Eu era bem moço quando morou do lado da nossa casa um casal que veio da roça e que tinha uma família muito grande, mas que já estavam todos bem criados e tocando a vida com as pernas próprias.

Dona Joaquina e Sr Ampério como boas pessoas que sempre lidaram com a vida do campo, vindo morar na cidade de cara já fizeram no fundo da casa uma horta bem farta.

A nossa divisa com eles era um longo muro de placa e existia um pé de goiaba no meio que tinha galho de um lado e do outro. Dali eu ficava curtinho o plantio e o cuidado dos dois com a horta.

Tinha couve, tinha almeirão, tinha alface, cebolinha, salsinha, até pé de tomate, claro que também havia plantas que curavam de tudo, boldo, macaé, losna, pé de galinha...

De manhã a mãe sempre ia lá buscar verduras frescas para o almoço, outras vezes eu ou alguns dos meu irmãos que buscávamos, quando não dava pra ir , pedia pelo muro:

- Oh Dona Joaquina, Oh Sr Ampério...

Você pensa que chamávamos só pra isso , claro que não, tinha hora que a bola caia lá no quintal deles, aí a gente gritava também.

A frente da casa deles tinha uma janela que o velho Ampério gostava de ficar e para prosear com os conhecidos.

Lá de dentro ele sempre gritava para os que passavam na sua calçada.

- Chega mais, vem aqui tomar um pescoção!

Um dia me assustei com aquilo e longo imaginei,  êta homem bravo, mas logo me chamou também e como curioso e as pernas finas, eu fui, qualquer coisa dava no galope.

Mas lá tinha uma turma em volta dele rindo , espirrando e logo ele me ofereceu:

- Quer Também? E enfiando sua mão no bolso da calça, aliás um bolso enorme, retirou uma latinha, abriu e levou perto do meu nariz.

- Assusta não que é rapé.

Na mesma hora dei aquele espirro de estremecer.

Reparei que aquilo era como um ritual, mais do que um vício, pois os espirros provocados dava uma limpeza não apenas física mas espiritual, aquela sensação de alívio, de leveza

Depois daquela, toda vez que o encontrava pedia um pescoção.

Êta tempo bom!


Aldeir Ferraz 

Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...