segunda-feira, 30 de maio de 2022

VISITAS NA HISTÓRIA


Quando tiramos um tempo pra relembrar o tempo que passou, muita coisa se resgata e os mistérios também se aprofundam.



São poucos que possuem a curiosidade de saber as origens, procurar entender como chegamos até aqui.



Gosto de descobrir sobre o passado, também tenho ansiedade sobre o futuro, mas as histórias contadas pelos mais antigos me trazem uma paixão maior.



Neste final de semana tive a felicidade de acompanhar minha mãe em uma visita na casa da minha madrinha de batismo, Tia Hilda, na comunidade de são Francisco em VRB.



A comunidade de São Francisco tem uma coisa boa ainda, podemos encontrar com muita gente que possuem laços familiares e que guardam muitos casos de um tempo diferente dos que vivemos nos dias de hoje.



Na conversa das duas comadres, tratamento usual de tempos outroras , falou-se de tudo, de saúde, dos remédios caseiros, das épocas de alegrias e de dificuldades.



Em determinado momento, minha madrinha puxou o assunto sobre o pai de minha mãe, o Joaquim Inácio. Muito pouco se sabe dele, tem muito mistério sobre a sua vida. Existem pedaços de história contada por uns e outros, mas coisas bastante vagas.



Minha mãe tinha 03 anos quando ele faleceu e não tem memória do seu semblante, apenas que uma vez, lembra que estava em seu colo, mas não tem memória do seu rosto.



Alguns fatos contados na prosa reafirmam um pouco da personalidade dele, como que era analfabeto e que para saber das horas pedia aos filhos que olhassem o relógio de parede e informasse a ele (este relógio ainda existe). A situação de saber as horas já mostrava como era, pessoa muito severa, pois não falava duas vezes e aí de um dos filhos não desse resposta de pronto.



Minha vó Jovelina temia as reações dele, pois tinha hábitos agressivos quando ingeria bebida alcoólica. Alguns diziam que ele se tornou assim , agressivo, por uso de bebidas batizadas com alguma coisa que alguém colocava e o deixava assim. Já existe outra versão de que um espírito ruim tinha apossado dele. Não existia naquele tempo um tratamento da saúde mental como há hoje, talvez explicaria a sua forma de ser, claro que devemos entender também como era a criação da época, os homens eram rudes.



Morreu novo, deixou uma família grande e apesar de analfabeto não era bobo, adquiriu muitas terras e também tinha capacidade para os negócios.



Minha mãe e minha Tia Palmira, as caçulas da família tiveram passagens de muito aperto com ele, minha Vó Jovelina por vezes tinha que se esconder com as meninas no meio do mato e n o brejo, todas as vezes que ele se tornava agressivo. Tinha ele uma espingarda que dava tiros toda vez que estava transformado.



Num episódio final de sua vida, chegou a dar minha mãe e minha Tia Palmira para adoção de outras famílias. Minha Vó Jovelina sofreu com isso e somente com a morte dele, ela reuniu a sua família de forma completa e foi cuidar das plantações nas propriedades que possuíam.


O retorno das filhas da Dona Jovelina não foi fácil, pois o filho mais velho, Avelino Inácio, que recebeu a missão de sua mãe, de buscá-las, quase não teve êxito, Não queriam devolver, foi preciso engrossar o caldo.



Conta-se também que o Joaquim Inácio comprou uma casa na Chácara onde levou parte dos filhos e sua esposa e que em vida dividiu as terras que adquiriu em vida para os filhos.



Muito mistério ainda existe deste tempo, poucos sabem falar, mas o fato que hoje a família dos Inácios é muito grande e está espalhada por aí.



Todos até hoje têm um profundo respeito pela memória da Dona Jovelina, nossa vó e também carinhosamente tratada como madrinha, que enfrentou muita coisa e criou sua família com dignidade.




Aldeir Ferraz

domingo, 29 de maio de 2022

CREPÚSCULO

Zizizizi! Um grilo, incansável, não permite o silêncio daquela hora.

Um pássaro noturno rompe a noite fria com sonoros gritos de que procura um pouso.

A janela semi aberta e a varanda coberta por telhas de barro destacam se no cenário deste Crepúsculo.

Lá do fundo desta velha casa, da cozinha, proximo ao fogão de lenha, o velho rádio transmite o locutor a falar.

