domingo, 13 de junho de 2021

LEMBRANÇA APENAS

 E quando eu virar lembrança espero que seja apenas boa lembrança.

Não guarde as mágoas que tenha por minha causa.

Esqueça os tempos em que as doenças trouxeram inquietitudes, deixe essas dores pra lá.

Deixa de lado as vezes em que o dinheiro faltava e as contas batiam na porta.

Não remoa as brigas que tivemos.

Esqueça tudo que foi de ruim.

Eternize as boas lembranças.

Lembra das boas risadas, aquelas que faziam lágrimas escorrer.

Não esqueça das festas, da boa comida, da boa bebida que partilhamos.

Das noites que viraram dias, dos abraços, dos beijos, dos amores, jamais deixe apagar.

E faça do tempo que juntos tivemos o perfume que suaviza o respirar.

Ah que tempos bons, que boas lembranças, que saudade boa.

Quando eu virar lembrança, lembre-se que seja apenas uma boa lembrança.

Aldeir Ferraz








terça-feira, 8 de junho de 2021

CARTA DE UM FALECIDO



Fiz a minha passagem. Cá estou em um emaranhado de almas de tudo quanto é canto do mundo.

Aqui a língua falada é universal, todos nos entendemos. No caminho que fiz vi muitas almas ficarem para trás, não são todas que chegam. Prevalece o dito de que o que fizeres na terra estará ligado no céu.

O interessante deste meu tempo em que parti é o grande número de almas prematuras chegando. Isso mesmo, quando nascemos antes do tempo, somos bebês prematuros e quando morremos antes do tempo, aqui somos chamados de almas prematuras.

O responsável que nos acolhe aqui disse que a situação é incomum, pois o vírus está trazendo muitos mais cedo.

Ficamos em uma ala dos que foram mortos por crime, suicídio e doenças que teriam cura mas não tiveram o devido socorro.

O pensamento aqui é geral, viemos antes da hora porque tá faltando humanidade, tá faltando cuidado um com o outro.

Um mundo cheio de riquezas naturais e de pessoas inteligentes deveria evitar o que está acontecendo.

Mas vida que segue, digo eternidade que segue, pois aqui tudo é eterno.

As noites são maravilhosas, os dias também. O que vem aí da Terra conosco é a saudade,mas vamos superando ela a cada momento que nos reencontramos com os que vieram primeiro que nós.

Espero que um dia não tenhamos mais almas prematuras, que possamos ter o nosso tempo adequado e aí sim chegar aqui com mais paz e tranquilidade.

Por fim mando um recado a todos, tenham certeza que Deus não quis nenhuma morte destas que a pandemia tem provocado, aliás Ele demonstra tristeza com o que está acontecendo, sempre nos diz nas nossas conversas que não foi esta humanidade que  desejou e que fez surgir na Terra.


Aldeir Ferraz

sábado, 5 de junho de 2021

A TIA DO CACHORRO

 Da janela de casa vejo passar todos os dias uma bela senhora e seu pequeno cachorro. Com toda paciência, hora a passos lentos ou rápidos o seu companheiro de caminhada a guia.

Conheço um pouco da história daquela mulher. Ela desde jovem sempre foi meiga e carinhosa, mas nunca teve um mascote como companhia.

Dos seus amores e sonhos sempre dedicou sua energia.

Criou uma familia, como professora ensinou a tantos, pessoas que se tornaram  importantes e outros nem tanto.

Na sua vida tudo se foi aos poucos. Amores partiram cada um para seu destino e com ela ficaram as lembranças.

Certo dia de sua vida, andando pela rua deparou se com um pequeno cachorro que não tirava os olhos dela.

Amou aquele animal a primeira vista e como abandonado estava resolveu adotá-lo.

Agora ela desfila com ele para todo lado e o que tem de amor na sua vida reparte com seu amigo.

E lá vai ela sorridente e altiva, pois continua como sempre foi, repartindo seus bons sentimentos com alguém.

Aldeir Ferraz



segunda-feira, 24 de maio de 2021

MEU AMIGO ADÃO

 MEU AMIGO ADÃO


Adão nome hebraico que significa homem da terra vermelha, Adão também é nome de um amigo.


Este meu amigo tinha a energia da terra, o brilho do Sol nos olhos, a fala esperançosa que soava ao som de ventos uivantes.


Sua alegria sempre foi contagiante, sua solidariedade e fé eram profeticas.


Um dia, o tempo e a distância nos levaram para caminhos distintos.


O tempo e a distância são fatores complexos que desconstroem os nossos caminhos.


O que era a perfeita harmonia ficou em um passado distante e que nos falta no presente.


O destino que é esta mistura de tempo e distância nos leva para um mundo afora e novos rumos são tomados.


Num dia desses reencontrei o homem da terra vermelha, o Adão, o meu amigo Adão.


