quinta-feira, 11 de junho de 2020

UM ABRAÇO

As manhãs são muito corridas, mecanicamente fazemos o ritual apressado de sair de casa e ir para o trabalho.
Em uma destas manhãs, no ritimo rotineiro da casa para o trabalho, me deparei com uma cena impactante.
Um abraço entre duas pessoas, a lágrima de um e o consolo do outro. Certamente deveria ser algo que rompeu com a estrutura para fazer alguém desabar.
Este desabar, a estrutura rompida, revela o humano que ainda existe dentre de nós.
O abraço é um remédio poderoso que nos ajuda a se manter firme e poder se levantar diante de uma dor.
Somos carentes do calor do outro, mas negamos isso na normalidade. Somente quando algo forte nos afeta é que notamos a falta que faz.
Mesmo não fazendo parte daquele abraço, me senti abraçado, me senti energizado.
Que surjam mais abraços com frequência e resgatem a humanidade que insistimos em negar.

Aldeir Ferraz

terça-feira, 9 de junho de 2020

CONTO DE FILHO PRA PAI "REZA DOÍDA"

As rezas na roça sempre foram um momento de fé e encontro da comunidade.
Lá na comunidade de São Francisco era assim mesmo, o povo se ajuntava em oração e depois tinha as cantorias, os leilões, a conversa na beira da venda,enfim, verdadeira comun união.
Cada reza ou na maioria das rezas existia o puxador do terço e enquanto ele não chegasse nada começava, até porque a chave da capela ficava na sua responsabilidade.
Zé Ferraz era o responsável em um periodo por animar as noites de oração, mês de maio era agitado, toda noite era aquele movimento.
Uma noite destas o rezador Zé Ferraz se atrasou em casa, pois uma bezerrada tinha se desgarrado e até achar foi um custo. Seus filhos Ailton e Serginho bobearam com os bichos.
Saiu de casa apressado na bicicleta com terço e bíblia no embornal. No primeiro morro que desceu em disparada tomou um tombo. Aquela noite estava muito escura, a lua não deu as caras. Levantou se rapidamente, sacudiu a poeira e seguiu caminho.
Passando pela mata do Tio Joaquim, numa estrada coberta de árvores, em um breu danado, outro acidente. Deu de frente com um senhor a cavalo. Foi bicicleta de um lado, cavalo de outro, biblia e terço no chão.
O susto e a pressa foram grandes, que os dois barbeiros juntaram os seus pertences e cada um foi pro seu rumo sem entender o ocorrido. Seria assombração no meio da mata?Talvez imaginaram desta forma.
Já na capela, o rezador meio mancando entra e inicia o terço pedindo desculpa pelo atraso.
Após a reza, no leilão, um cavaleiro rodeado por pessoas contava o ocorrido na estrada da mata. A sua história era arrepiante, pois reclamando das dores da trombada, dizia ter se esbarrado com um assombração de bicicleta.
É isso aí gente! Quanto mais rezo, mais assombração me aparece.

Aldeir Ferraz

segunda-feira, 8 de junho de 2020

CONTOS DE FILHO PRA PAI " O ARADO"

Na roça era assim, filho já começava cedo na lida. Foi assim lá na casa do Sr Onésimo e a Maria.
Serviço é que não faltava e as tarefas eram distribuidas. Aí de quem não cumprisse. Era uma forma que as familias tinham de buscar a sobrevivência e ao mesmo tempo educar a criançada.
E para o trabalho se tornar prazeiroso a turma de irmãos muitas vezes faziam da lida uma forma de brincadeira e o tempo passava rápido.
Em um destes trabalhos diários, tiveram a missão de preparar a terra para o plantio do feijão e do milho.
Um boi puxava um arado que cortava o solo. Alguém segurava o arado e outro guiava o animal.
Mauricio o filho mais novo, neste dia fazia o papel de guia e quem segurava o arado era o mais velho, conhecido como Zezé.
Mauricio era franzino e  com pouco tempo de serviço já tava com as pernas bambas,mas como dizem os antigos pé de boi é firme na trilha e não para. Foi quando Mauricio deu uma parada repentina e o boi lhe deu uma cabeçada no traseiro, fazendo com que nosso guia caisse de cara na lama.
No primeiro momento veio o susto, mas como não se machucou as gargalhadas foram seguidas e o dia inteiro.
Cuidado com o boi, Mauricio!
A meninada se cansava mas também se divertia muito.

Aldeir Ferraz

sábado, 6 de junho de 2020

MEUS ÓCULOS

O tempo vai avançando e as vistas vão se encurtando. Aí não tem jeito, o óculos passa a ser um acessório fundamental na vida.
Apesar de conseguir ainda diferenciar uma nota de R$100,00 da de R$50,00, por enquanto, as letras miúdas de uma bula de remédio não tem chance.
Sem o óculos fica complicado fazer uma leitura, escrever um texto, enxergar de perto muita coisa, por isso não saio de casa sem ele.
A convivência com o óculos já vem de um bom tempo e agora estou numa fase de começar a perdê-lo.
Já perdi em casa, já perdi no trabalho, já perdi na rua, até já perdi ele sem perder. Haja São Longuinho pra encontrar o abençoado. E São Longuinho já me ajudou muito.
Pra quem não conhece a oração deste santo que acha coisas perdidos é o seguinte:
São Longuinho, São Longuinho, ache meu....( no caso o óculos) e dou 3 pulinhos. E não é que dá certo.
Um dia o óculos estava encima da minha cabeça e não achava de jeito nenhum.
Essa não precisei de chamar o santo, mas aconteceu mesmo.
Bem é isso aí, só sei que não vivo sem ele. E se você ainda não usa, se prepara com a peleja. Ainda mais agora com a pandemia, ter que usar máscara e óculos é um sofrimento danado.

