A medida da vida na vara de um bambú
A morte tinha um ritual de preparação bem diferente do que é hoje.
O defunto corpo mal se esfriava e com uma vara de bambú o seu tamanho era atestado.
Na serraria as tábuas cortadas sobre medida e os pedaços de pano afixados com grampos formavam o último leito.
Não tinha hora, era a qualquer hora e com pressa, mas com respeito a encomenda era entregue.
Em um banco de madeira, no aguardo o corpo sem vida esperava, agora sem a impaciência de quando vivo.
Flores, pouco tinha, a não ser o infortuito fosse em tempos de primavera, no outono o melhor terno ou vestido é que levava o destaque para o velado.
A morte mais do que reunia as pessoas para a despedida, era um evento.
Era uma obrigação se fazer presente com orações, indo nas rodas de conversas, tomando a aguardente que não faltava para quem virava a noite.
A alça do caixão era disputada e na cova já preste a ser fechada, a tradição de jogar alguns terrões era sagrada.
E a vara de bambú em um canto ficava a espera de nova medida para quem sabe, alguém que do velório de despedida fez presente e do lado dos vivos.
Aldeir Ferraz
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