terça-feira, 25 de janeiro de 2022

PÃO VELHO

 "Dona tem pão velho?"

"Moço tem sobra de comida?"

Eram falas que ouvia bastante quando era mais novo. Sempre tinha alguém batento na porta em busca de pão velho e sobra de comida.

Achava que existia muita miséria, por isso que haviam muitos miseráveis, no sentido de serem frutos da miséria.

Hoje entendo que os miseráveis são frutos da fartura que o mundo tem, mas que é controlada por gananciosos.


Aldeir Ferraz

domingo, 23 de janeiro de 2022

A VENDA DO SR ZÉ FERREIRA

Era ali, logo depois da igrejinha, perto de um top de morro na comunidade de São Francisco em Visconde do Rio Branco, a Venda do Sr Zé Ferreira.

Tinha de tudo para um venda de roça, secos e mollhados variados, desde o salame no balcão, a linguiça mista pendurada, o refrigerante, o fumo de rolo de corda e desfiado até claro a cachaça.

O Sr Zé Ferreira, pequeno de estatura com a pele surrada pela lida de roça, bigode aparado, ficava na beira do seu balcão sempre pacientemente atendendo a sua freguesia.Ouvia ali muitos "causos" e contava os seus.

Quase todas as noites na igrejinha existia as rezas e logo após, a turma tinha que passar na sua venda, também a escola próxima, tinha a criançada que achegava durante o dia pra comprar balas e pipoca.

O Sr Zé Ferreira gostava de abastecer seu comércio realizando compras no nosso armazém Ferraz.

Gostava de ser atendido pelo Marquinho, mas também eu fazia questão de atendê-lo. A prosa com ele era boa.

Chegava com sua charrete puxado por um belo burro, estacionava na cocheira da rua de trás e seguia para o armazém com chapéu na cabeça e sacos panos para carregar as compras.

Assim que terminava as compras e elas eram embaladas na sacaria de pano, ele logo solicitava:

"Entrega na cocheira, pode deixar na charrete que tem um burro queimado".

Na brincadeira sempre um perguntava se caso chegasse lá só encontrasse cinzas. A risada era geral, mas isso que fazia o prazer da convivência e da amizade.

Recebi ontem a notícia do falecimento do Sr Zé Ferreira, infelizmente tem tempos que não o via, mas nos fragmentos da memória tenho boas lembranças suas.

Siga em paz  Sr Zé Ferreira e se achegue aos muitos amigos e parentes que já estão lá em outra dimensão.

Quem sabe lá exista uma venda de  roça como a de São Francisco para ter muitos "causos" pra contar.

Aldeir Ferraz




sábado, 22 de janeiro de 2022

A VIDA É ABSTRATA

 A vida é interessante. Veja, para que tenhamos ela, precisamos de realizar atividades para produzir alimentos que garantam sua sustentabilidade. Sem as proteínas necessárias a vida acaba.

Nos movemos todos os dias para isso, trabalhar para viver, certo?

Mas a vida humana não é só o real, o concreto da sobrevivência, a vida também é abstrata. Talvez seja mais abstrata do que real.

Passamos todo momento da vida com algo abstrato que nos provoca.

Amor, ódio, raiva, carinho, felicidade, tristeza.... Tudo isso está presente em todo momento que vivemos.

A busca humana é em parte a busca da sobrevivência material, lutamos contra a fome e as doenças, mas somente isso não nos satisfaz.

Nossa realização plena é a realização do abstrato.

Quem tem ódio, quer que esse ódio se espalhe até alcançar e destruir o que lhe provoca.

Quem tem amor, quer que esse amor se transforme em felicidade partilhada.

O ter não é apenas real, o ter te leva as sensações invisíveis.

O ser independe do ter, o ser é inimaginável.

O abstrato nos inquieta e toma conta da maior parte de nossas vidas.

Aldeir Ferraz



sábado, 8 de janeiro de 2022

ESPÍRITOS

 


Manhã chuvosa, na varanda da casa contemplo a paisagem viva da natureza. Pássaros vibrantes com asas abertas no céu efetuando razantes em meio as gotas de chuva vindas das nuvens cinzas e luminosas, árvores, algumas com flores outras sem, balançam seus galhos com as folhas verdes molhadas,ventos suaves vaporizam todo o frescor deste tempinho bom.

Todo este ambiente deixa-nos leve, produz uma paz espiritual que transporta a uma  dimensão de luz.

Dimensão de luz, paz espiritual, este êxtase raramente vivido revela o que de fato somos, espíritos presos em um corpo, encarnados.

A cultura comum não trata este ser espiritual que somos, ao contrário, evitamos a interiorização e vivemos a exteriorização, tudo é imagem, é a aparência, é o status, o resto é miragem, ilusão.

Até Deus é tratado como imagem e semelhança a nossa forma de ser.

