domingo, 3 de julho de 2022

Caixeiro

 "Um bom caixeiro tem que saber embrulhar e amarrar o freguês!"

Assim começa a minha trajetória no mundo do comércio. 

O primeiro conselho dado pelo patrão no primeiro dia de serviço, parecia soar esquisito, mas me trouxe um grande ensinamento pra vida toda.

Era eu, menino franzino, acostumado a andar apenas de calça curta e camiseta, coloquei uma calça comprida de tergal com uma camisa de botão e fui para o meu primeiro emprego de verdade.

Tremulo me apresentei no armazém e ali recebi dicas e uma vassoura pra logo começar a lida varrendo o chão.

A cada vassourada olhava tudo, era um mundo diferente que até então não  tinha nas brincadeiras na rua e na sala da escola.

O balcão enorme, muito comprido, dividia o espaço para o atendimento da freguesia, de um lado o freguês e do outro lado nós, os caixeiros ou balconistas. 

Sobre o balcão tinha jornal velho, barbante, saquinhos de papel de vários tamanhos e a balança de pratos com os pesos ao lado. Cada peso tinha uma gramatura, 50grs,100grs, 500grs, 1kg, 5kg...

No balcão também colocava-se muita mercadoria a disposição para venda como ovos caipira, queijo mineiro, vidro de balas, rapadura...

 No balcão as vezes ficava até apertado para atender os pedidos, o espaço se tornava pequeno. Cada caixeiro procurava se ajeitar e colocar cada item solicitado.

Debaixo do balcão a bagunça se acumulava, era muita correria e não dava muito tempo para a organização.

Com a caneta atrás da orelha, nossa atenção aos pedidos era total. Quilos e quilos eram pesados na balança e com o tempo a habilidade era tanta que na mão tínhamos a noção de cada peso. Por vezes disputávamos quem acertava mais, era o conhecido "mão boa".

Quase não existia produtos embalados como tem hoje. O arroz, o feijão,  o milho,  a açúcar, praticamente tudo passava pela concha.

Com um saquinho de papel em uma mão e a concha na outra o ritmo era frenético, por isso acertar o peso na hora tinha uma importância, pois caso contrário você teria que andar uma distância entre a balança  e o saco onde estava o produto, haja perna.

A caneta que ficava atrás da orelha, a toda era usada pra fazer os cálculos, não existia calculadora e tudo ao final de uma soma tirava-se a prova dos nove que era a garantia da conta certa.

Uma escada era usada para pegar os produtos nas prateleiras de madeira. Subir e descer as escada era uma constância.

.... siga o próximo capitulo

 



domingo, 19 de junho de 2022

As Aventuras de Let

Vamos usar o apelido "Let" para contar esta história, para preservar sua identidade, mas não poderíamos deixar de contar suas aventuras.

Let é conhecida comoba perigote das mulheres, pois é piscar e ela da crau, não perdoa.

Suas amigas de trabalho não contam, mas já tomaram uns passes delas.

Apesar de sua casa ter banheiro com teto espelhado, coisa que poderia ser no teto do quarto, o abatedouro preferido da Let são os moteis.

Let já frenguentou todos da região, até o antigo Bariloche.

Quem vai ao motel sempre tem os seus fetiches, como diz o Wallas e o André, é lugar de passar o rodo, os caras tem experiência nisso.

Falando em passar o rodo, o grande fetiche da Let é esse, passar o rodo.

Todo motel que Let vai, depois do rala e rola, ela liga pra recepção pedindo um pano e um rodo pra limpar o banheiro e o quarto.

Isso que é mania de limpeza, não basta uma parceira limpinha e cheirosa, o quarto também tem que estar nos trinks😍.

quinta-feira, 9 de junho de 2022

HUMANO


Noite fria, o vendo gélido balançava as folhas das árvores no Jardim e da janela podia-se ver que tudo estava em silêncio, quase ninguém se aventurando pelas ruas.

Naquela noite um barulho de uma lixeira sendo revirada por um cachorro chamou a atenção, não pelo que o bagunceiro estava fazendo, mas por uma cena que surgiu logo adiante,um rapaz envolto em um pedaço de papelão e uma garrafa de cachaça ao lado.

