MORINGA D`ÁGUA
As férias e finais de semana sempre foram celebradas com alegria lá em casa pois era a possibilidade de irmos para a casa da nossa Vó lá na roça.
A chegada do Tio Joaquim com seu cavalo em uma charrete nos enchia de ansiedade e logo pedíamos a Mãe para que fossemos passar alguns dias em meio a natureza.
Encima da charrete nos ajeitávamos sendo os menores na frente e atrás os irmãos mais velhos viajavam de costas, coisa que dava inveja pois os pés iam arrastando no chão e se assistia dali a estrada se afastando, era muito mágico aquilo.
Chegando na casa da nossa Vó , nossa querida Madrinha, já se via fumaça na chaminé, algo estava sendo preparado.
Entrando pela cozinha , com os cachorros na porta eramos recebidos com bençãos, abraços e uma deliciosa broa de fubá e um café quentinho.
No quarto em que ficávamos tudo estava pronto, arrumado com carinho, os travesseiros, a coberta, um pinico debaixo da cama, aliás era uma cama enorme que dava pra dormir todos juntos.
Do lado da cama por cima de uma mesinha havia uma moringa com água fresquinha e que era colocada todas as noites por nossa Vó.
O interessante daquela moringa ali deixada é o ritual que se fazia, pois mesmo se ela tivesse cheia, sua água era trocada.
Uma vez meu irmão Sérgio perguntou para a Madrinha por que de trocar água se a mesma estava conservada e havia ainda bastante o suficiente para se precisar bebermos.
A Madrinha lhe respondeu que aquela moringa d`água não era apenas para nós.
A curiosidade bateu e perguntamos para mais quem a água era servida e logo veio a resposta com uma história:
Todas as noites os nossos espíritos também sentem sede e se água aqui não tiver, e se não for bem fresca , vagarão até a beira do córrego e lá com água suja pra beber se afogarão e juntos você também morrerão.
Uma Vó protetora é assim, que bons tempos.
Aldeir Ferraz
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