segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

TEMPOS DE MUDANÇA

 1986 foi um tempo de mudança ou uma mudança de tempo, como queiram avaliar.

O presidente era o Sarney que assumiu com o falecimento de Tancredo Neves que seria o primeiro presidente pós ditadura.

Sarneiy lançou o Plano Cruzado que substituiu a moeda Cruzeiro pelo Cruzado.

Foi um cruzado na inflação da época que estava altissima e foi derrubada.

Dilson Funaro foi o ministro responsável pela economia que comandou o plano que tinha como básico o congelamento dos preços.

No principio foi bom e como estávamos começando o armazém Ferraz, isso ajudou muito, mas não durou 06 meses para surgirem os problemas.

Começaram a faltar produtos, até o sal desapareceu. 

Os fornecedores alegaram custos de produção para a falta, pois o preço tabelado dava prejuizo.

Surgiu então o ágio. Se quiséssemos ter a mercadoria, seria necessário pagar por fora um valor a mais.

Surgiram os fiscais do Sarney, incentivado pelo presidente para coibir os ágios.

Os comerciantes eram tratados como vilões, a coisa dava até caso de polícia.

Existia produtos como o óleo de soja, que era preciso pagar adiantado para ter, uma marca famosa naquele tempo era o óleo soja Heloisa.

Passamos por esta fase, mas outras vieram.

Aldeir Ferraz 

domingo, 24 de janeiro de 2021

OS PRIMEIROS FREGUESES

 O imóvel onde funcionava o armazém do Jesus Cardoso e do Luis Monteiro foi divido em dois.

O lado maior ficou com o Luis Monteiro e o menor coube ao Armazém Ferraz.

No ínicio da preparação do espaço para a inauguração, os primeiros fregueses já surgiam.

Dona Ivone de Mello, uma professora aposentada,  moradora do Bairro São Jorge já logo entrou no armazém, ainda mal tinha mercadoria nas partilheira, entregou uma lista e disse:

"Quando tiver os produtos, separa e entrega lá em casa".

A generosidade dela teve um misto de incentivo e confiança, com isso fez com que a vontade de trabalhar tomasse conta do nosso corpo e alma.

Era toda a semana que Dona Ivone encaminhava sua lista em uma  folha de caderno.  A escrita era perfeita, letra bonita.

Outro freguês que foi pioneiro e nos incentivou muito era o Fidélis, um senhor negro, baixinho, sempre com um chapéu na cabeça, cigarro de palha ora atrás da orelha e outros momentos na boca esborrifando fumaça, sempre carregava  um isqueiro antigo que funcionava com pavio e querosene.

Quando chegava,  já alegrava o ambiente. Lembro até hoje da primeira venda que fiz pra ele.

Cinco pacotes de fumo 02 irmâos e 02 barras de sabão coringa.

E assim foi surgindo a clientela, muita gente da roça, muita gente da cidade, muita gente que ajudou no crescimento desta história.

Aldeir Ferraz

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

QUEROSENE


Já bebi muito querosene no armazém Ferraz. Quem começou lá no inicio não escapou desta situação.

Era um tempo em que a eletricidade não havia chegado para todos, principalmente na zona rural, então as vendas de lamparina, pavio de algodão, camisinha de lampião e o querosene eram constantes.

O pedido no balcão era direto, com uma garrafa ou galão na mão já sabia-se que o freguês queria o querosene.

O problema é que para tirar o querosene do tambor precisava de usar uma mangueira e chupar o líquido para fora.

Tinha momento que a puxada era tão forte, devido a pressa e uma parte seguia direto pra garganta.

A turma antiga falava que o querosene ajudava mudar de voz.

Era um tal de falar fino no final do dia, que só Deus vendo.


Aldeir Ferraz

SOBREVIVÊNCIA

 Essa viagem no passado, que tento resgatar a história dos 35 anos do Supermercado Ferraz, de fato é rica de lembranças, claro que muita coisa se perde na memória, mas aquilo que vamos resgatando dá até pra suspirar.

E lá no ínicio, na época que o Ferraz era armazém ainda, suspirar não dava tempo, a vida era intensa.

Os negócios no balcão não eram apenas mercadorias pra lá, dinheiro pra cá. Existia as trocas, os escambos.

Tinha muita gente que produzia algo que trocava-se pelo que necesitava em casa.

A Dona Aparecida que fazia esteiras de taboa era um exemplo.

Sua familia passava dias e dias entre os brejos, onde retirava as taboas e os terreiros para produzir as esteiras.

Quando tinha produção feita colocava um grande volume na cabeça e partia rua fora pra vender o seu trabalho. O peso na cabeça era grande, mas ela e a família tinham muita força e equilibrio.

