domingo, 12 de setembro de 2021

A medida da vida na vara de um bambú

 A medida da vida na vara de um bambú


A morte tinha um ritual de preparação bem diferente do que é hoje.


O defunto corpo mal se esfriava e com uma vara de bambú o seu tamanho era atestado.


Na serraria as tábuas cortadas sobre medida e os pedaços de pano afixados com grampos formavam o último leito.


Não tinha hora, era a qualquer hora e com pressa, mas com respeito a encomenda era entregue.


Em um banco de madeira, no aguardo o corpo sem vida esperava, agora sem a impaciência de quando vivo.


Flores, pouco tinha, a não ser o infortuito fosse em tempos de primavera, no outono o melhor terno ou vestido é que levava o destaque para o velado.


A morte mais do que  reunia as pessoas para a despedida, era um evento.


 Era uma obrigação se fazer presente com  orações, indo nas rodas de conversas, tomando a aguardente que não faltava para quem virava a noite.


A alça do caixão era disputada e na cova já preste a ser fechada, a tradição de jogar alguns terrões era sagrada.


E a vara de bambú em um canto ficava a espera de nova medida para  quem sabe, alguém que do velório de despedida fez presente e do lado  dos vivos.


Aldeir Ferraz

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