Adão Já não tinha mais o sentido de terra vermelha, estava árido, o seu olhar nebuloso e a voz estava aprisionada numa espécie de caverna profunda,


Já não tinha mais alegria e como um pássaro ferido evitava qualquer aproximação.


É triste ver um homem, guerreiro, menino com a marca do tempo por sobre seus ombros, Gonzaguinha tinha razão em sua canção.


O que mais nos assusta é essa impotência que este mundo nos dá, ver um amigo se desfazendo célula por célula, átomo por átomo.


O que é feito das nossas vidas, o que o tempo e as circunstâncias nos transformam?




Aldeir Ferraz

domingo, 16 de maio de 2021

JOGOU E PERDEU

Essa o Zé Pequeno tem certeza que aconteceu.

Sempre no final do expediente o recado de casa chega, as encomendas das esposas é um fato:

"Traga isso", "traga aquilo".

E o Tio Deguinho recebeu um recado por telefone:

- Mineiro traga um intera pra janta.

Era Tia Irene alertando que as panelas já estavam no fogão e o tira gosto podia faltar não.

Mas como sempre, armazém fechado o destino era os botecos, desta vez a saideira foi no Jorge Dutra.

Pinga, cerveja e tira gosto no balcão e em volta o Pedrinho Cera, Tio Deguinho,  Marquinho, Nelsinho, Zé Pequeno e Wallas.

Resolveram jogar no palitinho quem pagaria as rodadas.

Não era a noite do Tio Deguinho e as rodadas estavam sobrando pra ele, até que o dinheiro acabou. O que sobrou foi a intera que estava levando para o jantar que a Tia Irene fez.

Colocou na disputa da última rodada e a noite tava de azar, Tio Deguinho perdeu novamente.

Chegou em casa de mãos abanando e pra não levar um puxão de orelha jogou a culpa em um gatuno que roubou o tira gosto que estava na garupa da bicicleta.

Aldeir Ferraz

RECEITA DE BALCÃO

 E as histórias vão surgindo nas lembranças como móvel que aparece logo que a poeira é retirada.

Desta vez o caso é  as receitas nascidas no bate papo no balcão do armazém Ferraz.

Conta-se que o Wallas casado de novo e o Zé Pequeno estavam com uns probleminhas em casa.

A verdade que o trem tava falhando e nem catuaba com ovo de codorna tava funcionando.

O Marquinho logo deu a receita pra dar conta da situação, fígado de boi é a sustância necessária pra levantar a moral e a felicidade.

Mas o Zé Geraldo e o Tio Deguinho apresentaram um outro estimulante tiro e queda, o caldo de cana.

Visconde do Rio Branco era a terra da cana de açucar e do meio dos canaviais a conversa do caldo de cana como estimulante sexual era quente.

Wallas seguiu a receita tanto do Marquinho, quanto do Tio Deguinho e o Zé Geraldo.

"E num é que o trem deu certo sô", comentou o Wallas uma semana depois, cheio de alegria e revigorado.

Zé Pequeno que não tava acreditando na receita já mudou de idéia e resolveu experimentar.

Com a orientação do Marquinho caprichou no fígado e colocou tomate e muita cebola, o jantar em casa tinha que ser afrodisíaco. A bebida de acompanhamento era o caldo de cana, indicação do Zé Geraldo e Tio Deguinho.

Como o Zé Pequeno tava mais necessitado, resolveu dobrar os ingredientes, no caso do caldo de cana tomou quase duas garrafadas.

No outro dia nosso amigo Zé Pequeno chegou no armazém atrasado e com muita olheira e fraqueza.

Todos logo já perguntaram se ele tinha trabalhado muito a noite e se deu conta do serviço.

Indignado o Zé Pequeno logo falou:

- Fiz muita força essa noite sim, mas foi no banheiro, a caganeira que me deu acabou comigo, nunca mais sigo as receitas suas, é tudo doido.

Aldeir Ferraz


sábado, 15 de maio de 2021

POR QUÊ?

Por quê? Constante é e de forma aflitiva o questionar diante da morte.

Ao Divino tentamos buscar uma resposta que na verdade já existe, morreremos algum dia.

Claro que a partida inesperada nos assusta, se é que esperamos o dia da partida. Sabemos dela mas ainda buscamos uma resposta.

O momento que vivemos de pandemia tem nos confrontado diariamente com a morte. Quase a todo momento alguém próximo deixa de existir entre nós.

Se sabemos do nosso fim, antecipado ou não, talvez não caiba o mistério e questionar.

Talvez o grande mistério então seja a vida, não sabíamos que nasceríamos e aqui estamos.

Pouco ou nada procuramos saber da nossa existência.

Para que nascemos? Por que nascemos? Qual a nossa missão?

Antes da nossa partida seria bom que soubéssemos.

Aldeir Ferraz 




Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...