domingo, 16 de agosto de 2020

VELHA BENGALA

E o ponteiro do relógio gira, meu tempo avança.
Já não posso mais dizer que o tempo corre, aliás, já não corro mais, já não ando mais.
Preso a uma cadeira de rodas e com o corpo quase todo paralisado, resta-me memórias e a compaixão dos meus.
Memórias de caminhos agitados e tantos afazeres, era tanta correria que não dava conta.
Viver era o que mais sabia fazer.
Hoje meus passos esqueceram de mim e cá estou, tudo que é perto é distante agora.
Outro dia,na sala, sozinho com meus pensamentos, avistei bem no cantinho minha velha bengala. Antes do inicio do meu clausuro, era com ela ainda que lutava pra ficar em pé. Foi minhas últimas forças que compartilhei .
A velha bengala me acompanhou por um bom tempo, agora estamos encostados. Eu aqui, ela lá.
De vez em quando peço para segurá-la, tento firmar minha mão e me erguer, mas, nada.
Sabe, percebo que ela torce por mim, pois dela emana um sinal que parece dizer:
" Vamos você consegue, vamos caminhar juntos! "
E fico aqui agora com minha trilha sonora, junto a minha velha bengala, ouvindo a velha canção do Barrerito.
Meus passos onde estão os meus passos?
Que esqueceram meu corpo
Que é levado nos braços
Meu Deus um pedido eu queria fazer
Se um dia o senhor me atender
Devolva meus passos.

Aldeir Ferraz

sábado, 15 de agosto de 2020

O PREÇO

Como se Forma o Preço de um Produto

Desde adolescente tenho como principal ocupação o comércio alimentício, antigamente dizia-se comércio de secos e molhados.
Já passei por vários momentos de fase ruim e boa de vendas. Tempos de inflação e de estabilidade.
Em todos estes tempos percebia a movimentação que era feita no valor de um produto.
O correto de dar preço em produto deveria ser o custo da sua produção até entrega para o consumidor final, mais impostos. Mas outros componentes tem sido agregado a ele.
Investidores das empresas produtoras cobram o seu naco, a publicidade tem feito também o crescimento no custo e cada dia surge mais um fator alheio a cadeia produtiva elevando o valor.
Arrisco em dizer que um produto que custa um real pronto, o seu valor dobra com os pinduricalhos.
O interessante é que também existe o custo psicológico que pode elevar ou baixar um valor.
Este custo psicológico é formado por jogadas de boatos e analistas de plantão que fazem previsões economicas que nunca se efetivam, mas que faz seus estragos.
Tem muita gente que ganha dinheiro com isso.
E quem mais se ferra com isso? Advinha?

Aldeir Ferraz

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

O USO DO CACHIMBO FAZ A BOCA TORTA



É bom que sempre possamos fazer a reflexão do tempo em que estamos vivendo e qual nosso papel neste contexto.

Estamos fracassando como sociedade e a deformidade evidente me faz remeter ao ditado popular:

“O uso do cachimbo faz a boca torta”

Estávamos acostumando a um cenário de desenvolvimento e crescimento da renda em passado recente, onde tínhamos um norte de nação focada no futuro, mas com o pé no presente, momento em que concluo que elevamos nosso grau de arrogância e as bases do avanço econômico e social degringolou.

Nesse ditado que citei, o cachimbo é a arrogância que começamos a usar quando o caminho estava belo e radiante, dava pra ver no rosto de cada um de nós brasileiros e brasileiras. Porém, agora que nos afligimos com um cenário de morte, onde uma pandemia vai nos adoecendo e matando, continuamos com o cachimbo da arrogância cada vez mais nos deformando.

O rosto de nossa sociedade está cada vez mais irreconhecível e não mudamos de jeito.

O discurso do novo normal virou hipocrisia, pois as atitudes estão fechando qualquer porta de razoabilidade. Se temos dois lados nesta história, tanto um como o outro esborrifam a fumaça do cachimbo que nos destrói.

Agora convivemos com alta de preços, queda na renda e o deus-mercado celebrando lucros exorbitantes.

No espelho da nossa consciência nos vemos agora como monstro com a boca cada vez mais torta.



Aldeir Ferraz

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

OS SANTOS VIVOS


Como o amor e a caridade dos Santos Vivos nos faz refletir.

Nos cultos e celebrações religiosas geralmente se faz uma referência a alguns homens e mulheres do passado que tiveram uma vida dedicada ao próximo e que após suas mortes, tornaram-se santos.

Muitos destes santos passam a ganhar devotos que atribuem a eles milagres e o apego as orações e pedidos de intercessão a Deus se multiplicam.

Agora, porém, ainda existem mundo afora, entre nós os santos vivos, que tem uma vida voltada a fazer o bem de forma instintiva.

Os santos vivos, na maioria das vezes estão em lugares miseráveis e junto ao povo mais excluído. Aqueles seres humanos renegados pela sociedade contam com os santos vivos para aliviarem suas dores.