No armazém entregava bastante produção, vendia-se muita esteira. Em tempos de chuva não conseguia produzir, pois o processo de confecção da esteira dependia de secar a palha.

Este desequilibrio fazia com que conseguisse pouco dinheiro  e muita vezes a produção era a conta pra pagar o que comprava no fiado.

Mas era um povo guerreiro que nos honrava de tê-los como fregueses, com todo sofrimento, sempre demonstravam serenidade.

Aldeir Ferraz


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

BICICLETA DE CARGA

 E a medida em que o armazém Ferraz se estruturava, surgiram também os fregueses que faziam compras maiores e que eram necessárias as entregas.

Não tinha um carro de entrega, havia duas bicicletas de carga, uma mais velha, outra mais nova.

Eram bicicletas resistentes e pra pilotar tinha que ter destreza e força.

Falando em força, a geografia riobranquense nos fazia adquirir um bom fisico, era muito morro pra subir.

O morro da escola normal, da chácara, os escadões, era coisa para atleta.

As bicicletas funcionavam com freio de contra pedal e quando tinhamos que descer os morros era garantido a segura, obviamente se não arrebentasse a corrente.

Existia locais que eram bem puxados para entrega, um deles era um escadão em frente a cadeia, dava mais de 100 degraus.

Um dos requisitos para entrega ali, era não reclamar, pois a freguesa chegou a trocar de vários comércios por isso.

A disposição sempre foi grande e enfrentava-se tudo com satisfação.

Algumas entregas tinha briga pra fazer, pois sempre tinha um cafezinho e um suco a espera do entregador.

Aldeir Ferraz

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

AMENDOIM

 Tem uma máxima antiga no mundo do comércio que diz assim:

" O que não é visto, não é desejado."

Como o armazém Ferraz era venda de balcão, muita coisa tinha que ser feita para destacar os produtos.

Logo de manhã cedo, ao abrir as portas, colocava-se nas entradas diversos itens. Fumo de rolo, cabo de machado, bacias, guarda chuva,  sacarias de milho, feijão, fubá grosso...

Existia um item que não era muito recomendado colocar, mas vez ou outra era colocado, o saco de amendoim.

Essa tarefa era feita por quem chegasse mais cedo. O Marquinho na maior parte das vezes quem fazia.

Acontece que todas as vezes que colocava o saco de amendoim, já tinha problema com os filadores. 

Tinha um sujeito que era mestre em jogar alguns amendoins pra dentro da garganta, até que um dia engoliu um ovo de barata, isso gerou muita gargalhada na época. Ver o espertalhão cuspindo amendoim de barata foi um barato.

O que tirava do sério era a turma que saia da Escola Carlos Soares, que em bando atacava o amendoim.

O Marquinho de longe já falava:

" Já vem a capetada"

Tinha um tal de André que não era fácil, cresceu comendo amendoim que o Marquinho deixava na porta do armazém.

Não é atoa que falam que amendoim faz crescer.


Aldeir Ferraz





terça-feira, 19 de janeiro de 2021

DINHEIRO NA PRESSÃO

A vida dos negócios no Supermercado Ferraz sempre foi apertada, um verdadeiro cobertor peleja, mas aos trancos e barrancos avançou-se no tempo.

De Segunda a Domingo, o trabalho era incessante e por falar em Domingo quem segurou as pontas algum tempo, foi o Marquinho e Zé Pequeno. Zé Pequeno era um funcionário que sempre foi considerado um amigo, um irmão.

Aos Domingos, as vendas eram boas e o Zé Pequeno ficava junto com o Marquinho até o fechamento.

Num certo Domingo, após recolher o dinheiro das vendas, o Marquinho e o Zé Pequeno ao invés de guardar o dinheiro no cofre, pois esqueceram a senha, deram um jeito de esconder o dinheiro numa panela de pressão.

Quando chegou a segunda feira, Nelsinho responsável pelos depósitos e pagamentos, notou que tinha pouco dinheiro no cofre, mas tocou o barco e foi para o serviço bancário.

As pressões das contas a pagar naquela semana foram grandes, daí chamou o Marquinho que conhecia muita gente que emprestava dinheiro para resolver os apertos financeiros.

Isso já era uma Quinta feira e o Zé Pequeno logo que ouviu a conversa da pressão das contas indagou:

- Uai Marquinho e a panela de pressão?

Naquele momento o Marquinho lembrou do dinheiro e correram pra pegar a panela.

Ufa! Ainda bem que não venderam a panela.

O Nelsinho pegou o dinheiro e a panela ajudou a aliviar a pressão.

Aldeir Ferraz



Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...