sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

QUEROSENE


Já bebi muito querosene no armazém Ferraz. Quem começou lá no inicio não escapou desta situação.

Era um tempo em que a eletricidade não havia chegado para todos, principalmente na zona rural, então as vendas de lamparina, pavio de algodão, camisinha de lampião e o querosene eram constantes.

O pedido no balcão era direto, com uma garrafa ou galão na mão já sabia-se que o freguês queria o querosene.

O problema é que para tirar o querosene do tambor precisava de usar uma mangueira e chupar o líquido para fora.

Tinha momento que a puxada era tão forte, devido a pressa e uma parte seguia direto pra garganta.

A turma antiga falava que o querosene ajudava mudar de voz.

Era um tal de falar fino no final do dia, que só Deus vendo.


Aldeir Ferraz

SOBREVIVÊNCIA

 Essa viagem no passado, que tento resgatar a história dos 35 anos do Supermercado Ferraz, de fato é rica de lembranças, claro que muita coisa se perde na memória, mas aquilo que vamos resgatando dá até pra suspirar.

E lá no ínicio, na época que o Ferraz era armazém ainda, suspirar não dava tempo, a vida era intensa.

Os negócios no balcão não eram apenas mercadorias pra lá, dinheiro pra cá. Existia as trocas, os escambos.

Tinha muita gente que produzia algo que trocava-se pelo que necesitava em casa.

A Dona Aparecida que fazia esteiras de taboa era um exemplo.

Sua familia passava dias e dias entre os brejos, onde retirava as taboas e os terreiros para produzir as esteiras.

Quando tinha produção feita colocava um grande volume na cabeça e partia rua fora pra vender o seu trabalho. O peso na cabeça era grande, mas ela e a família tinham muita força e equilibrio.

No armazém entregava bastante produção, vendia-se muita esteira. Em tempos de chuva não conseguia produzir, pois o processo de confecção da esteira dependia de secar a palha.

Este desequilibrio fazia com que conseguisse pouco dinheiro  e muita vezes a produção era a conta pra pagar o que comprava no fiado.

Mas era um povo guerreiro que nos honrava de tê-los como fregueses, com todo sofrimento, sempre demonstravam serenidade.

Aldeir Ferraz


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

BICICLETA DE CARGA

 E a medida em que o armazém Ferraz se estruturava, surgiram também os fregueses que faziam compras maiores e que eram necessárias as entregas.

Não tinha um carro de entrega, havia duas bicicletas de carga, uma mais velha, outra mais nova.

Eram bicicletas resistentes e pra pilotar tinha que ter destreza e força.

Falando em força, a geografia riobranquense nos fazia adquirir um bom fisico, era muito morro pra subir.

O morro da escola normal, da chácara, os escadões, era coisa para atleta.

As bicicletas funcionavam com freio de contra pedal e quando tinhamos que descer os morros era garantido a segura, obviamente se não arrebentasse a corrente.

Existia locais que eram bem puxados para entrega, um deles era um escadão em frente a cadeia, dava mais de 100 degraus.

Um dos requisitos para entrega ali, era não reclamar, pois a freguesa chegou a trocar de vários comércios por isso.

A disposição sempre foi grande e enfrentava-se tudo com satisfação.

Algumas entregas tinha briga pra fazer, pois sempre tinha um cafezinho e um suco a espera do entregador.

Aldeir Ferraz

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

AMENDOIM

 Tem uma máxima antiga no mundo do comércio que diz assim:

" O que não é visto, não é desejado."

Como o armazém Ferraz era venda de balcão, muita coisa tinha que ser feita para destacar os produtos.

Logo de manhã cedo, ao abrir as portas, colocava-se nas entradas diversos itens. Fumo de rolo, cabo de machado, bacias, guarda chuva,  sacarias de milho, feijão, fubá grosso...

Existia um item que não era muito recomendado colocar, mas vez ou outra era colocado, o saco de amendoim.

Essa tarefa era feita por quem chegasse mais cedo. O Marquinho na maior parte das vezes quem fazia.

Acontece que todas as vezes que colocava o saco de amendoim, já tinha problema com os filadores. 

Tinha um sujeito que era mestre em jogar alguns amendoins pra dentro da garganta, até que um dia engoliu um ovo de barata, isso gerou muita gargalhada na época. Ver o espertalhão cuspindo amendoim de barata foi um barato.

O que tirava do sério era a turma que saia da Escola Carlos Soares, que em bando atacava o amendoim.

O Marquinho de longe já falava:

" Já vem a capetada"

Tinha um tal de André que não era fácil, cresceu comendo amendoim que o Marquinho deixava na porta do armazém.

Não é atoa que falam que amendoim faz crescer.