Ao avistar de sua janela tal cena, Zé Luiz não pensou duas vezes, desceu e uma blusa de frio, mais um cobertor levou para aquela pessoa.

Estas pessoas que na rua dormem, conhecidos como moradores de rua, já se tornaram parte de um cenário triste que já acostumamos.

Como assim já acostumamos? Ver pessoas ao relento e o pior que cada dia aumenta mais.

Estes vagantes por nossas ruas, são pessoas que perderam a identidade de uma sociedade que deveria prover a todos de casa, comida e trabalho,mas que ao contrário tem aprofundado um sistema em que cria um mundo dos excluídos.

Olhar cenas de homens e mulheres dormindo na rua e não se indignar significa que estamos perdendo a humanidade.

A propósito do nosso Zé Luiz, seu gesto demonstra esperança, pois o que fez, fez sem querer aparecer, faz isso como compromisso cristão.

Comprometer se com o menor dos menores deveria ser a prática de todos, isso se chama santidade, isso é ser humano.


Aldeir Ferraz

domingo, 5 de junho de 2022

O Normal e o Anormal

  Tem coisas que acontecem no dia a dia que classificamos como normal e outras como anormal.

  Existem situações que nos surpreendem como uma pessoa feliz, bem humorada, um bom dia de alguém, uma atitude honesta.

  Atitude honestas então é que nos deixam maravilhados e foi que acontecem próximo ao Supermercado Ferraz.

  Um veiculo esbarrou em um carro parado e acabou que com  o impacto gerou um pequeno amassado na lataria. O motorista que provocou a situação parou e viu o estrago, apesar de simples, procurou o dono do carro, mas não encontrou.

   Como não apareceu ninguém, poderia ter indo embora, mas não foi o que fez. Foi no Supermercado e pediu um papel onde nele escreveu o número do seu telefone com seu nome.

    Pouco tempo depois o dono do carro danificado, que não percebeu o dano, viu o papel no para brisa e se surpreendeu com a atitude.

     O gesto do motorista que deixou o recado fez com que o dono do veiculo danificado ficasse  surpreso e todos que presenciaram aquilo, avaliaram como algo anormal.

      O normal não deveria ser anormal, mas o que acaba acontecendo que o anormal é algo que não é normal, mas que deveria ser normal , ao invés de ser anormal.


Aldeir Ferraz

      

      


segunda-feira, 30 de maio de 2022

VISITAS NA HISTÓRIA


Quando tiramos um tempo pra relembrar o tempo que passou, muita coisa se resgata e os mistérios também se aprofundam.



São poucos que possuem a curiosidade de saber as origens, procurar entender como chegamos até aqui.



Gosto de descobrir sobre o passado, também tenho ansiedade sobre o futuro, mas as histórias contadas pelos mais antigos me trazem uma paixão maior.



Neste final de semana tive a felicidade de acompanhar minha mãe em uma visita na casa da minha madrinha de batismo, Tia Hilda, na comunidade de são Francisco em VRB.



A comunidade de São Francisco tem uma coisa boa ainda, podemos encontrar com muita gente que possuem laços familiares e que guardam muitos casos de um tempo diferente dos que vivemos nos dias de hoje.



Na conversa das duas comadres, tratamento usual de tempos outroras , falou-se de tudo, de saúde, dos remédios caseiros, das épocas de alegrias e de dificuldades.



Em determinado momento, minha madrinha puxou o assunto sobre o pai de minha mãe, o Joaquim Inácio. Muito pouco se sabe dele, tem muito mistério sobre a sua vida. Existem pedaços de história contada por uns e outros, mas coisas bastante vagas.



Minha mãe tinha 03 anos quando ele faleceu e não tem memória do seu semblante, apenas que uma vez, lembra que estava em seu colo, mas não tem memória do seu rosto.



Alguns fatos contados na prosa reafirmam um pouco da personalidade dele, como que era analfabeto e que para saber das horas pedia aos filhos que olhassem o relógio de parede e informasse a ele (este relógio ainda existe). A situação de saber as horas já mostrava como era, pessoa muito severa, pois não falava duas vezes e aí de um dos filhos não desse resposta de pronto.



