domingo, 15 de agosto de 2021

MONJOLO

 E a correnteza da água vinda daquele pequeno córrego fazia movimentar o tronco que levantava e abaixava. 

Na ponta deste tronco, um pilão que ao descer esmagava o milho na cuia, que se tornava o fubá, a farinha de bijú, a canjiquinha....

Este é o monjolo, desconhecido de agora e saudado por quem viveu o seu auge.

O tempo do monjolo era um tempo que tudo passava mais lento e tudo era celebrado.

Minha mãe em suas lembranças contava como era divertido voltar da escola e ver o milho sendo triturado lentamente.

Lá na Dona Nozita Barbosa ( sogra da sua irmã Maria), na comunidade de  São Francisco,  contava ela que era feito a farinha de Bijú. 

Tinha todo um preparo depois do milho esmagado. 

Uma pasta era formada, tinha o momento de peneirar, o momento de secar, o momento de desfazer as placas formadas...

Além de assistir a toda aquela trabalheira, a criançada ganhava uns pedaços de bijú.

Nada desse negócio de guloseimas de hoje, algumas mais caras que outras. O que fazia a alegria era ganhar o bijú e se divertir com o monjolo no seu trabalho  lento e sem fim.

Tempos de fartura e simplicidade.

Aldeir Ferraz



sábado, 14 de agosto de 2021

BANANEIRA DE CACHAÇA

 Tem conto que pra ouvir, tem que dar desconto.

Com meu Tio Deguinho é assim, tem história pra contar sem fim.

De um garrafão de cachaça que ganhou do Reinaldo, meu primo lá de Ipatinga, um mistério surgiu.

Lá no seu quintal o presente enterrou, pois pra todo bom consumidor de cachaça, quanto mais velha, melhor o sabor.

E o tempo passou e ali no lugar onde a cachaça enterrou, uma bananeira brotou.

Estranho acontecimento chamou a atenção. Tio Deguinho que sempre recebia seus amigos,  Zé Pequeno, wallas e Zé Geraldo em sua casa, compartilhou a novidade.

O trio gostava muito de visitar o quintal da casa.

Calados ficaram ao assistir o desenterrar do garrafão debaixo da bananeira.

Aí que o mistério ficou mais complicado, o garrafão intacto, sem nenhum quebrado, estava vazio.

Nesta história contatada ficaram muitas perguntas.

Como nasceu ali uma bananeira?

Será que a bananeira surgiu da cachaça esvaziada do garrafão?

O que o Zé Geraldo, Wallas e Zé Pequeno faziam tanto lá no quintal do Tio Deguinho?


Aldeir Ferraz 







domingo, 8 de agosto de 2021

PENITENTE



O que você faria se soubesse que tudo o que tem de herança é fruto de trapaça,  roubo, morte?

Certamente não se sentiria bem, claro que depende da sua ética. 

A maioria não se sentiria bem, pois a ética que nos é comum, nos faria assim.

O país que vivemos é fruto de trapaça, roubo e mortes dos gentios que aqui habitavam a mais de 500 anos.

Cada palmo de terra ocupada, mesmo que hoje tenhamos escrituras delas, um dia foi tomada a força, na base da violência. O pensamento da época era de construir um novo mundo.

Um novo mundo que destruiu o mundo de outros.

Mas não temos nada haver com isso, era outros tempos, o que passou, passou... Será?

Hoje temos uma sociedade organizada polticamente, economicamente, socialmente e religiosamente incapaz de se penitenciar pelo passado de horror como nos formamos.

Como penitentes precisavamos que nos refizessemos.

Reconhecer a sociedade errante que ainda teimamos ser é um passo.

Somos um povo arrogante demais, falta nos humildade pra fazer deste país uma casa de todos.

Ainda é tempo de sermos penitentes.


Aldeir Ferraz

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

TERÇO DOS BÃO

 


Era os dois chegarem e tava garantido que o terço seria caprichado.

Zé Ferraz e o Tião do Cadico, como era conhecido, tinham o dom da celebração.

As casas por onde passavam enchiam de gente em busca de uma boa oração.

Rezas e cantos religiosos eram com eles.

Suas vozes, formavam um coro que dava pra ouvir de longe. Interessante que sem nenhum  estudo de canto, não desafinavam.

'A nós descei divina luz, a nós descei divina luz, em nossas almas acendei o amor, o amor de Jesus...." refrão de uma canção que adoravam cantar.

Agora tinha um probleminha na reza que os dois puxavam. Os terços deles tinha mais contos do que dos outros, pois as ave marias e os pai nossos eram intermináveis.

Ainda bem que sempre tinha alguém que dava um jeito de parar os dois, se não virava a noite.

Esta dupla hoje está no Céu, certamente junto com os anjos em cantorias e orações.

Tião do Cadico e Zé Ferraz, homens de fé que ajudaram a paz acontecer entre nós.

Salve, Salve!

Aldeir Ferraz

domingo, 1 de agosto de 2021

HISTÓRIAS NÃO CONTADAS

 Um mundo de bilhões de vidas que surgem e desaparecem no tempo seria impossível contar a história de cada um.

Mas cada um tem a sua história vivida e como seria bom que tivesse um registro, alguém que contasse para as gerações que ainda estão por vir.

Amores que foram eternos e tatuados em algum tronco de arvore, desencontros, encontros. 

Pequenas obras de arte, grandes obras de arte que anonimas ficaram.

Mentes brilhantes que se perderam no tempo.

Gente que sumiu neste mundo e que não vemos mais.

É preciso que possamos ouvir, principalmente das velhas vividas suas histórias vividas.

Ouvir e multiplicar.

Aldeir Ferraz




quinta-feira, 29 de julho de 2021

LIDERANÇA

Tenho visto e ouvido muito dessa coisa de liderança.

O líder centralizador, o lider democrático, o líder de coesão, o líder...

Tantos modelos e um complicador que é motivar e fazer com que siga na direção que vai.

Cada vez mais ser um líder ideal é muito dificil.

Tem gente que se acha líder, mas é arrogante, o que sabe tudo, o que tem todas as respostas.

Tem gente que é líder só pra ficar em um pedestal.

Acho que ser líder é ter empatia com os que estão no seu meio.

Compreender o ambiente em que trabalha e ser mais um entre todos colaborando na caminhada te faz líder sem se achar líder.

Aldeir Ferraz

sábado, 24 de julho de 2021

UMA HISTÓRIA DE OLÉ




Ainda na sobriedade da manhã, encontrei em Visconde do Rio Branco, com o Mauro Zoi, antigo sapateiro da cidade.


Há bem tempo ouvia dele e de outros a história do dia em que Mané Garrincha jogou uma partida de futebol nestes cantos da Zona da Mata Mineira.


Da memória desta partida o Mauro não lembra a data, mas não se esquece de que teve a missão de marcar o craque do Botafogo e da Seleção Brasileira.


O jogo teve muitos gols e Garrincha fez um, conta o nosso sapateiro, mas o que mais aviva a sua memória era o confronto dele com o Mané.


Diante do astro, suas pernas tremiam e se desconcertava com os dribles mágicos que o artista da bola fazia, seus ouvidos ainda ecoam os olés gritados pela torcida.


Até hoje é conhecido em Visconde do Rio Branco como o cara que marcou o Mané Garrincha e tomou mil dribles.


Mauro foi na verdade um privilegiado por tentar barrar um dos maiores craques da história do futebol mundial.


Aldeir Ferraz

Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...