quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

ZÉ PEQUENO ENGRAXATE

O telefone tocou, antes de atender verifiquei se não era o terrivel 011, não era, então atendi:

- Alô!

- Fala Aldeir! Aqui é o Zé Pequeno, engraxate da esquina do Pecado, para seu texto que vou contar pra você sobre o comércio da Rua Nova. Engraxei o sapato daquele povo todo dali.

 Naquele região tinha o armazém do seu Tio Jesus e do Luís Monteiro, também os secos e molhados do Aristeu Pires. O Zé Salim tinha material de construção.

O. Armarinho do Foca, onde tinha de tudo em se tratando de confecção. Roupa pra homem, roupa pra mulher, pra criança, pano para costureiras...

O Armazém do Zé Abílio , o Atacado do Zé Rodrigues a distribuidora de bebidas da Antartica que era junto com o Armazém do Bert.

Tinha o Soares que fabricava gaiola, as quitandas do Elcio, Omar, Expedito Ignacthi. A casa do Sr Milton Assis. A esquina do Pecado tinha o bar do Zico Moisés,depois era a loja do Zé Oreia.

Mais pra frente tinha o forró do Arlindo Gastão, Padaria do Zú, pai do Tuca. A casa da Mamãe, era uma lojinha de roupas e presentes.

Tinha a Casa Sarmento, o Banco Nacional, a Ótica Esmeralda, Farmácia do Zé Nilton.

Lembro do Bar do João Ferraz, que depois foi do João Dutra. Seu tio Natalino trabalhou muito tempo ali.

Tinha a Escola Laudelina Baradier e antes do Cabe Um do Didi, uma quitanda que vendia umas maçãs gostosas, trocava jornal velho por revista em quadrinhos.

O Bar do Zé Iasbik, a padaria do Durval Andrade. Foto São João, Foto Carlão.

A Escola de Datilografia Remilton, a Farmacia do Assis.

A maioria das casas eram de pau as pique.

O Supermercado Dular do Zé Machado, a Venda do Osvaldo Capobiango, a quitanda do Amantino, o Açougue do Paulo Rosa.

Os Butecos do Zé Basilio, onde tinha o melhor figuinho, figoticos da região. Os salgados do Sr Zé Dutra, o buteco do Butão já existia.

A casa de ferragens do Mussolini, a loja de material de construção do Luiz Zonta, a sapataria do Naim...

Tinha duas oficinas de bicicleta uma do Zé, vivia fechando cedo pra pescar e a outra...

A livraria Alcântara do Didi, tinha também o Supermercado Bem Bom que ia de uma rua a outra, do Vani.

O Supermercado do Zezinho em uma rua e a quitanda do Zezinho na outra.

A Discolândia onde tinha todos os lançamentos de discos e fita k7 de sucesso.

O meu barbeiro era o JReis, mas tinha o Claudinho Cabelereiro que era para os vips.

Ah!  também tinha a leiteria do Toninho que fazia vitamina, onde dava para saborear um batida de abacate com leite.

A Casa 3 Irmãos, salão do Toninho Barbeiro, Elite Bar, Minas Caixa...

Alguém lembra de mais ?

Êta Zé Engraxate!!!!

Aviso:

Este texto não se prendeu a temporariedade e espaço dos estabelecimentos comerciais, ou seja, não necessariamente existiu ao mesmo tempo.

Isso é apenas a memória de um engraxate que já não tem mais suas unhas pretas.

Aldeir Ferraz





UMA ENTREGA TORTA


Final de sábado e o supermercado Ferraz  ainda movimentado com muitas entregas a serem feitas, dias em que as pessoas com seus salários recebidos correm as compras para não deixar a dispensa vazia.

Na padaria do estabelecimento várias entregas de bolos e tortas encomendas por fazer, sábado também é dia de festas. 

Mateus responsável pela entrega pega as encomendas e como seria a última entrega me chama para ajudar, séria a última viagem.

E lá fui eu segurando um a torta retangular grande  e de olho nas outras dentro do carro até o seu destino que era uma casa em uma rua íngreme, assim fizemos a última entrega para um aniversário.

Voltamos com o sentimento do dever cumprido, mas eis que ao chegar na loja a turma do caixa dá o alerta, a entrega foi trocada, cupons trocados e uma torta redonda que deveria ser entregue na casa que entregamos a retangular ficou para trás e a retangular estava sendo aguardada em outra casa para uma festa de casamento.

Danou-se tudo e logo pensei no casamento, já vi noivo, noiva e até padre atrasar na cerimônia, bolo é primeira vez.

De galope pegamos a torta certa e junto com a Luciana do caixa voltamos a casa da torta errada.

Todo sem graça Mateus chamou  na  casa e nada do povo atender, tava um silêncio, mas a porta estava aberta.