Aldeir Ferraz

terça-feira, 2 de junho de 2020

VIVER É NORMAL, MORRER NÃO

Brasil, 02 de junho de 2020, trinta e um mil seres humanos brasileiros e brasileiras perderam suas vidas com a pandemia do COVID19.
O presidente de plantão se limitou em dizer que lamenta e que é normal que se morra.
Se a morte fosse normal, algo aceitável, não haveria a batalha pela vida.
Existe todo um esforço de uma sociedade que se organiza em um complexo sistema de saúde pública e privada com normas e conceitos de bem viver, pesquisas para se descobrir curas, lutas sem fim para que se alongue a vida e amenise dores. Nada disso é em vão.
Não aceitamos a morte, lutamos para que a vida seja o normal.
Nesta batalha da vida, não  pode haver espaço para os que banilizam a morte, banalizam o sofrimento.
A vida precisa de quem lute por ela.
Vida eterna aos que se dedicam em fazer a  vida o normal.

Aldeir Ferraz


domingo, 31 de maio de 2020

PEDAÇOS

"...Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não para pra que você o conserte."
Um pedaço de O Menestrel de William Shakespeare traz me a refletir sobre este nosso mundo que gira todo dia sem parar.
É muito louco o que acontece. Neste momento alguém pode, em algum canto, estar lamentando uma derrota, uma perda, sofrendo uma dor. 
Quantas vezes ao caminhar pelas ruas já percebi pessoas distantes de si e de todos, atordoadas em seus pensamentos, muitas vezes sem saber para onde ir.
Já estive estes momentos, aliás de vez em sempre tenho. É como se tivessemos em cacos, em pedaços e naquele instante a tentativa de se juntar é dificil, é dolorida.
Mas o mundo gira e todos passam por ti sem se importar por ti.
Colar os seus pedaços é uma tarefa solitária, mesmo que alguém se importe por você.
Não tem jeito, ninguém escapa de uma sensação desta, destruido por dentro e ter que buscar força de se auto reconstruir.
Mas o legal disso é que depois adquirimos o diploma da vida chamado maturidade.
Esta tal maturidade deixa nós com marcas até mesmo fisicas. O olhar torna-se mais firme, as rugas surgem, os cabelos ficam brancos, a voz mais serena, o sorriso é mais seletivo.
Enfim e o mundo gira, uma hora paramos, mas depois precisamos continuar girando também.


Aldeir Ferraz



quarta-feira, 27 de maio de 2020

VONTADE

Oh vontade de deixar a cidade e ir lá pra roça, lá no meu cantinho. Meu Sitio Felicidade.
Que coisa boa que é. De manhã cedinho, aquele frio, a cerração, as galinhas no terreiro.... O galo batendo asas e no seu canto demonstrando quem é o rei do pedaço. Lá na cozinha, o fogão de lenha com a brasa ardendo fervendo a água que irá regrar o café que já está no coador do mancebo.
Nossa mãe! O ar é diferente, o olhar nos enche de satisfação pra todo lugar que se vai. Tudo é verde, tudo é brilhante, tudo é belo.
A água fresquinha da mina, bebida na folha de inhame é revigorante, é cristalino. Daquela mina nasce o córrego que é habitat de peixinhos coloridos que celebram a vida com muita festa.
O curral onde as vacas aguardam os seus bezerros, após terem parte do leite retirado em baldes é um movimento só.
A horta repleta de verduras variadas e ainda molhadas pelo orvalho da madrugada aguardam pra serem colhidas. O quiabo está convidativo.
Os canários com a cantaria se lambuzam no fubá arremessado da janela para o quintal.
E os amigos que passam pela estrada de cavalo ou a pé não deixam de erguer o chapéu e fazer o cumprimento que por lá é normal.
Ai que vontade de ir pra lá e não voltar mais. O almoço com aquele arroz quentinho, o angú de fubá de moinho d´água, o torresmo fritinho, o feijão inteiro vermelhinho...
Na varanda a rede esticada, o rádio ligado e a pinga do lado. Tirar aquele cochilo de leve e acorradar suspirando no meio da tarde.
Na hora do entardecer ir ao oratório e agradecer a Nossa Senhora a vida que é maior do que qualquer riqueza possa ter.
Éh vontade boa! Um dia essa vontade vai virar verdade.
Vou chegar lá! Se Deus quiser! Por hora é só sonhar. Éh vontade danada.

Aldeir Ferraz

Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...