Aldeir Ferraz





terça-feira, 19 de janeiro de 2021

DINHEIRO NA PRESSÃO

A vida dos negócios no Supermercado Ferraz sempre foi apertada, um verdadeiro cobertor peleja, mas aos trancos e barrancos avançou-se no tempo.

De Segunda a Domingo, o trabalho era incessante e por falar em Domingo quem segurou as pontas algum tempo, foi o Marquinho e Zé Pequeno. Zé Pequeno era um funcionário que sempre foi considerado um amigo, um irmão.

Aos Domingos, as vendas eram boas e o Zé Pequeno ficava junto com o Marquinho até o fechamento.

Num certo Domingo, após recolher o dinheiro das vendas, o Marquinho e o Zé Pequeno ao invés de guardar o dinheiro no cofre, pois esqueceram a senha, deram um jeito de esconder o dinheiro numa panela de pressão.

Quando chegou a segunda feira, Nelsinho responsável pelos depósitos e pagamentos, notou que tinha pouco dinheiro no cofre, mas tocou o barco e foi para o serviço bancário.

As pressões das contas a pagar naquela semana foram grandes, daí chamou o Marquinho que conhecia muita gente que emprestava dinheiro para resolver os apertos financeiros.

Isso já era uma Quinta feira e o Zé Pequeno logo que ouviu a conversa da pressão das contas indagou:

- Uai Marquinho e a panela de pressão?

Naquele momento o Marquinho lembrou do dinheiro e correram pra pegar a panela.

Ufa! Ainda bem que não venderam a panela.

O Nelsinho pegou o dinheiro e a panela ajudou a aliviar a pressão.

Aldeir Ferraz



SIMPLICIDADE

 Um armazém dos mais simples e pobres, era assim a freguesia do Ferraz.

Era o povo da roça, os cortadores de cana, o pessoal da Tia Velha, Filipinho, Alto da Boa Vista, enfim de todos os lugares e com o jeito de ser da simplicidade.

Falava se o mineirês do interior na hora das compras e com toda dificuldade da vida, buscava se um tom de alegria que aliviava.

Paraguai, um homem trabalhador das roças do Corrego das Pedras, junto com seu amigo Tibúrcio já chegava cantando, ele era violeiro:

" Ah se Deus me ouvisse mandasse pra mim, 02 kg de carne, 01 kg de toucinho...."

Sr Anésio lá das bandas de Guiricema, chegava com seu embornal e um saco nas costas e fazia suas comprinhas, dizia ele que dali iria no açougue do Paulo Rosa só para  ver as carnes e em casa mandava o angú pra barriga pensado nelas, vontade ele tinha de comprar as carnes, mas a policia não deixava. A policia era o bolso dele.

O Fidélis lá do Bom Jardim, com sua filharada e netos, fazia questão em dizer que na sua casa, apesar da pobreza, onde comia 10, também comia 12 0u 13.

Dona Emésina, fazendeira viúva se São Geraldo, chegava com seus queijos embrulhados em panos pra vender, a mulher era muito brava, Marquinho passava aperto com ela.

O Gentil Ferreira com sua mão grossa, de homem retirante de leite, fazia questão de apertar a mão da gente, era de doer.

E os palavriados do povo eram um jeitão simples mesmo:

Me dá um kidiarroz, kidifeijão, uma fubarina,  meia de karosene, um sabão curinga, um sale, dois ioio, fumodirolo....


Aldeir Ferraz

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

SECOS E MOLHADOS

 A infinidade de produtos existentes hoje, não se compara com o que existia a 35 anos atrás.

Lá no armazém Ferraz como em outros comércios, as linhas de produtos eram tratadas como apenas duas, Secos e Molhados.

Apesar de muito menos itens naquele tempo, a fama de ter variedade ajudava, pois ali vocé poderia encontrar de tudo.

Kichute, chinelo, facão,filtro, fumo de rolo, arroz, feijão,sal,queijo, BHC,querosene,polvora,gurpião, lamparina, oleos, chumbinho, enxada, cabo de machado, ovos, verduras...

Tudo que podia se imaginar na época existia.

O destaque era a venda agranel, onde se vendia até 100 grs de café, 50 grs bicarbonato, pimenta, milho, arroz, feijão, margarina... Tinha muita venda pequena, pois era muita pobreza na vida de muita gente.

Existiam os caixotes e latões onde era colocado os produtos agranel, era muito pouca coisa embalada.

Quem trabalhava em balcão tinha que ser bom de concha, encher os sacos de papel e acertar o peso na balança, isso  te dava o destaque de craque, agora se não fosse bom no peso já te chamavam de molenga.

No próximo texto vamos escrever como era conhecido e falado o nome de alguns produtos que eram vendidos.

Aldeir Ferraz



Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...