Na aflição adentramos pela  casa afora, o dono estava dormindo no quarto e  nada de acordar, e olha que estava com a TV ligada no jogo do flamengo, devia ser torcedor do fluminense aborrecido; a Luciana da cozinha gritou que a torta estava lá inteira ainda e mais do que depressa fizemos a troca sem o dorminhoco perceber.

Saímos correndo com a torta retangular para o lugar certo que era o casamento, conseguimos chegar a tempo para noiva  cortar o primeiro pedaço que foi oferecido para nós, os entregadores.

Ufa que sufoco, tudo que é situação torta pode indireitar, basta corrigir o erro ,kkk.


Aldeir Ferraz

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

VIZINHO

Um bom ponto, conta com um bom vizinho e isso o Supermercado Ferraz foi abençoado.

E nos 35 anos do Ferraz não poderia deixar de destacar.

Tem coisas na vida que são importantes de mais da conta, vizinho é uma delas. Todos irão concordar que eles são os parentes mais próximos e que até valorizam o local onde se vive.

Faltou o açúcar, faltou o café, pode pedir que sem dúvida te emprestam, se bobear te chamam até para tomar o café quentinho junto.

Graças a Deus sempre tive a felicidade de ter boa vizinhança e lá na casa dos meus pais sempre foi assim. 

Eu era bem moço quando morou do lado da nossa casa um casal que veio da roça e que tinha uma família muito grande, mas que já estavam todos bem criados e tocando a vida com as pernas próprias.

Dona Joaquina e Sr Ampério como boas pessoas que sempre lidaram com a vida do campo, vindo morar na cidade de cara já fizeram no fundo da casa uma horta bem farta.

A nossa divisa com eles era um longo muro de placa e existia um pé de goiaba no meio que tinha galho de um lado e do outro. Dali eu ficava curtinho o plantio e o cuidado dos dois com a horta.

Tinha couve, tinha almeirão, tinha alface, cebolinha, salsinha, até pé de tomate, claro que também havia plantas que curavam de tudo, boldo, macaé, losna, pé de galinha...

De manhã a mãe sempre ia lá buscar verduras frescas para o almoço, outras vezes eu ou alguns dos meu irmãos que buscávamos, quando não dava pra ir , pedia pelo muro:

- Oh Dona Joaquina, Oh Sr Ampério...

Você pensa que chamávamos só pra isso , claro que não, tinha hora que a bola caia lá no quintal deles, aí a gente gritava também.

A frente da casa deles tinha uma janela que o velho Ampério gostava de ficar e para prosear com os conhecidos.

Lá de dentro ele sempre gritava para os que passavam na sua calçada.

- Chega mais, vem aqui tomar um pescoção!

Um dia me assustei com aquilo e longo imaginei,  êta homem bravo, mas logo me chamou também e como curioso e as pernas finas, eu fui, qualquer coisa dava no galope.

Mas lá tinha uma turma em volta dele rindo , espirrando e logo ele me ofereceu:

- Quer Também? E enfiando sua mão no bolso da calça, aliás um bolso enorme, retirou uma latinha, abriu e levou perto do meu nariz.

- Assusta não que é rapé.

Na mesma hora dei aquele espirro de estremecer.

Reparei que aquilo era como um ritual, mais do que um vício, pois os espirros provocados dava uma limpeza não apenas física mas espiritual, aquela sensação de alívio, de leveza

Depois daquela, toda vez que o encontrava pedia um pescoção.

Êta tempo bom!


Aldeir Ferraz 

DESCONSTRUÇÃO


Nascemos de uma construção, célula por célula nos formamos ainda dentro do ventre da mãe em um pequeno ser que ganha o mundo em um parto.

Já do lado de fora na imensidão deste mundo continuamos a nossa construção. O corpo pequeno de bebê vai evoluindo, torna-se criança, jovem e adulto.

Nessa construção, da inocência rumamos para a maturidade numa evolução do aprendizado daquilo que nos cerca em nossa volta, ou seja, somos a cultura do meio em que convivemos.

Pode ser que a construção cultural sofra alterações em virtude de uma outra forma de viver, apesar de nossa personalidade ser dificilmente mutável.

Em um determinado momento da nossa evolução/construção o inverso começa a acontecer, a desconstrução.

Com avançar da idade começamos a nos desconstruir, células morrem mais do que nascem, energias adquiridas já começam a se esvair.

dos primeiros passos e as correrias cotidianas, a lentidão começa a dominar.

Todas as afirmações que defendíamos, já não defendemos mais com convicção;

A coragem de avançar no tempo, já é substituída pelo medo de avançar;

A certeza é trocada pelo talvez;

Os desejos somem diante das lamentações;

Mas existe algo teimoso que só cresce e não regride, os sonhos.

Os sonhos, ah! Os sonhos estes não param.