Minha vó Jovelina temia as reações dele, pois tinha hábitos agressivos quando ingeria bebida alcoólica. Alguns diziam que ele se tornou assim , agressivo, por uso de bebidas batizadas com alguma coisa que alguém colocava e o deixava assim. Já existe outra versão de que um espírito ruim tinha apossado dele. Não existia naquele tempo um tratamento da saúde mental como há hoje, talvez explicaria a sua forma de ser, claro que devemos entender também como era a criação da época, os homens eram rudes.



Morreu novo, deixou uma família grande e apesar de analfabeto não era bobo, adquiriu muitas terras e também tinha capacidade para os negócios.



Minha mãe e minha Tia Palmira, as caçulas da família tiveram passagens de muito aperto com ele, minha Vó Jovelina por vezes tinha que se esconder com as meninas no meio do mato e n o brejo, todas as vezes que ele se tornava agressivo. Tinha ele uma espingarda que dava tiros toda vez que estava transformado.



Num episódio final de sua vida, chegou a dar minha mãe e minha Tia Palmira para adoção de outras famílias. Minha Vó Jovelina sofreu com isso e somente com a morte dele, ela reuniu a sua família de forma completa e foi cuidar das plantações nas propriedades que possuíam.


O retorno das filhas da Dona Jovelina não foi fácil, pois o filho mais velho, Avelino Inácio, que recebeu a missão de sua mãe, de buscá-las, quase não teve êxito, Não queriam devolver, foi preciso engrossar o caldo.



Conta-se também que o Joaquim Inácio comprou uma casa na Chácara onde levou parte dos filhos e sua esposa e que em vida dividiu as terras que adquiriu em vida para os filhos.



Muito mistério ainda existe deste tempo, poucos sabem falar, mas o fato que hoje a família dos Inácios é muito grande e está espalhada por aí.



Todos até hoje têm um profundo respeito pela memória da Dona Jovelina, nossa vó e também carinhosamente tratada como madrinha, que enfrentou muita coisa e criou sua família com dignidade.




Aldeir Ferraz

domingo, 29 de maio de 2022

CREPÚSCULO

Zizizizi! Um grilo, incansável, não permite o silêncio daquela hora.

Um pássaro noturno rompe a noite fria com sonoros gritos de que procura um pouso.

A janela semi aberta e a varanda coberta por telhas de barro destacam se no cenário deste Crepúsculo.

Lá do fundo desta velha casa, da cozinha, proximo ao fogão de lenha, o velho rádio transmite o locutor a falar.

São dezoito horas, hora da Ave Maria e em preces e com voz da aflição clama a Nossa Senhora, rogai por todos nós, os pecadores desta Terra.

Ave Maria 
gratia plena Dominus tecum
Et Benedicta tu in mulieribus
Et Benedictus frutus ventris
Ventris tuis Jesus...


Aldeir Ferraz




sábado, 14 de maio de 2022

E O BOLO?

 Mexer com gente trapalhado é um caso sério.

Que diga a Luciana que aniversariou no sábado do dia 14 maio de 2022.

Como tem que trabalhar e não tem outro jeito, celebrou seu aniversário no serviço,no Supermercado Ferraz.

De cara, uma colega já te pergunta a idade.

Gente, será que ninguém aprendeu ainda, depois do 18 anos não se fala mais a idade.

Mas tudo bem. O problema foi quando rolou um refrigerante abacatinho e aquele parabéns.

Toda emocionada com as palmas dos colegas, Luciana ainda ficou mais encantada quando o André chegou com um bolo doce na mão.

Todos ali vibraram e ela mais ainda. Acontece que terminou o parabéns, o André pegou o bolo de volta e entregou a um rapaz que estava do lado de fora do supermercado aguardando uma carona.

O bolo não era para a Luciana, apenas foi emprestado pra cantar os parabéns.

Foi uma gargalhada só, deram o bolo na Luciana, não lhe deram um bolo.

O problema nesta história é que o bolo foi pra outra festa, agora pode ser considerado um bolo de segunda mão.

E o bolo, meu Deus! Isso que dá ter amigo trapalhado.

Aldeir Ferraz

Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...