Drogados, mendigos, presos, doentes…enfim, tudo que nos incomoda e optamos por afastar ou apenas comentar a distância, encontra em alguns o acolhimento humano.

Sinto-me pequeno diante da grandeza e desprendimento das ações de amor e caridade destes santos.

O Brasil contemporâneo pode vivenciar muitos destes santos, um deles é, sem dúvida, irmã Dulce, que viveu entre nós e fez o que deveríamos fazer sempre, amar o próximo, sem nada obter em troca.

Outros santos vivos estão partindo e abrindo uma lacuna que precisa ser preenchida, pois a messe é grande e os operários são poucos.

Precisamos de muitos santos entre nós.


Aldeir Ferraz

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

LINDA JUVENTUDE


Juventude, viva intensamente a sua. Eu vivi, eu sonhei eu amei…

Hoje não tenho mais a idade juvenil, não tenho mais os ares de energia daqueles tempos, mas como foi bom, insisto em ter.

Quando os cabelos começam a ficar brancos, busco longo uma tinta;

Quando uma ruga surge, a pele já não se faz mais lisa, uso todos os cremes que surgem a minha frente;

Quando a barriga desponta e o físico não é mais resistente, corro para academias e caminhadas.

Não é fácil aceitar que tudo ficou para trás e que um novo ser surgiu em mim.

As razões dominam a vida, muito mais do que as emoções de outrora.

Acaba que a vida avançando no caminho tornamo-nos aqueles chatos moralistas que sempre nos espezinhavam na mocidade.

A vontade é tanta de voltar que até a essência abrimos mão. No sexo sonhamos com as quantidades e deixamos os amores e paixões de lado. Bebemos o vinho não para viajar, mas para se anular, ouvimos a canção para chorar, para sentir saudade e não para sonhar.

É assim mesmo, por isso insisto que viva a sua juventude, beba da água-viva que está em sua fonte.

Aqui em meu tempo resta-me aprender a viver com que a vida me oferece e quem sabe daqui mais algumas décadas possa dizer também:

Esse tempo de quarentão que era bom!

Viva a sua idade, seja qual ela for.



Aldeir Ferraz

sábado, 8 de agosto de 2020

O DIA DE (S)TER PAI


Não! Não quero falar do pai. Quero falar de quem tem e de quem gostaria de ter pai.
Quem tem, no orgulho procura se escorar ou mesmo busca fazer com que ele tenha orgulho, que ele te entenda, que ele ache você sempre o melhor.
Muitas vezes isso  é conflitante, pôxa meu velho não me entende.
Quem gostaria de ter um pai neste domingo. Todos que hoje não têm, mesmo que diga que não, sim! Gostariam de ter.
Tem a saudade do que já não vive mais. Tem a raiva do  que não se faz presente. Tem a frustração do que nunca existiu. Tem tudo, mas o pai não tem.
Não dá pra dizer que tá tudo bem, que não liga pra isso. No fundo algo corroi.
Ter um pai sempre, tê-lo neste domingo e não ter, faz diferença, doi sem doer ou doe mesmo.
O dia de ter um pai talvez nos ensine a ser um.
Se você não tem ou se você tem, aprenda a ser, pois qualquer um precisa ter um pai.
Como na música que diz: 
Você faz parte deste caminho, que hoje eu vivo....PAI.

Aldeir Ferraz



sexta-feira, 7 de agosto de 2020

IRMÃ MARISA COSTA, UMA LUZ DE DEUS


Uma fonte de luz, é assim que defino Irmã Marisa em minha vida.

Aquela pequena mulher, de olhar simples e que tinha seus passos firmes junto a nós em todas andanças nas comunidades.

Lá na Pastoral da Juventude, nas Comunidades Eclesiais de Base, na formação de Associações de Moradores, Pastoral Operária… estava ela, a servir, a orientar.

O Deus de Irmã Marisa sempre estava entre nós. Não, definitivamente não estava nos altares.

Interessante que antes de conhecê-la, era pra cima, olhando no céu que enxergava a presença divina, mas aos poucos e com a sua sabedoria passei a ver de fato o rosto do criador no pobre, no injustiçado, naquela mulher trabalhadora, naquele homem trabalhador, na simplicidade das comunidades.

Nossas mudanças nunca acontecem por si, é preciso que tenhamos pessoas ou anjos como queiram ao nosso lado, a nossa frente e até como sombra levando as certezas dos caminhos.

Quem na vida sempre foi luz, na eternidade sempre será luz.

Em tempos de desconstrução humana, a ausência de mulheres como Irmã Marisa é sem dúvida uma perda, mas o seu legado, cabe a nós que ainda estamos por aqui levar a outros tantos que não tiveram o sabor da sua convivência.

Que sua luz esteja sempre presente entre nós.

Irmã Marisa, Presente, Irmã Marisa Presente!



Aldeir Ferraz

Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...