Porque se chamava moço

Também se chamava estrada

Viagem de ventania

Nem se lembra se olhou pra trás

Ao primeiro passo, aço, aço

Aço, aço, aço, aço, aço, aço

E cá estou, 49 anos no caminho da desconstrução.

E lá se vai mais um dia



Aldeir Ferraz




ALEGRIA

 Duas considerações para escrever este texto:

A primeira é que resolvi reforçar minha memória com omega 3, pois muita coisa boa se perde ao longo do tempo.

A segunda, resolvi colocar o titulo do texto de "Alegria" porque este cara que vou falar era isso mesmo.

José Alves Pereira, um negão que transmitia boas energias, assim como toda sua familia que sempre estavam fazendo suas compras no Ferraz.

Dono de uma simplicidade e de uma vida dura de trabalhador, deixava a todos nós com a alegria de viver.

Alguns histórias recordo dele, como aos sábados durante suas compras pedia sempre o sabonete mais cheiroso, na época o Vinólia. Fazia questão de andar perfumado.

O perfume segundo ele, era para ir sabado a noite buscar pão na padaria. Pão fresquinho Domingo de manhã era outra coisa. Só que ele virava a noite no forró e era de manhã que chegava em casa.

Quando perguntávamos a ele se a esposa não ficava brava, respondia que a culpa era do padeiro que esquecia sempre de fazer a massa do pão crescer.

O Zezé, como seus irmãos lhe chamavam, gostava da vida, falava que não queria morrer. Seria preciso juntar uns quatro homens fortes para subir o morro e levá-lo para o cemitério, pois não iria de forma alguma com suas próprias pernas.

Salve José Alves Pereira, Salve toda sua Familia, Salve sua Alegria.

Que lá do Céu mande sempre boas energias para todos nós.

Aldeir Ferraz


domingo, 7 de fevereiro de 2021

GATO POR LEBRE

 Como diz o Netinho: 

" A história não foi assim, foi mais ao menos assm! " Então se assim dá pra contar.

Nossa testemunha ocular da história dos 35 anos do FERRAZ, Wallas,revelou a história da Dona Nenê.

Ela morava ali no terreno do Zé Leopoldo ao lado da garagem da Oran uma casa simples e bem pequena.

Gostava de comprar no armazém Ferraz pela forma carinhosa como era recebida, principalmente pelo atendimento do Nezinho.

Este atendimento fazia com que ela retribuisse sempre de alguma forma.

 Segundo o Wallas, toda vez que a D.Nene passava no mercado trazia carne para o Nesinho, depois ficamos sabendo que era carne de gato.

Será verdade ou apenas intriga de quem tinha ciumes do carinho.

Aldeir Ferraz


Paraguaio e Tibúrcio

 


Fim de tarde , sexta feira e lá no armazém já começava a movimentação do povo para fazer as compras, garantir as latas cheias com o dinheiro recebido da dura lida da semana.

Com facões e enxadas ainda sujos de terra de tanta campina muitos chegavam em suas bicicletas surradas ou nos caminhões que tinham suas carrocerias loadas com aquela gente.

A roupa da turma do corte de cana cobria todo o corpo para evitar os arranhões das palhas, era a moda da hora, não se ia em casa para colocar uma vestimenta melhor pois a pressa de abastecer de comida a casa era prioridade.

O centro da cidade de Visconde Do Rio Branco se alegrava, tinha muito sorriso em meio a  vida dura exposta no rosto aranhado e sujo de carvão de cada homem e mulher.

No meio daquele movimento todo a beira do balcão do armazém cada um pedia seus mantimentos:

- Dez kilos de arroz, 3 kg fubá, , macarrão, massa de tomate, 1 kg de sal, 100grs pimenta, 5 sabão coringa, 01 garrafa de querosene...

O dinheiro era pouco não tinha muito o que comprar, mas o fumo de rolo não faltava e também a linguiça mista que ficava pendurada em um varal improvisado por cima do balcão.

Entre os fregueses que atendia, tinha uma alegria de dar assistência a dois em especial, Paraguaio e Tibúrcio.

Não era nenhuma dupla caipira, nem tampouco artistas de humor, mas quando chegavam a festa estava feita.

Impressionante como sabiam lidar com as dificuldades da vida, brincavam com tudo e com todos.

Uma canção inventada já era o anúncio da chegada deles na porta do armazém:

" Ah se Deus me ouvisse e mandasse pra mim 02 kg de carne e 01 kg de tocin  deixaria minha tristeza e faria feliz os meus fios barrigudin.... "

O Paraguaio  era cantador e tinha um violão em casa e junto com Tibúrcio vez ou outra davam uma palinha lá na comunidade onde moravam.

Tinham muitas histórias pra contar e ali atendendo ao seus pedidos viajávamos nos causos contados.

Uma riqueza que não se mede é a oportunidade de conhecer pessoas com simplicidade, alegria e energia para viver em meio as dificuldades.


Aldeir Ferraz

Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...