Deus como um Grande Espírito se revela não aos olhares exteriores, mas ao nosso interior.

Sentir a chuva, o vento, o som da natureza, perceber o tempo passar bem devagar, os nossos desejos, nossos sentimentos, alegrias, dores...eis o nosso Deus aí, o nosso Grande Espírito acolhedor.

Somos os pequenos espíritos que vivem nessa dimensão interna e externa em busca de uma eternidade.

Nem todos terão a eternidade, pois o que nos mantém vivos espiritualmente é a energia do amor.

Quando essa energia não é alimentada, ela se apaga e o espírito desaparece.

Que o eterno seja o nosso destino, que o amor não se apague nunca.

Aldeir Ferraz


quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

A LISTA


Não foi fácil, realmente o ano de 2021 deixa cicatrizes que dificilmente apagarão.


Por mais resilientes que possamos ser, por mais que miremos o futuro e esqueçamos o passado, haverá algo que sempre incomodará nossa alma.


Tivemos um tempo forte de adoecimento do corpo, revelamos as extremas facetas humanas do bem ao mal.


As lágrimas correram como rios em rostos incrédulos frente a devastadora pandemia que varreu vidas antes de completarem os seus ciclos históricos.


Morrer faz parte do fim de todo vivente, mas nós que acreditamos na vida eterna e hora não, resistimos as reticências, achando tudo ser um ponto final.


A lista de amigos, de parentes, de pessoas que nos davam referência é extensa, ficaram pelo caminho da vida.


Os espíritos dos bons brilham na dimensão do universo, que a memória de todos eles jamais seja esquecida.


Shalom, amém, namastê….


Aldeir Ferraz



domingo, 26 de dezembro de 2021

PEQUENAS EMPRESAS

É consenso no meio dos pequenos empresários da nossa região da mata mineira que 2021 se encerra de forma melancólica.

Apesar de já sabermos do fiasco da macro economia brasileira, a esperança de algo diferente movia os pequenos e micro empresários.

A venda no varejo foi frustrante, pois a renda do trabalhador minguou.

Os hábitos nestes tempos dificeis faz com que o consumo se torne mais criterioso.

Os grandes empresários enxergam isso e calibram seus investimentos avançando sobre o território das pequenas empresas.

Bairros,  aglomerados, pequenas cidades tem recebido investimentos de grandes redes varejistas que buscam abocanhar uma grande parcela da economia que mantém viva muitas pequenas empresas.

Deixar de comprar no armazém do Sr Zé, na farmácia antiga do Sr Carmelio e ir para um grande atacarejo tornou se uma forma de fazer milagre com o pouco de renda que o trabalhador possui hoje.

Nesta guerra de Davis contra os Golias, os pequenos terão que se reinventar.

Contar com os atuais governantes neste momento não dá. Aumento de contas de agua, luz, combustivel .... elevam ainda mais o sofrimento de um setor que gera muita renda.

Apoio para os grandes têm muito, para o pequeno resta a possibilidade da quebradeira ou da sua capacidade de resiliência.

Aí que pode existir o chekmate deste xadrez.

As grandes empresas podem muito, mas não podem tudo.

É hora de analisar o jogo atual e manter se vivo para que dias melhores cheguem e vai chegar, pois não tenho dúvida disso.

Tú vens, tú vens eu já escuto teus sinais...

Aldeir Ferraz


 

domingo, 19 de dezembro de 2021

A PELEJA HUMANA COM O DIVINO

A busca do desconhecido sempre trilhou a humanidade. Existe um mistério cheio de questões sem respostas, apenas achismos.

Certamente não estamos sozinhos neste mundo, tem algo ou alguém nos observando.

Cremos por diversas linhas de pensamentos em um ser invisivel que chamamos de Deus.

Sua forma humana é a crença da grande maioria.

O divino humano vai além na fé popular, acredita-se que seu gênero seja masculino.

E Deus nos fez a sua imagem e semelhança, ou será que nós o fizemos a nossa imagem e semelhança?

A humanidade nunca aceitou ser apenas  parte de um mundo com milhões de outros seres. Sempre quisemos ser o centro, os dominadores do mundo.

Na verdade queremos o papel de Deus e por isso tratamos de o  controlarmos nas religiões.

A religião que deveria ser a ligação com o divino virou uma estrada com pedágio para acessá-lo.

Abrir mão de sentirmos Deus pelo pulsar da vida,  pelo ar, pelo fogo, pela água, ao tocar a terra, ao ver as montanhas, o verde, o horizonte, talvez seja um dos nossos grandes erros.

Querer dominar o indominável tem nos levado a destruição.

A peleja de fazer o papel de Deus nunca nos levará a utopia.

Ouçamos o Grande Espirito da Terra.

Aldeir Ferraz

Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...