quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

UAI

Uai!

Levantei bem cedo e quando coloquei o pé no chão, não encontrei meus chinelos.

Uai! Tava aqui e não está mais?

Abro a janela para que a luz do Sol entre em casa, quando olho lá no céu, as nuvens carregadas.

Ua!? Vai chover?

A campainha de casa, vou atender e a visita que chega me deixou surpreso.

Uai! Você aqui?

O almoço estava caprichado e tive que elogiar.

Uai sô, que trem bão! 

Enfim, esse uai é mais do que uma palavra, é filosofia de vida.

Num é que mesmo, uai!?

Aldeir Ferraz




terça-feira, 25 de janeiro de 2022

PÃO VELHO

 "Dona tem pão velho?"

"Moço tem sobra de comida?"

Eram falas que ouvia bastante quando era mais novo. Sempre tinha alguém batento na porta em busca de pão velho e sobra de comida.

Achava que existia muita miséria, por isso que haviam muitos miseráveis, no sentido de serem frutos da miséria.

Hoje entendo que os miseráveis são frutos da fartura que o mundo tem, mas que é controlada por gananciosos.


Aldeir Ferraz

domingo, 23 de janeiro de 2022

A VENDA DO SR ZÉ FERREIRA

Era ali, logo depois da igrejinha, perto de um top de morro na comunidade de São Francisco em Visconde do Rio Branco, a Venda do Sr Zé Ferreira.

Tinha de tudo para um venda de roça, secos e mollhados variados, desde o salame no balcão, a linguiça mista pendurada, o refrigerante, o fumo de rolo de corda e desfiado até claro a cachaça.

O Sr Zé Ferreira, pequeno de estatura com a pele surrada pela lida de roça, bigode aparado, ficava na beira do seu balcão sempre pacientemente atendendo a sua freguesia.Ouvia ali muitos "causos" e contava os seus.

Quase todas as noites na igrejinha existia as rezas e logo após, a turma tinha que passar na sua venda, também a escola próxima, tinha a criançada que achegava durante o dia pra comprar balas e pipoca.

O Sr Zé Ferreira gostava de abastecer seu comércio realizando compras no nosso armazém Ferraz.

Gostava de ser atendido pelo Marquinho, mas também eu fazia questão de atendê-lo. A prosa com ele era boa.

Chegava com sua charrete puxado por um belo burro, estacionava na cocheira da rua de trás e seguia para o armazém com chapéu na cabeça e sacos panos para carregar as compras.

Assim que terminava as compras e elas eram embaladas na sacaria de pano, ele logo solicitava:

"Entrega na cocheira, pode deixar na charrete que tem um burro queimado".

Na brincadeira sempre um perguntava se caso chegasse lá só encontrasse cinzas. A risada era geral, mas isso que fazia o prazer da convivência e da amizade.

Recebi ontem a notícia do falecimento do Sr Zé Ferreira, infelizmente tem tempos que não o via, mas nos fragmentos da memória tenho boas lembranças suas.

Siga em paz  Sr Zé Ferreira e se achegue aos muitos amigos e parentes que já estão lá em outra dimensão.

Quem sabe lá exista uma venda de  roça como a de São Francisco para ter muitos "causos" pra contar.

Aldeir Ferraz




sábado, 22 de janeiro de 2022

A VIDA É ABSTRATA

 A vida é interessante. Veja, para que tenhamos ela, precisamos de realizar atividades para produzir alimentos que garantam sua sustentabilidade. Sem as proteínas necessárias a vida acaba.

Nos movemos todos os dias para isso, trabalhar para viver, certo?

Mas a vida humana não é só o real, o concreto da sobrevivência, a vida também é abstrata. Talvez seja mais abstrata do que real.

Passamos todo momento da vida com algo abstrato que nos provoca.

Amor, ódio, raiva, carinho, felicidade, tristeza.... Tudo isso está presente em todo momento que vivemos.

A busca humana é em parte a busca da sobrevivência material, lutamos contra a fome e as doenças, mas somente isso não nos satisfaz.

Nossa realização plena é a realização do abstrato.

Quem tem ódio, quer que esse ódio se espalhe até alcançar e destruir o que lhe provoca.

Quem tem amor, quer que esse amor se transforme em felicidade partilhada.

O ter não é apenas real, o ter te leva as sensações invisíveis.

O ser independe do ter, o ser é inimaginável.

O abstrato nos inquieta e toma conta da maior parte de nossas vidas.

Aldeir Ferraz



sábado, 8 de janeiro de 2022

ESPÍRITOS

 


Manhã chuvosa, na varanda da casa contemplo a paisagem viva da natureza. Pássaros vibrantes com asas abertas no céu efetuando razantes em meio as gotas de chuva vindas das nuvens cinzas e luminosas, árvores, algumas com flores outras sem, balançam seus galhos com as folhas verdes molhadas,ventos suaves vaporizam todo o frescor deste tempinho bom.

Todo este ambiente deixa-nos leve, produz uma paz espiritual que transporta a uma  dimensão de luz.

Dimensão de luz, paz espiritual, este êxtase raramente vivido revela o que de fato somos, espíritos presos em um corpo, encarnados.

A cultura comum não trata este ser espiritual que somos, ao contrário, evitamos a interiorização e vivemos a exteriorização, tudo é imagem, é a aparência, é o status, o resto é miragem, ilusão.

Até Deus é tratado como imagem e semelhança a nossa forma de ser.

Deus como um Grande Espírito se revela não aos olhares exteriores, mas ao nosso interior.

Sentir a chuva, o vento, o som da natureza, perceber o tempo passar bem devagar, os nossos desejos, nossos sentimentos, alegrias, dores...eis o nosso Deus aí, o nosso Grande Espírito acolhedor.

Somos os pequenos espíritos que vivem nessa dimensão interna e externa em busca de uma eternidade.

Nem todos terão a eternidade, pois o que nos mantém vivos espiritualmente é a energia do amor.

Quando essa energia não é alimentada, ela se apaga e o espírito desaparece.

Que o eterno seja o nosso destino, que o amor não se apague nunca.

Aldeir Ferraz


Vá na Fé Mestre Dão

O caminho agora é outro! Nossa! Quanto chão ficou pra trás. Lá na roça a quantidade de dias de Sol que tomou no lombo. Os calos na mão, cres...