São dezoito horas, hora da Ave Maria e em preces e com voz da aflição clama a Nossa Senhora, rogai por todos nós, os pecadores desta Terra.

Ave Maria 
gratia plena Dominus tecum
Et Benedicta tu in mulieribus
Et Benedictus frutus ventris
Ventris tuis Jesus...


Aldeir Ferraz




sábado, 14 de maio de 2022

E O BOLO?

 Mexer com gente trapalhado é um caso sério.

Que diga a Luciana que aniversariou no sábado do dia 14 maio de 2022.

Como tem que trabalhar e não tem outro jeito, celebrou seu aniversário no serviço,no Supermercado Ferraz.

De cara, uma colega já te pergunta a idade.

Gente, será que ninguém aprendeu ainda, depois do 18 anos não se fala mais a idade.

Mas tudo bem. O problema foi quando rolou um refrigerante abacatinho e aquele parabéns.

Toda emocionada com as palmas dos colegas, Luciana ainda ficou mais encantada quando o André chegou com um bolo doce na mão.

Todos ali vibraram e ela mais ainda. Acontece que terminou o parabéns, o André pegou o bolo de volta e entregou a um rapaz que estava do lado de fora do supermercado aguardando uma carona.

O bolo não era para a Luciana, apenas foi emprestado pra cantar os parabéns.

Foi uma gargalhada só, deram o bolo na Luciana, não lhe deram um bolo.

O problema nesta história é que o bolo foi pra outra festa, agora pode ser considerado um bolo de segunda mão.

E o bolo, meu Deus! Isso que dá ter amigo trapalhado.

Aldeir Ferraz

domingo, 1 de maio de 2022

TIO DEGUINHO E A CANOA FURADA

Muita gente não conhece,mas o Zé Pequeno conhece o Tanque Grande, lá no alto da Serra de Santa Maria em Visconde do Rio Branco, um lago enorme e cheio de histórias pra contar.

Falei do Zé pequeno, pois trabalhou lá encima para o Aécio, que não é o Neves, que tinha uma fábrica de iogurte, foi um dos primeiros a produzir o produto na nossa região, aliás eram deliciosos, mais do que os de hoje.

Mas a nossa história é com o Tio Deguinho, que morava lá para os lados da Cachoerinha e Roça Alegre, divisa de VRB com Ubá, região hoje de muita gente da familia Freitas.

Sujeito novo, barba preta, nas horas de folga que seu pai Onésimo lhe dava, caçava um jeito de se divertir.

Naquele tempo ou você procurava um forró  para curtir Tonico e Tinoco, Cascatinha e Yana, um Luiz Gonzaga ou partia para uma pescaria, como dizem "tá nervoso vai pescar", mas o Tio Deguinho sempre foi calmo, pescava não pra se acalmar, mas pra dar uma pitada num cigarrinho de palha, aliás lá na roça plantavam fumo.

Voltando ao Tanque Grande, conta ele que certa vez foi pescar com alguns amigos e partiram de cavalo lá pro alto de Santa Maria.

Como toda aventura tem um grau de emoção, depararam com uma canoa abandonada na beira da lagoa e não satisfeitos de pescarem na beira daquele aguaceiro, resolveram remar com a  embarcação para outras bandas onde os peixes maiores ficavam.

E lá se foram os amigos, era madrugada e tudo escuro, mas estavam tendo sucesso de pegar os peixes, alguns enormes, não vou falar o tamanho, se não irão dizer que é conversa de pescador.

Com o barco cheio, os aventureiros começaram a ter problemas, não é que o trem começou a afundar?

No escuro, cheio de peixes pescados e um garrafão de cahaça, viram que estavam em apuros.

Pular e nadar até a beira do lago seria a solução, mas e os jacarés? lá tinha muito jacaré, dizia minha Vó. Não ira rolar essa opção.

A saída foi uma lata vazia de massa de tomate que o Tio Deguinho trouxe para beber cachaça.

Com a latinha e muita rapidez o Tio Deguinho foi retirando a água da canoa, enquanto os outros amigos remavam, tiveram que jogar os peixes de volta pra lagoa e também o garrafão de pinga pra aliviar o peso.

Após muito aperto, conseguiram chegar na beira do lago e aliviados com o susto pegaram os cavalos e partiram pra casa com as mãos vazias.

Ufa! que Canoa furada foi essa.

Aldeir Ferraz


Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...